Valorização do dólar muda planos de turistas e afeta negócios de empresas

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A disparada do dólar, que acumula valorização de 12,8% no ano, produz efeitos distintos sobre a economia brasileira. Por um lado, a alta da divisa encarece as viagens dos brasileiros para o exterior, mas, por outro, favorece, por exemplo, a exportação de commodities agrícolas e produtos manufaturados produzidos pela indústria. Apesar das consequências distintas, quem perde e quem ganha com a escada da moeda norte-americana concordam que a volatilidade cambial traz mais prejuízos do que benefícios.

Tamanha é a preocupação do mercado, de produtores rurais, de empresários, de industriais e de consumidores com a elevação no custo da moeda, que o Banco Central (BC) resolveu elevar o nível de intervenção no câmbio. Na última sexta-feira, a autoridade monetária informou que triplicará a oferta de contratos de swap cambial de 5 mil para 15 mil. Na prática, a equipe de Ilan Goldfajn fará diariamente uma venda de US$ 750 milhões no mercado futuro.

A decisão só foi tomada após o dólar subir pelo sexto pregão consecutivo e alcançar o patamar de R$ 3,74 no câmbio comercial. Esse é o maior patamar desde 13 de março de 2016, quando Dilma Rousseff ainda comandava o Palácio do Planalto e era assombrada pela possibilidade de impeachment. Apesar de avaliarem como positiva a decisão do BC, analistas destacaram que o montante de contratos do swap pode não ser suficiente para conter a valorização da divisa estrangeira.
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Somente nos primeiros 18 dias de maio, o dólar encareceu 6,77%. A escalada cambial ocorre em meio ao aquecimento da economia dos Estados, que aumenta a possibilidade de o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, aumentar os juros ainda mais do que o precificado pelo mercado. São esperadas pelo menos três altas, mas os analistas alertam que possíveis pressões inflacionárias podem levar o Fed subir a taxa ainda mais, aumentando a atração de capitais para os EUA. Por essa razão, o dólar tem subido no mundo todo.

Incerteza

Além da piora do cenário externo, o ambiente doméstico traz ainda mais volatilidade para o dólar. Com a incerteza gerada pelas eleições presidenciais, com candidatos pouco alinhados com a visão do mercado na liderança das pesquisas, investidores tendem a cobrar um prêmio maior de risco para aplicar no Brasil. Tanto é que o real foi a moeda que mais se desvalorizou em relação a outras 46 divisas estrangeiras na última sexta-feira (18).

Para piorar, o risco-país, medido pelos Credit Default Swap (CDS) brasileiros de cinco anos passaram de 194 para 203 pontos. Isso significa que os investidores cobram um prêmio maior de risco para aplicar no Brasil. Esse é patamar mais elevado desde setembro de 2017.

Empresas e consumidores sentem na pele a valorização cambial. O consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, explica que os turistas brasileiros são afetados significativamente com a alta do dólar. Até março, os viajantes desembolsaram US$ 4,9 bilhões com passeios em outros países, conforme dados do BC. O montante é 10,2% superior ao acumulado no mesmo período do ano passado. Entretanto, Barral avalia que esse movimento pode ser interrompido diante do rápido encarecimento do dólar.

No outro prato da balança, a chegada de turistas estrangeiros no Brasil tende a crescer. De janeiro a março, visitantes de outras nacionalidades gastaram US$ 1,9 bilhão no país, alta de 4,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Entretanto, a falta de promoção internacional do país e a violência freiam esse movimento.

Barral ressalta que empresas brasileiras que não dependem de insumos estrangeiros tendem a se beneficiar da disparada do dólar. "Empresas de calçados, por exemplo, que têm matéria-prima brasileira, ganham. Por outro lado, companhias do setor químico, que dependem da importação de derivados de petróleo, são prejudicadas. Nesse caso, o valor da commodity, que também subiu, traz mais desafios", ressalta.

A valorização cambial e o encarecimento do petróleo também têm afetado diretamente o bolso dos motoristas. Com a nova política de preços da Petrobras, as variações internacionais no custo da commodity têm sido repassadas para o valor de venda para as distribuidoras. Com isso, o custo final nas bombas de combustíveis subiu significativamente. Entre janeiro e abril, a alta chega a 3,31%, enquanto a inflação, no mesmo período, não passou de 0,92%. "Já tivemos problemas com a valorização do dólar na primeira eleição do ex-presidente Lula e na reeleição da ex-presidente Dilma. O preço da moeda só de deve se equilibrar depois de outubro", alerta.

Apesar de os exportadores faturarem com a alta do dólar, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, explica que os importadores sofrem com aumento de custos tanto no valor da mercadoria, quanto no dos impostos. Ele explica que a valorização não programada traz mais problemas do que soluções. "A falta de previsibilidade é um problema para todos. A gente torce para que o cenário melhore, mas isso não deve ocorrer. No comércio internacional, imprevisibilidade é ruim. Quando não há segurança, todos param de negociar", diz.

Alimentos
A disparada do dólar também deve afetar o preço dos alimentos. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi) mostram que o pão francês deve ficar até 20% mais caro até o fim de junho, e o macarrão, 12%. Isso porque metade do trigo consumido no Brasil é importado. Para piorar, uma quebra de safra na Argentina, devido a uma forte seca, elevou ainda mais o custo do grão, uma commodity que tem cotação internacional.

E a tendência é de que a alta do dólar não acabe tão cedo, diz o diretor técnico da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, para quem o dólar deve ultrapassar a barreira de R$ 3,80 nas próximas semanas. Ele alerta que o valor da divisa ainda não precificou o cenário eleitoral brasileiro, o que deixa espaço para que a moeda ultrapasse os R$ 4 nos próximos meses. "Ainda não está no preço o fato de um candidato pouco favorável ganhar as eleições. Esse movimento recente foi impulsionado pelos investidores que tinham posições em juros. A decisão do BC de manter a taxa Selic 6,5% ao ano bateu forte no mercado", diz.

Faria Júnior ressalta que os brasileiros, sobretudo aqueles que viajam para o exterior com frequência, precisam ficar atentos "O viajante recorrente tem que ter sempre dólares em casa para não se sujeitar às variações de mercado", afirma.

"Empresas de calçados, que têm matéria-prima brasileira, ganham. Companhias do setor químico, que dependem da importação de derivados de petróleo, são prejudicadas. Nesse caso, o valor da commodity, que também subiu, traz mais desafios".

 

Fonte: CB

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