Brasil perde com guerra comercial entre Estados Unidos e China

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A guerra comercial entre Estados Unidos e China, as duas principais economias do mundo, saiu dos discursos para a prática na sexta-feira. O presidente americano Donald Trump impôs tarifas de 25% sobre as importações do gigante asiático, da ordem de US$ 34 bilhões. A reação chinesa foi por meio de impostos no mesmo volume financeiro sobre produtos americanos, como soja, carne suína e carros elétricos.

Sob pretexto de gerar empregos em território nacional, Trump ameaça ir além e estaria disposto a fixar tarifas sobre até US$ 550 bilhões de importações da China – acima dos US$ 506 bilhões embarcados pelo país para o mercado americano em 2017.

Quando a ameaça começou a aparecer nos tweets de Trump, houve quem imaginasse que os exportadores de fora da briga entre China e Estados Unidos poderiam se beneficiar como uma alternativa. Mas esse cenário inicial já foi descartado. Para especialistas como José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), os reflexos para o Brasil não serão bons e serão vistos a partir de 2019 no valor exportado pelo país.

"O Brasil perde em praticamente todas as situações. Ações protecionistas como a que estamos vendo agora costumam levar a uma queda no volume de comércio. Com a oferta de produtos maior do que a demanda, há uma pressão que derruba os preços", explica Castro.

Apesar de as ameaças terem começado a valer no dia 6, a pressão sobre as cotações das commodities já começou a acontecer. Levantamento feito pelo presidente da AEB mostra que nos últimos 30 dias o preço do minério de ferro caiu 15% e o da soja em grão apresentou uma retração de 14,36%.

Manufaturados
Além de um futuro difícil para as commodities, também são esperados problemas nos manufaturados. Cerca de 40% das exportações brasileiras são para a América do Sul (25% para o Mercosul). O recrudescimento do comércio internacional resultará em queda na atividade exportadora, portanto um volume menor de recursos entrando nos países, o que reduzirá a disponibilidade de capital para as importações de manufaturados.

No caso do mercado argentino, a situação é ainda pior por conta do difícil momento econômico pelo qual passa o país que já resultou em uma desvalorização de 40% da moeda local, o peso. No Mercosul, a Argentina é responsável pela compra do maior volume de manufaturados exportados pelo Brasil.

A China até poderia trocar as exportações de soja dos Estados Unidos pela produção brasileira – desde abril as importações vêm retraindo, o que serviu para empurrar a cotação para baixo. Mas, como lembra o presidente da AEB, aumentar o plantio não é algo que se faça de uma hora para outra. Com isso, não haveria volume suficiente no mercado brasileiro para atender à demanda chinesa. Por isso, o país asiático deve concordar com a sobretaxa dos EUA e pagar mais para não sofrer com o desabastecimento. "O Brasil não tem condições de suprir a demanda do mercado chinês", afirma.

Balança comercial
Como os contratos de exportação dessas commodities já estão fechados para os próximos meses, Castro não acredita que a balança comercial brasileira deverá sentir os efeitos da guerra comercial em 2018. Mas em 2019, a não ser que haja alguma reviravolta, o recuo será inevitável, adverte o especialista.

"Não fizemos a revisão dos números do segundo semestre de 2018 e do ano, mas inicialmente a previsão é de que haja um superavit de cerca de US$ 50 bilhões", diz Castro. Em 2017, o saldo foi de US$ 67 bilhões, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). Só a safra 2017/2018 da soja brasileira em grão gerou US$ 30 bilhões em contratos de exportação. "Seu peso na balança comercial do Brasil é gigante", explica.

Para 2019, avalia, se a disputa entre China e Estados Unidos continuar a pressionar o preço das commodities, só a soja poderá corroer em pelo menos 2% o valor total exportado pelo Brasil. A simulação é feita com base na queda de 15% na cotação, que hoje representaria para os produtores brasileiros de soja uma queda de US$ 4,5 bilhões na receita.

"O futuro da atividade econômica mundial é incerto. Se os preços continuarem a cair, o Brasil vai perder. Isso só vai mudar se a guerra comercial for interrompida, o que até pode acontecer, dependendo do que acontecer nos dois países nos próximos meses", detalha Castro.

Fonte: Correio Braziliense

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