Abastecimento de alimentos nos Estados começa a ser afetado, diz Abrafrigo

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O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou nesta terça-feira, 22, em entrevista à imprensa francesa, que agricultores e pecuaristas brasileiros têm dificuldades em aceitar as negociações para um acordo comercial União Europeia e Mercosul, por conta de subsídios dados a produtores europeus e da existência de barreiras comerciais à exportação brasileira. Em Paris, onde receberá pelo Brasil o certificado da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) de área livre de febre aftosa com vacinação, Maggi defendeu que as negociações continuem. Ele admitiu que uma decisão, política, está perto e o acordo UE-Mercosul próximo de ser fechado.

 

"Nós temos dificuldade em aceitar essas negociações, (...) em aceitar o mercado aberto, em função (de) que vocês, na Europa, trabalham com muitos subsídios e nós não trabalhamos com subsídios na agricultura brasileira. Então, precisamos estar atentos a essa abertura para que não venha atrapalhar o crescimento de agroindústrias no Brasil e, pelo andamento nas negociações, está muito próximo de fazermos esse acordo comercial", disse Maggi.

Como exemplo de impasse nas negociações para um livre mercado, o ministro citou a cadeia de lácteos. No Brasil, segundo ele, a estrutura de produção de leite e derivados é feita por milhares de pequenos produtores, uma pecuária de subsistência. "Como não temos sistemas de proteção via incentivos, isso significa que esses de produtores não suportarão a concorrência com os subsídios aplicados aqui", afirmou.

Outro produto citado por Maggi é o vinho brasileiro. O ministro admitiu que o País e a Argentina têm posições diferentes no Mercosul para a adoção de um livre mercado com os europeus. O país vizinho "tem uma indústria mais madura", na avaliação dele, e o Brasil "tem indústria de vinho jovem e não estabelecida". Por isso, segundo o Maggi, o Brasil não quer a importação de vinho sem nenhum tipo de cota ou imposto. "Isso quebraria a indústria brasileira."

O ministro criticou a proposta de adoção de cotas para a importação europeia de carne bovina negociada com o Mercosul. Ele afirmou que "a Europa não quer muito a carne brasileira" porque é autossuficiente no produto. Disse que as cotas ofertadas ao Mercosul "nada mais são que a recomposição dos números que tínhamos há dez anos". E acrescentou: "Por parte da agricultura vamos aceitar o acordo, mas não temos o entusiasmo que muitos dizem que teríamos."

Maggi retomou as críticas e o discurso sobre o recente embargo da UE à carne de frango de algumas companhias brasileiras, classificou o fato como uma barreira comercial e um exemplo de "subterfúgio" que possa surgir mesmo após o acordo firmado com os países do bloco sul-americano.

"Não adianta fazermos um acordo comercial e começarem buscando coisas que não existem para impedir a entrada de mercadorias, tanto aqui na Europa como no Brasil. Sabemos que defesas comerciais nem sempre fazem sentido, porque não é questão de saúde; é questão de mercado", disse Maggi. "É o que estamos vendo no frango brasileiro. Temos qualidade superior, garantida e, no entanto, a Europa coloca (barreira) dizendo que é questão sanitária, mas é comercial", completou.

Área ambiental

No início da conversa com a imprensa francesa, Maggi admitiu que o Brasil "não foge da responsabilidade" pelo avanço da agricultura e da pecuária no passado sem considerar questões ambientais e trabalhistas. "Não fugimos a esta responsabilidade de corrigir os erros que nós tínhamos, tanto nas questões relacionadas ao trabalho e também das questões ambientais", disse o ministro, citando, em seguida, que o Brasil usa apenas 9% do território para agricultora e 13% para a pecuária, atualmente, e tem regras rígidas trabalhistas e para a ocupação.

Ao ser indagado sobre o avanço da agropecuária em áreas de preservação ambiental, principalmente na Amazônia, Maggi afirmou que a questão "é um problema", mas que o governo brasileiro tem atuado "com mão dura nesse processo". Além do combate ao desmatamento, de acordo com o ministro, "o ritmo de ocupação dessas terras diminuiu pelo fato de os próprios produtores perceberem que não adianta produzir mais se as empresas privadas não compram mais produtos dos que desmatam irregularmente".

Fonte: Estadão

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