Comércio mundial poderá ter queda maior e recuperação mais lenta que na crise de 2009, projeta a FGV

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Em meio às incertezas sobre os efeitos da pandemia do coronavírus em todo o mundo, é prematuro fazer prognóstico sobre o desempenho do comércio internacional em 2020, mas as expectativas apontam para um desempenho pior do que o registrado na crise financeira de 2009. Naquela época, o volume das transações do comércio exterior recuou 12,1% mas se recuperou no ano seguinte e cresceu 14,4%. Agora a situação pode piorar. A avaliação faz parte do Indicador do Comércio Exterior (Icomex), divulgado ontem (14) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre).

De acordo com o Icomex, "não só a queda em 2020 pode ser maior, mas a recuperação mais lenta. A crise do Covid-19 afetou o transporte de cargas e pessoas, canais de logística e as cadeias globais de valor. Surge um debate se os países irão rever suas políticas, em especial naqueles setores onde a dependência das importações é elevada. Em outras palavras, o mundo será mais protecionista".

Segundo os especialistas da FGV, "os efeitos não aparecem nas estatísticas da OMC e nem nas do Brasil. As da OMC só vão até 2019 e nas nossas até março de 2020, mas não aparecem na balança comercial brasileira porque tem um tempo nos contratos de comércio de exterior e os embarques. O que se está embarcando agora são contratos feitos antes", explicou a pesquisadora associada da FGV Lia Valls.

Para a FGV, "o estudo da OMC já apontava ritmo de desaceleração do comércio mundial a partir de 2019, em consequência das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. A queda entre 2018 e 2019 ficou em 0,1%. O comportamento desfavorável dos preços das exportações significa que o crescimento das exportações fica dependente do aumento do volume, um resultado mais difícil de ser garantido num ano em que se espera uma recessão mundial".

O volume exportado para o mercado da China e Ásia, excluída a China e o Oriente Médio, mostra variações positivas na comparação entre o acumulado do ano até março de 2019 e 2020. Conforme o Icomex, em todos os meses do trimestre as exportações cresceram, sendo, nas vendas de soja de 44%, no minério de ferro de 21% e na carne bovina de 116%.

Os resultados explicam a elevação registrada no comércio com a China. No entanto, a redução dos embarques da soja para aquele país poderá impactar as exportações com previsão de queda no segundo semestre.

Com aumento de 28,6%, a agropecuária se destacou entre todos os setores que anotaram variação positiva em março na comparação ao ano anterior. A elevação de 310% na indústria de transformação teve influência das vendas de óleo combustível, que é o quarto principal produto da pauta. A FGV apontou, no entanto, que em relação ao trimestre, apenas a agropecuária apresentou aumento de 1,4 %.

O estudo feito pela FGV indica que o saldo da balança comercial em março ficou em US$ 4,7 bilhões, montante que supera, com larga margem, o registrado no mesmo mês em 2019, de US$ 417 milhões. No acumulado do primeiro trimestre, o superávit foi US$ 5,6 bilhões, abaixo dos US$ 9 bilhões do primeiro trimestre de 2019.

De acordo com o Icomex, em valor, as exportações aumentaram 10,4% no mês e as importações 10,6%, quando comparadas a março de 2019. Entre os dois primeiros trimestres dos dois anos, no entanto, as exportações tiveram queda de 9% e as importações subiram 4,3%.

O volume dos fluxos de comércio teve variação positiva interanual de 13,0% nas exportações e de 14,6% nas importações na comparação entre os meses de março. De acordo com a FGV, desde outubro as exportações caíram na variação mensal entre 2019 e 2020. O único mês que isso não ocorreu foi em dezembro, mas, ainda assim, ficou estagnada. Já as importações vinham aumentando desde dezembro.

Fonte: Agência Brasil

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