Bancos públicos mudam a estratégia de atuação no mercado financeiro
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- 08/01/19
Alinhados com a orientação liberal do novo governo, os bancos públicos pautarão suas operações com foco no mercado e orientados para a competição. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, deve aumentar os juros dos financiamentos imobiliários para a classe média e vender ativos. O Banco do Brasil pretende se desfazer de subsidiárias que não estão no "core business" da instituição e quer ser mais agressivo no varejo. E o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) busca se diversificar e se aproximar mais de pequenas e médias empresas, deixando de ser o grande financiador dos "campeões nacionais", como ocorreu na era petista.
Esses foram alguns objetivos que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os novos presidentes do Banco do Brasil, Rubem Novaes; da Caixa, Pedro Guimarães; e do BNDES, Joaquim Levy, sinalizaram ontem nas cerimônias de posse e de transmissão de cargos, no Palácio do Planalto, primeiramente, e nas sedes das instituições, em seguida. Os novos dirigentes deixaram claro que vão trabalhar para buscar maior retorno aos acionistas. Embora controlado pelo governo, o BB tem ações no mercado. Caixa e BNDES são integralmente de propriedade da União.
O novo presidente da Caixa afirmou que a captação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da poupança, para o financiamento imobiliário, atingiu o limite. Portanto, para expandir o crédito habitacional, será preciso captar recursos no mercado. Guimarães garantiu que os juros do programa Minha Casa, Minha Vida não mudam, mas disse que a classe média terá de pagar mais pelos financiamentos ou buscar alternativas em bancos privados. "Vamos respeitar, acima de tudo, a lei de mercado", disse.
Desestatização
Guimarães acredita que a Caixa poderá ampliar a oferta de crédito mediante a securitização e a venda no mercado de R$ 20 bilhões a R$ 100 bilhões de créditos a receber. Ele também sinalizou a privatização de ativos, sem dar detalhes. E reconheceu que a instituição retomou cerca de 60 mil imóveis por falta de pagamento no MCMV. "Isso tem que ser resolvido. Você vai ter que ter uma metodologia de venda de mil imóveis, dois mil imóveis, três mil imóveis ao longo do ano. A maior parte dessas unidades são do Minha Casa, Minha Vida, nas faixas 1 e 2", disse.
Durante a cerimônia no Planalto, Guedes criticou o uso político dos bancos oficiais pelos governos anteriores e defendeu a desestatização do crédito, como forma de reduzir distorções no mercado. Ele voltou a classificar os dilapidadores do patrimônio público de "criaturas do pântano político, piratas privados e burocratas corruptos". "O mercado de crédito está estatizado. Quando o BNDES recebe aportes para fazer projetos econômicos estranhos, para ajudar os mais fortes, nós, liberais, não gostamos e achamos que isso é transferência de recursos", afirmou o ministro.
Caixas-pretas
O ministro também defendeu maior transparência nos empréstimos das instituições financeiras públicas. "A Caixa foi alvo de saques, fraudes, assaltos ao dinheiro público. Isso ficará óbvio mais à frente, à medida que as caixas-pretas forem abertas", completou. Antes da cerimônia de posse pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro escreveu no Twitter que as caixas-pretas de diversos órgãos começaram a ser abertas e que "muitos contratos foram desfeitos e serão expostos".
Em seu discurso, Joaquim Levy garantiu que o BNDES vai combater o patrimonialismo e reforçou a estratégia do banco de diversificar as operações. "Estamos na antessala de um novo ciclo de investimentos em uma economia que será mais aberta, mais vibrante, com mais espaço para o setor privado e para o mercado de capitais. O papel do BNDES é o de contribuir nesse ambiente, desenvolvendo novas ferramentas, novas formas de trabalhar, em parceria com o mercado", disse. O novo presidente do banco de fomento disse ainda que sua gestão vai continuar ajustando o balanço da instituição, reduzindo a proporção de recursos do Tesouro Nacional, "para que se tenha adequado retorno do capital, que é de cada um da população".
À tarde, Novaes explicou que, ao defender a desestatização do crédito, o governo não tem intenção de reduzir os empréstimos rurais do BB. "O ministro falou de uma maneira geral, para aumentar a competição. Não tem nenhum recado direto ao BB. É possível aumentar a competição com acréscimo de competidores e não necessariamente pela redução do papel do Banco do Brasil, porque não está em cogitação", afirmou.
A caderneta de poupança encerrou o ano de 2018 com captação líquida (diferença entre saques e depósitos) de R$ 38,3 bilhões, informou o Banco Central. O saldo é o maior desde 2013, período anterior à recessão, quando os brasileiros haviam aplicado R$ 71 bilhões líquidos na poupança. A captação positiva no ano passado reflete, em grande parte, a retomada da economia. Embora os dados de atividade de 2018 ainda não tenham sido fechados, a expectativa do mercado é de que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha subido 1,3%. Nesse ambiente, as famílias tiveram mais espaço no orçamento para guardar dinheiro.
Fonte: Correio Braziliense