Petrobras usa empresa americana para encaminhar dados ao exterior
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- 18/09/13
A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse nesta quarta-feira (18) que a companhia trabalha com 36 empresas de segurança da informação, sendo 14 americanas. Das dez empresas de telecomunicações que encaminham informações ao exterior também há uma americana.
As outras teles contratadas, segundo a presidente, são da Espanha, Itália, Reino Unido, Japão, França e Brasil --sendo a Oi a empresa responsável dentro do país.
Graça afirmou que quando os dados "carecem de proteção" são todos criptografados e que a rede interna não trafega na internet.
As três empresas que prestam serviço de criptografia para a Petrobras, porém, também são americanas. "São empresas de grande reputação e que trabalham para manter isso", disse. "Ainda não existem empresas brasileiras prestando esse serviço. Se alguma se apresentar, nós a consideraremos assim como fazemos com qualquer outro fornecedor".
A Petrobras informou que não pretende rever esses contratos. "A Petrobras é a gestora desse conjunto enorme de informações. São empresas com contratos específicos, para objetos específicos e que não conhecem o conjunto", disse Graça Foster.
Apenas ficam online os avisos de descoberta quando feitos à ANP (Agência Nacional do Petróleo). Mas, segundo Graça, esse comunicado também é feito "quase que imediatamente" ao mercado. A própria ANP, na sequência, torna essas informações públicas.
"Os ataques existem, as tentativas existem, mas fazemos um investimento maciço para evitá-los", disse.
ESPIONAGEM
A presidente, porém, não negou o desconforto causado com denúncias de que o serviço de inteligência americano teria acessado dados secretos da companhia.
"Aparecer o nome da Petrobras ali [nas denúncias de espionagem], cria um embaraço muito grande. No mínimo um grande desconforto".
Ela revelou ainda não saber qual pode ter sido a extensão do caso. "Não sabemos exatamente se vazou ou o que vazou, mas nos incomoda profundamente".
MEDIDA
A Petrobras, segundo Graça Foster, fez uma varredura no sistema para identificar ataques ao sistema, logo após a denúncia, mas não foram identificados registros "anormais".
Ela afirmou que já existem várias camadas de proteção aos e-mails internos e que apenas no período de um mês, entre 9 de agosto e 9 de setembro, 195,9 milhões de e-mails foram encaminhados à companhia. Sendo que desses, apenas 16,5 milhões foram, de fato, entregues. Os demais ficaram retidos pelos programas de proteção.
Já o desligamento de funcionários poderia ser uma forma de fazer com que "partes da empresa" fossem levadas para as concorrentes.
"Pessoas deixam a Petrobras e é possível levar parte da empresa. A fidelidade com a tecnologia não é 100%".
LIBRA
A Petrobras defende que a estratégia da empresa para participar do leilão de Libra não pode ter sido acessada por hackers.
"Nós pesquisamos a fundo Libra. E para conhecê-la tão bem quanto nós teriam de capturar toda a Petrobras", afirmou a presidente.
"A estratégia de participação em Libra é um dos momentos em que poucos participam das discussões. A informação completa da estratégia, percentual que vamos ter cabe a presidente e um diretor de produção e exploração de petróleo e gás".
INVESTIMENTOS
Segundo Graça, serão investidos, apenas este ano, R$ 4 bilhões em segurança empresarial, que serve, por exemplo, para proteger os dados da empresa de espionagem.
"Eventual acesso a dados, ainda que inadmissível, não implica necessariamente na obtenção de informação ou detenção da tecnologia", reforçou. "Para tomar essa tecnologia para si --no caso de um concorrente --é necessário muitos e muitos acessos recorrentes e sistemáticos", disse.
Em um período de cinco anos, de 2013 a 2017, a estatal deve investir R$ 21,2 bilhões com segurança empresarial.
GASTOS ANUAIS
O membro do conselho de administração da Petrobras, Sérgio Quintela, disse que a estatal gasta R$ 3 bilhões ao ano em segurança cibernética e afirmou que a estatal está protegida contra espionagem. "Na verdade, todo mundo espiona tudo mundo", disse.
Quintela afirmou, porém, que a notícia de suposta espionagem dos EUA à Petrobras não afetará o leilão do pré-sal marcado para outubro.
O conselheiro da estatal disse ainda que o tema da defasagem dos preços dos combustíveis já foi levado ao conselho e que há necessidade de um reajuste. Ele não quis, porém, prever uma data para o aumento nem citar a defasagem em relação às cotações internacionais.
Quintela participou de debate no Fórum Nacional, na tarde desta quarta-feira, no Rio.
Fonte: Folha de São Paulo