Rumo vence leilão da ferrovia Norte-Sul com oferta de R$2,7 bi; ágio atinge 101%

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A operadora logística Rumo arrematou ontem (28) a concessão de um trecho da ferrovia Norte-Sul, após ter oferecido pagar 2,719 bilhões de reais, um ágio de 100,9 por cento em relação ao valor fixado para a outorga mínima. A companhia, que tem como principal sócia o grupo de energia Cosan, bateu sua única concorrente no certame, a VLI, operadora logística da Vale, da Mitsui e da Brookfield, que ofertou pagar 2,065 bilhões de reais.

A Rumo terá direito de operar o trecho da ferrovia, importante no transporte de commodities agrícolas e combustíveis, por 30 anos.

Com o leilão, o investimento previsto no empreendimento pelo novo concessionário é de 2,7 bilhões de reais.

A concessão arrematada tem uma extensão total de 1.537 quilômetros, ligando Porto Nacional (TO) a Estrela D'Oeste (SP), de onde parte outro lote já administrado pela própria Rumo, interligando o interior paulista ao Porto de Santos (SP).

A partir de Porto Nacional, a Rumo poderá também alcançar o Porto de São Luís (MA), se obtiver acordo com a VLI, que opera o trecho da ferrovia que liga o porto até Porto Nacional.

Segundo o diretor-presidente da Rumo, Julio Fontana, os trechos combinados permitirão ampliar a matriz ferroviária para dar vazão a um maior volume da produção agrícola do Centro-Oeste do país, hoje feita sobretudo por estradas.

"Mas poderemos transportar também combustíveis e bauxita", disse Fontana a jornalistas após o resultado do leilão.

Segundo ele, as oportunidades de sinergias operacionais para a Rumo compensam os riscos regulatórios potenciais envolvendo a concessão, o que justificou o elevado ágio oferecido, que deve ter 5 por cento do valor pago à vista e o restante em 120 prestações.

"A nossa alavancagem financeira vai se manter nos níveis atuais, isso não nos preocupa, e vários bancos já se ofereceram para nos financiar o pagamento da outorga", disse, referindo-se à relação dívida/Ebitda de 2 vezes.

A ação da Rumo caiu forte logo após o resultado do leilão, mas logo em seguida se recuperou, até fechar com valorização de 3,8 por cento.

Em relatório a clientes, a equipe do Itaú BBA calculou que a vitória no leilão adiciona cerca de 1 por cento ao valor de mercado da Rumo, mas esse número pode subir se a empresa obtiver ganhos de sinergia superiores aos constantes do modelo do edital.

Para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, o resultado mostrou que riscos regulatórios apontados por analistas do setor, envolvendo questões como o direito de passagem, foram superestimados.

"Foi um resultado excepcional, um dia histórico que marca a retomada do investimento no setor ferroviário brasileiro", disse Freitas.

POLÍTICA E NEGÓCIOS

O resultado foi uma demonstração de força do governo de Jair Bolsonaro junto a investidores e pode representar um alívio momentâneo em relação ao cenário político turbulento dos últimos dias, em meio a um embate com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM/RJ), que foi visto como atrapalhando articulação para aprovar a reforma da previdência, principal pauta econômica do governo.

O leilão desta quinta foi o terceiro em 15 dias, todos com forte ágio. Há duas semanas, o leilão de concessão de 12 aeroportos terminou com um ágio de mil por cento e uma outorga paga de 2,377 bilhões de reais.

Na semana passada o governo levantou 219,5 milhões de reais com o leilão de quatro áreas portuárias, que tinham cada uma com valor mínimo de um real.

"Isso mostra que apesar de eventuais turbulências políticas, elas não estão contaminando o processo de concessões, que está a todo vapor", disse Luiz Rodrigues Wambier, sócio do Wambier, Yamasaki, Bevervanço & Lobo Advogados.

Segundo Freitas, o governo está fazendo ajustes finais para levar a leilão ainda este ano ativos como os da cessão onerosa, pré-sal, além de mais concessões de portos e de rodovias, e ferrovias, incluindo a Ferrogrão.

Fonte: Reuters

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