O governo argentino se comprometeu a regularizar o fluxo de pagamento dos exportadores brasileiros, informou ontem o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges.
Segundo ele, o Banco Central argentino aceitou que seja feito o pagamento à vista de todas as vendas que foram feitas pelo Brasil. Na visão do governo brasileiro, a decisão política de Buenos Aires elimina o principal entrave ao comércio bilateral, mas as negociações continuarão nas próximas semanas.
As conversas incluem outros aspectos, como o pedido da Argentina de contrapartidas para aumentar as vendas, sobretudo de autopeças, para o Brasil. O setor automotivo não vê com bons olhos esse pedido porque considera que o cumprimento de metas depende de uma recuperação das vendas de automóveis nos mercados domésticos. Interlocutores que participam das negociações admitem que as exigências argentinas podem dificultar o fechamento de um acordo mais à frente. Mas afirmam que, neste momento, é muito importante a normalização das exportações e do fluxo de pagamentos. O compromisso argentino foi assumido na semana passada, quando Borges e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, receberam seus pares argentinos em Brasília.
Os importadores argentinos precisam depositar no Banco Central do país os pesos para pagamento das suas compras. A moeda local é convertida pelo BC em dólar para pagamento da empresa exportadora no Brasil. Como a Argentina estava com problemas de divisas, o governo estava limitando a saída de moeda do País. Por isso, as empresas brasileiras, principalmente as montadoras, estavam preocupadas com o represamento dos pagamentos.
"O BC argentino concordou que todos os depósitos das importações fossem feitos à vista no BC para posterior transformação em dólar. Uma vez que aceitaram que esse mecanismo fosse feito, não tem problema do ponto de vista da preocupação anterior do setor privado. A conversão cambial é obrigação por lei e o Banco Central vai honrar essa obrigação", disse o ministro Mauro Borges.
Diálogo. Desde o início do ano, o governo brasileiro tem negociado uma solução para alavancar o comércio bilateral. Foi assinado um memorando de entendimento para a criação de uma linha de financiamento de bancos privados brasileiros para financiar as importações argentinas provenientes do Brasil.
O governo brasileiro propôs usar o Fundo de Garantia à Exportação (FGE) para viabilizar as linhas de crédito porque as instituições financeiras exigiram garantias de que vão receber o pagamento do crédito.
A ideia do governo brasileiro é fazer as operações dentro do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR),um sistema de compensação de pagamentos que é administrado pelos bancos centrais. Em caso de inadimplência da Argentina, o FGE será o garantidor final.
Reuniões. Os negociadores argentinos querem fixar metas de ampliação das vendas para o Brasil. Na terça-feira, o setor automotivo brasileiro apresentará ao ministério uma proposta para a integração do comércio bilateral entre Brasil e Argentina. Uma nova reunião com os argentinos será realizada em 27 e 28 de maio em Buenos Aires.
"Tem uma parte desse comércio que se realiza extrazona. Nós começamos a negociação tratando de metade do comércio que é a cadeia automotiva, que representa entre 45% e 50% desse comércio,vinculada à manutenção da participação do mercado intrazona para fortalecer o mercado bilateral", explicou o ministro.
Fonte: O Estado de São Paulo