América do Sul poderá enfrentar tempestade econômica perfeita

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Ao ouvir os discursos sobre negócios dos líderes de Argentina, Bolívia, Venezuela e outros países sul-americanos após a desaceleração econômica da China, a impressão que temos é que eles estão vivendo em outro planeta. Ainda continuam se vangloriando dos recursos naturais abundantes de seus países e matérias-primas, como se isso importasse tanto neste novo mundo de Google, Apple e Uber. É o que diz um artigo de Andres Oppenheimer, do jornal americano Miami Herald.

Nos últimos anos, quando a América do Sul se beneficiou dos preços das commodities recordistas mundiais graças à crescente procura da China por soja e outras matérias-primas, os líderes da região embarcaram em uma festa populista, fracassando em perceber que o mundo estava se movendo rapidamente na direção de uma economia do conhecimento. Gastaram enormemente em subsídios sociais, e induziram suas populações a achar que eles apresentaram fórmulas mágicas para reduzir a pobreza. Enquanto isso, negligenciaram o investimento em educação de qualidade, ciência, tecnologia e inovação.

Mas agora a festa acabou e a América Latina enfrenta uma tempestade perfeita: uma desaceleração econômica na China, preços de commodities em queda, um vôo dos investidores internacionais para países mais seguros, e a possibilidade de que o Federal Reserve dos Estados Unidos aumente suas taxas de juros, o que tornaria ainda mais difícil para países na região a obterem empréstimos ou paguem suas dívidas externas.

O pior é que muitos países sul-americanos estão se vendo com pouco para vender a não ser matérias-primas com preço baixo. Eles se tornaram tão complacentes com seus booms das commodities, que fizeram muito pouco para se tornarem mais competitivos na exportação de bens manufaturados ou de alta tecnologia.

Os gastos da região com pesquisa e desenvolvimento gira em torno de 0,5% em média do total de seu produto interno bruto (PIB), comparado a 4% em Israel e na Finlândia. Os países sul-americanos aparecem em últimos nas notas dos exames internacionais Pisa, e juntos produzem cerca de 5% das patentes internacionais registradas pela Coréia do Sul, de acordo com o Escritório de Patentes e Marcas Registradas, nos EUA.

Novos dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) mostram que as exportações latino-americanas de bens manufaturados caiu de 72,3% do total de exportações da região em 2000, para 58,6% em 2014. E quando o México é excluído — uma força matriz da região em exportações de manufaturados — a queda da exportação de bens manufaturados da América do Sul é muito maior, dizem economistas.

"Nos tornamos dependentes demais em commodities," disse o diretor de desenvolvimento econômico da Eclac, Daniel Titelman. "É fundamental que a América Latina diversifique sua estrutura de exportações"

Um estudo alarmante publicado no dia 13 de agosto pelo jornal mexicano El Financiero, citando um estudo do JP Morgan e bancos centrais, mostra exemplos da dependência das commodities de países sulamericanos específicos. Esses dados são de dezembro de 2014:

A Venezuela depende das commodities em 98% do total de suas exportações. O país produz virtualmente nada além de petróleo, ferro e alumínio.

O Equador depende das commodities em 86% do total de suas exportações. A maioria do que o país vende para fora é petróleo, bananas e flores.

A Colômbia depende das commodities em 79% do total de suas exportações. A maioria é de petróleo, carvão, café, ouro e flores.

A Bolívia depende das commodities em 72% do total de suas exportações. A maioria do que vende para o exterior é petróleo, prata e zinco.

Argentina e Peru dependem das commodities e bens básicos manufaturados da agricultura em 70% do total de suas respectivas exportações. As exportações da Argentina é, em sua maioria, de soja, enquanto o Peru exporta cobre, ouro e farinha de peixe.

O Chile depende de commodities em 63% de sua receita de exportação. Seus produtos principais são cobre e frutas.

O Brasil depende de commodities por 52% do total de suas receitas de exportação. O país exporta principalmente ferro, petróleo e derivados, soja, açúcar e café.

Uma das poucas exceções da dependência das commodities na América Latina é o México, que depende de matérias-primas — principalmente petróleo — em 17% de sua receita total de exportações.

Minha opinião: Em vez de investir no futuro, muitos da América do Sul gastaram sua bonança econômica da última década em subsídios populistas que deixaram os países mal preparados para enfrentar as tormentas que se seguiram.

Agora mais do que nunca, os líderes sul-americanos deveriam focar em mudar a estratégia econômica de seus países e produzir mais bens sofisticados. Eles deveriam estar falando tanto quanto Israel de pesquisa e desenvolvimento, pontuando tão alto quanto os estudantes da China nos testes internacionais PISA, e registrando tantas patentes de novas invenções quanto a Coreia do Norte. Infelizmente, eles estão falando do passado, esquecendo da tempestade que se aproxima.

Fonte: Jornal do Brasil

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