'Hipocrisia': Sul Global critica Ocidente por condenar Rússia mas dar apoio incondicional a Israel

27/10/23

EUA e Europa entram na mira de líderes e da opinião pública de países emergentes que questionam 'posições conflitantes' com relação a conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio Por 20 meses, o governo do presidente americano, Joe Biden, buscou estabelecer uma "superioridade moral" em relação à Rússia, condenando a guerra brutal contra a Ucrânia e a morte indiscriminada de civis. O argumento ressoou em grande parte do Ocidente, mas teve menos força em outras partes do mundo.

No Sul Global, a guerra foi muitas vezes percebida como um conflito entre grandes potências e não houve adesão a sanções e ao isolamento de Moscou defendido por Washington. Agora, enquanto Israel bombardeia a Faixa de Gaza, matando mais de 4,3 mil pessoas desde 7 de outubro, o apoio inabalável de Biden aos israelenses corre o risco de criar novos obstáculos aos seus esforços para conquistar a opinião pública global.

Em discurso no Salão Oval da Casa Branca, na quinta-feira, Biden igualou o apoio americano à Ucrânia e a Israel, descrevendo as duas nações como democracias que lutam contra inimigos determinados a "aniquilá-los completamente". A Rússia invadiu e pretende anexar parte do territóiro da Ucrânia, enquanto o Hamas, grupo que controla Gaza e nega o direito de existência de Israel, deflagrou um ataque terrorista que matou pelo menos 1,4 mil pessoas no sul do país.

Mas o contra-ataque de Israel a Gaza, a iminente uma invasão terrestre em larga escala e o forte apoio dos EUA ao seu mais importante aliado no Oriente Médio, independentemente disso, motivaram acusações de hipocrisia.

Tais acusações não são propriamente novas no conflito do Oriente Médio. Mas a dinâmica da crise dupla foi além do desejo de Washington de reunir apoio global para isolar e punir a Rússia por invadir o seu vizinho europeu.

Cada vez mais, o Oriente Médio se torna uma frente renovada na luta por mais influência no Sul Global, opondo o Ocidente à Rússia e à China.

— A guerra no Oriente Médio aumenta o fosso crescente entre o Ocidente e países como o Brasil e a Indonésia, estados-chave do Sul Global — afirmou Clifford Kupchan, presidente da organização de avaliação de risco Eurasia Group. — Isso tornará a cooperação internacional na Ucrânia, assim como a aplicação de sanções à Rússia, ainda mais difícil.

Críticas de Lula e Widodo

O presidente da Indonésia, Joko Widodo, líder da nação muçulmana mais populosa do mundo — e que não reconhece Israel —, condenou as "injustiças em curso contra o povo palestino". "A guerra em Gaza só irá piorar a situação global", disse ele, ameaçando apoiar o aumento dos preços do petróleo depois de a guerra na Ucrânia já ter desacelerado as exportações de trigo.

No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o fornecimento de armas dos EUA à Ucrânia como "incentivo" à guerra, mas culpou os dois lados pelo conflito e ofereceu-se para mediar. O Brasil, como presidente rotativo do Conselho de Segurança das Nações Unidas este mês, elaborou uma resolução de cessar-fogo humanitário em Gaza, que também condenou explicitamente "hediondos ataques terroristas do Hamas".

Fonte: New York Times