Recuo no preço das commodities é inevitável, afirma Roberto Rodrigues
- Detalhes
- 26/11/13
Contrariando a previsão de analistas que apostam que as commodities agrícolas passarão a variar em um nível cada vez mais alto, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues avalia que não há possibilidade de sustentação dos atuais preços por muito tempo. "Uma hora a oferta crescerá por causa desses bons preços, os estoques globais voltarão a ficar equilibrados com a demanda e os preços cairão", sentencia.
O uso de matérias-primas agrícolas para a produção de biocombustíveis, e não só alimentos, não é visto por ele como um fator que altere essa equação.
Um estudo do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), que Rodrigues coordena, concluiu que a atividade especulativa nos mercados futuros, aliada ao aumento da demanda em um cenário de baixos estoques, contribui muito mais para a alta das commodities entre 2007 e 2008 do que a expansão da produção de biocombustíveis no mesmo período. De acordo com o levantamento, são os preços futuros inflacionados pela crescente posição comprada ao longo do tempo que impactam nos preços à vista das commodities, e não o contrário, como geralmente se supõe. O estudo identificou uma aceleração nos contratos futuros de milho e soja a partir de 2005 até 2008, quando a participação desses contratos futuros dentro do total de contratos negociados na Bolsa de Chicago havia passado de 33,6% para 44,7% no caso dos contratos de trigo; 25,2% para 48,1% no caso do milho; e de 30% para 49,3% no caso da soja.
A atividade especulativa é até mais relevante na determinação dos preços do que a relação de mercado, já que, segundo o estudo, a demanda mais forte abrange um período mais longo do que o analisado e não poderia ser apontada como causa imediata da variação dos preços.
Biocombustíveis
O estudo da FGV analisou o comportamento dos preços internacionais - dos grãos de milho, soja, trigo e arroz, com os quais se pode processar para a produção de etanol e biodiesel.
A conclusão contraria um estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em conjunto com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que em 2007 sinalizava que o uso de cereais, açúcar, sementes oleaginosas e azeites vegetais para produzir substitutos dos combustíveis fósseis, como etanol e biodiesel, aumentariam a demanda por produtos agrícolas. Até 2016, a estimativa das entidades era que o comércio de cereais secundários aumentaria 10% com relação a 2007, o de trigo subiria 17% e o de azeites vegetais, quase 70%.
Benefício tropical
Segundo Rodrigues, a diferença do comportamento dos preços para o Brasil é diferente, já que a produção de etanol, nosso principal biocombustível, utiliza a cana-de-açúcar, cuja oferta continua expandindo de acordo com a demanda e não compete em área com a produção de grãos.
"Não vejo problema no caso brasileiro e em meios tropicais em geral. Fazer álcool de milho, trigo ou arroz perturba [o preço dos] os alimentos, mas fazer álcool de cana não perturba em nada os alimentos. Tanto é que o Brasil cresceu mais em produção de alimento do que biocombustível", coloca o ex-ministro.
Pela particularidade da produção de biocombustível nos países tropicais, Rodrigues defende que Estados Unidos e Europa financiem esse tipo de produção na América Latina e na África, e o Japão, na Ásia. "Esses países vão gerar aquilo que é essencial no século 21, que é energia. É a grande commodity do século, mudando a geopolítica mundial", diz.
Nos Estados Unidos, a pressão dos "combustíveis verdes" é maior. Segundo o ex-ministro, o biocombustível tem uma ligação secundária no caso dos Estados Unidos, onde mais de 100 milhões de toneladas de milho foram processados para a produção de etanol no ano passado por causa de subsídio do Estado para que os agricultores direcionassem a produção para o processamento em etanol.
"O que está por trás [da alta dos preços dos alimentos nos Estados Unidos] é o subsidio, e não o biocombustível. É a artificialidade na formação do preço", argumenta.
De acordo com o estudo da FGV, que cita dados da FAO, a inflação de alimentos tem como maiores vítimas Japão, China, Paraguai, Níger, Burkina Fasso, República Centro-Africana, Congo, Síria e Yêmen. Nestes países, a inflação dos alimentos contribui em 75% para o cálculo da inflação geral de cada país. No Brasil, o impacto varia entre 25% e 50%.
Fonte: DCI - Comércio, Indústria e Serviços