Complexo portuário ameaça rochas identificadas por Darwin em visita ao Brasil

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Aos 23 anos, quando visitou o Brasil em 1832, o naturalista britânico Charles Darwin encontrou no litoral do Rio de Janeiro as "beachrocks", rochas incomuns com mais de 4.000 anos.

Passados 181 anos, Jaconé, a faixa de areia entre as praias de Ponta Negra e Saquarema que abriga a formação geológica, está prestes a mudar.

A área turística e pesqueira no município de Maricá deve virar um complexo portuário com estaleiro para reparo de navios e um armazém para gás e petróleo montado em cavernas subterrâneas.

Um maciço de rochas será escavado para a construção dos quebra-mares, e os buracos deixados pelas pedras serão usados de reservatório. Para viabilizar o projeto da DTA Engenharia, a Câmara Municipal de Maricá precisará retirar do local o status de área de proteção ambiental.

Com a Petrobras, a DTA planeja fazer ali uma base para a produção de gás natural do pré-sal, a Rota 3, que abastecerá o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). O projeto, de US$ 20 bilhões, usará o gás de matéria-prima para produtos petroquímicos, que seriam, então, exportados pelo porto.

Segundo o presidente da Câmara Municipal de Maricá, Fabiano Filho, a votação deve ocorrer em breve. "Será bom para o município", diz.

Os locais se tornariam área de interesse econômico, como ocorreu para viabilizar o porto do Açu, de Eike Batista, em São João da Barra.

O secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro, Júlio Bueno, apoia o projeto. "Preocupo-me com as pedras de Darwin, mas me preocupo muito mais com emprego e renda das pessoas", afirma.

As "beachrocks" ocorrem ao longo de 1,1 km de praia, perto do terreno que serviu por anos como campo de golfe ao jornalista Roberto Marinho e foi comprado pela DTA.

Com as mudanças, porém, elas podem estar com os dias contados, diz a professora da UFRJ e geóloga Kátia Mansur.

Para Mansur, coautora de um trabalho que será usado no pedido à Unesco para tornar a área patrimônio da humanidade, as "pedras de praia" têm importância global e valor científico, cultural, didático e ecológico.

"É uma perda. A gente não aceita que não tenha lugar melhor para esse porto."

As pedras de Darwin permitiram, por exemplo, determinar o nível da maré há 4.000 anos e identificar as formações chamadas de Sambaquis da Beirada, usadas por homens pré-históricos.

O presidente da DTA, João Acácio de Oliveira, disse desconhecer a ocorrência de "beachrocks" no local. Ele contratou a empresa Arcadis-Logos para fazer o licenciamento ambiental e apontar o impacto na região.

Segundo Oliveira, o estaleiro recebeu grau de prioridade de investimento do Fundo da Marinha Mercante, no valor de R$ 1,05 bilhão.

Procurada, a Petrobras não comentou o assunto.

 

Fonte: Folha de São Paulo

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