Crise no Banco Espírito Santo afeta empresas brasileiras
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- 06/08/14
Após semanas de especulações, o governo português decidiu socorrer o Banco Espírito Santo (BES), que atravessa uma grave crise financeira. Com a intervenção, o Banco de Portugal, o banco central do país, dividiu o BES em duas instituições, o que afeta empresas brasileiras como Bradesco e Oi. A operação, anunciada na noite de domingo para evitar uma corrida bancária, separou os chamados créditos podres do BES, com as dívidas atreladas às empresas do Grupo Espírito Santo (GES), controlador do banco e pivô da turbulência.
Já a parte boa, batizada de Novo Banco, terá uma injeção de capital de 4,9 bilhões de euros (R$ 14,7 bilhões) e reunirá a carteira de crédito sem risco, os clientes e as operações em outras companhias, como os 10% do banco na Portugal Telecom (PT), em processo de fusão com a Oi.
Segundo o BC português, a parte ruim do BES vai concentrar ainda a fatia dos outros acionistas do banco, como o Bradesco. Para isso, o banco brasileiro, com 3,9% do no capital social do BES, registrou ajuste contábil que terá efeito negativo de R$ 356 milhões no seu balanço financeiro do trimestre corrente. O chamado "banco ruim", que manterá o nome BES, entrará em recuperação judicial, a exemplo do que ocorreu com outras empresas do GES. O Banco de Portugal, via Tesouro, que vai gerir a parte boa do BES, vai aportar 4,4 bilhões de euros (R$ 13,2 bilhões) por meio de uma linha de empréstimos negociada com a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional ), como forma de evitar o aumento do endividamento público.
Segundo a agência de classificação de risco Fitch, apesar de a operação não afetar a nota de crédito de Portugal, a intervenção "corroeu a almofada de liquidez criada para lidar com choques futuros". O restante da capitalização será feito através dos outros bancos que operam no país, como Caixa Geral de Depósitos e Santander.
O governo português espera ser reembolsado quando o Novo Banco for eventualmente vendido a investidores privados. Segundo o BC do país, o objetivo da intervenção foi "minimizar o impacto para o erário público resultante da situação de desequilíbrio financeiro da instituição de crédito".
- O plano não carrega risco para as finanças públicas ou contribuintes -garantiu o presidente do Banco de Portugal, Carlos Costa.
Segundo uma fonte, está em análise não apenas a venda do Novo Banco, mas as participações deste em outras empresas, como a PT. Com isso, destacou a fonte, pode entrar um novo acionista na Oi ou na CorpCo, empresa resultante da fusão da brasileira com a PT, que será criada em maio de 2015.
- A participação que o BES tinha na PT e terá na CorpCo será vendida para gerar caixa. Todos os ativos que possam ser vendidos o serão -disse uma fonte que não quis se identificar, lembrando que a PT anunciou hoje a saída de último representante do BES em seu Conselho.
Para João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho & Associados, a venda do Novo Banco deve demorar pelo menos dois anos, até que ele atinja uma rentabilidade interessante.
Além da fatia que tem em outras empresas, a parte boa do BES vai ainda concentrar as atividades comerciais. Seus administradores serão os mesmo executivos do Espírito Santo, comandados pelo economista Vítor Bento. Com o rearranjo, as ações do BES deixarão de ser negociadas na Bolsa de Lisboa.
- O que aconteceu foi, essencialmente, uma estatização do BES. O modelo é muito parecido com o que vimos no Proer (programa de socorro aos bancos brasileiros , de 1995). O objetivo foi afastar do negócio a família controladora. O nome do Novo Banco deve ser alterado para algo que não remeta ao clã Espírito Santo -afirmou Salles.
O professor da Unicamp Fernando Nogueira da Costa lembrou que a divisão de um banco entre parte boa e ruim é clássica:
- O grande problema do BES foi a promiscuidade entre ele e as empresas controladas pelos acionistas do banco. No Brasil , por exemplo, os bancos têm um limite para financiar empresas ligadas ao mesmo grupo. A família Espírito Santo terá de vender seus bens para pagar as dívidas das suas empresas. Isso leva tempo.
Fonte: Ecofinanças