Brasil mostra desempenho frágil na exportação aos principais mercados
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- 23/01/14
O desempenho da exportação brasileira por destinos em 2013 mostra que o Brasil teve dificuldades em ganhar mercado, mesmo nos países e regiões com as quais teve superávit. Nos casos em que a exportação brasileira avançou, foi de forma pontual.
Em 2013 a exportação brasileira chegou a ganhar mercado na China, mas, segundo analistas, sem perspectiva de sustentação. O Brasil conseguiu aumentar sua participação nas importações do seu principal parceiro comercial, mas isso decorreu do desempenho de um único item: a soja, cujo valor de embarque para os chineses no ano passado cresceu 42% contra 2012.
Ao mesmo tempo, porém, o Brasil continuou perdendo fatia de mercado nos Estados Unidos. Para os americanos, pesou não só o recuo nos embarques de petróleo, mas também a falta de reação mais significativa dos demais itens da pauta de exportação. A participação brasileira no mercado da União Europeia ficou praticamente estável. Até mesmo na Argentina, com quem a balança comercial foi francamente favorável ao Brasil em 2013, a exportação brasileira somente manteve a fatia, sem conseguir ganhar espaço. De acordo com dados do acompanhamento mensal de importações e exportações da Organização Mundial do Comércio (OMC), os desembarques totais dos chineses cresceram 7,3% em 2013, em relação ao ano anterior. Puxada pela soja, a exportação brasileira para a China cresceu mais: 11,6%, o que significa ganho de mercado no país asiático.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), porém, não há muito a ser comemorado. O desempenho da soja em 2013 aconteceu por conta não só da elevação de produção brasileira como também pelo atraso na colheita do grão pelos americanos, grandes concorrentes brasileiros na exportação de produtos agrícolas para os chineses. O ganho de mercado, diz ele, foi ancorado num único item do qual a exportação brasileira para a China ficou mais dependente.
A fatia da soja nos embarques brasileiros ao país asiático saltou de 29,3% para 37% de 2012 para o ano passado. A China comprou no ano passado 75% de toda a seja exportada pelo Brasil.
As importações da China foram puxadas pelos desembarques de soja e minério de ferro, cujo volume cresceu 8,6% e 10,2%, respectivamente. Apesar de os dois produtos básicos encabeçarem a pauta brasileira de exportação aos chineses, porém, o Brasil ganhou mercado somente na soja. O volume do grão vendido para a China no ano passado subiu 41% contra 2012 enquanto a quantidade de minério de ferro cresceu apenas 0,5%. Ou seja, avanço bem menor do que a das compras chinesas de minério.
Em valor, a alta da exportação brasileira de minério foi de 6,8%. O minério, até 2012 o principal item da pauta de vendas aos chineses, caiu para a segunda posição.
Para Castro, o minério de ferro brasileiro tende a sofrer concorrência cada vez maior da Austrália, mais favorecida geograficamente no fornecimento aos chineses. Ele lembra que há expectativa de expansão de produção da anglo-australiana Rio Tinto, em usinas mantidas na Austrália, o que deve elevar ainda mais a concorrência a partir dos próximos anos.
Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências, diz que os números de exportação para a China mostram como a demanda do país asiático ganhou importância. Ele lembra que a participação da China nas vendas do Brasil ao exterior avançaram de 17% em 2012 para 19% no ano passado. Para este ano, diz Campos Neto, a China continua importante, mas há expectativa de que as vendas para outros mercados sejam mais favoráveis.
Em 2013, o Brasil continuou perdendo mercado nos Estados Unidos, o segundo parceiro comercial mais importante do país. As importações totais dos Estados Unidos caíram 0,5% de janeiro a novembro do ano passado, na comparação com iguais meses de 2012. No mesmo período os embarques brasileiros para os americanos, porém, tiveram recuo muito maior, de 9,3%. Em relação à União Europeia, a exportação brasileira, também de janeiro a novembro, caiu 3%.
O desempenho em termos de fatia de mercado, apesar do déficit comercial para o Brasil nas trocas com o bloco no ano passado, não foi tão negativo porque as importações totais dos europeus também recuaram no acumulado até novembro, e com variação maior, de 3,7%. Os dados da União Europeia levam em consideração as importações de fora do bloco.
O recuo de importações da União Europeia está ligado ao fraco desempenho econômico de seus países, diz Campos Neto. Tanto para os americanos quanto para os europeus, porém, se espera um cenário ligeiramente melhor este ano. "São economias que estão se acelerando. Na União Europeia, ainda há desequilíbrios, mas a avaliação é de que a recessão ficou para trás."
A Tendências projeta para este ano crescimento de 2,7% e de 1,4% para Estados Unidos e União Europeia, respectivamente. As estimativas representam aceleração em relação ao avanço do PIB projetado para 2013, de 1,8% para a economia americana e de 0,1% para a dos europeus.
Os números da Argentina acabaram surpreendendo mais. Mesmo num ano em que o déficit comercial da balança brasileira perdurou de janeiro a novembro, as trocas com os argentinos tiveram saldo francamente favorável ao Brasil no decorrer de 2013, puxadas principalmente por automóveis.
No acumulado até novembro, a venda de carros brasileiros aos argentinos teve alta de 55,7%. Com isso, a exportação brasileira para o sócio do Mercosul cresceu 9,6% de janeiro a novembro de 2013, contra mesmo período de 2012. Mesmo assim o produto brasileiro não conseguiu ganhar tanto espaço no mercado do país vizinho. A importação total dos argentinos avançou praticamente no mesmo nível que as exportações brasileiras para eles, em 9,2%.
Para Castro, perdeu-se a oportunidade de ganhar mercado na Argentina. Lia Valls, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), lembra que o desempenho para este ano das vendas aos argentinos é uma incógnita. Campos Neto acredita que as perspectivas não são nada boas. O governo argentino, diz, deixou clara uma política de contenção de importações, o que deve acabar atingindo também a compra de carros brasileiros.
Fonte: Valor Econômico