Invasão de autopeças mexicanas e coreanas ameaça mercado nacional

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Além dos chineses, agora os mexicanos e coreanos também estão tirando o sono da indústria de autopeças nacional. A preocupação faz sentido. No valor absoluto, Coreia do Sul ainda está em sexto lugar no ranking dos principais exportadores de autopeças para o Brasil, com volume de US$ 1,5 bilhão. O México está em décimo, com US$ 745 milhões (acumulado de janeiro a novembro de 2013).

É o crescimento das importações que assusta: até novembro, México e Coreia do Sul aumentaram suas exportações em 48% e 53%, respectivamente, segundo último levantamento do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).

A invasão de autopeças desses dois países pode levar à ameaça de demissões no setor, que vem sofrendo com as importações – em 2012, a queda no faturamento deste mercado foi de 10%. Fábrica de motores da GM em Joinville, Santa Catarina: setor de autopeças faturou R$ 83,9 bilhões no ano passado, segundo estimativas do Sindipeças

A expectativa do Sindipeças aponta para uma balança comercial negativa em US$ 10,7 bilhões – déficit 73,9% superior ao apurado em 2012. Os dados de 2013 ainda não foram compilados. Em São Paulo, a balança comercial das autopeças está especialmente deficitária. Até novembro, o Estado estava com saldo negativo de US$ 4,5 bilhões; na sequência, o Paraná, com déficit de US$ 1, 8 bilhão. Ambos Estados são fortes no setor automotivo, com plantas da GM, Ford, Volkswagen, Honda, Hyundai, entre outros.

A consultoria EY tem acompanhado de perto esse mercado e já vê sinais de que o Brasil pode estar ficando para trás. "As importações têm crescido em velocidade muito superior à produção nacional", aponta Sérgio Fontenelle, sócio da EY para o setor automotivo. "Prova disso é o largo número de medidas antidumping nesse mercado, como no caso dos pneus chineses que estavam canibalizando o mercado brasileiro."

Embora afirme fazer parte do time dos otimistas, Fontenelle acredita que a grande questão nacional é a competitividade. "Produzir aqui é pelo menos 25% mais caro do que em locais como os Estados Unidos, por exemplo", diz.

Particularidades de México e Coreia

Mais que uma questão de competitividade, para o México entrar no mercado nacional é ainda mais vantajoso. Além de ter o custo de operação mais barato, o país desfruta de um acordo de livre comércio com o Brasil, que libera as autopeças de tributação na entrada. "Com a suspensão tarifária, nós que já não somos competitivios acabamos perdendo a disputa."

De saída, a instalação da fábrica da Hyundai em Piracicaba (SP) já justificaria boa parte das importações coreanas – no ano passado, com a fábrica instalada, a montadora vendeu cerca de 150 mil veículos, sete vezes mais que em 2012. Destes, 122 mil foram da família HB20, quarto hatch mais vendido no ano passado, o equivalente a 16% do mercado, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

No entanto, a estrutura econômica voltada para a importação também favorece o país asiático. "O custo de produção, a estrutura logística e resoluções coreanas sempre aconteceram com viés exportador. É natural que eles consigam se posicionar bem em outros mercados", diz Fontenelle.

Empregos

De cara, quem anda mais preocupado com esses números são as centrais sindicais, que temem ondas de demissão – em 2013, o Sindipeças estima que a indústria empregava 217,6 mil pessoas.

Emprego na indústria de AutopeçasAno Postos de Trabalho:


2010 224,6 mil
2011 229,5 mil
2012 218,4 mil
2013 217,6 mil

Fonte: Sindipeças

Miguel Torres, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos da Força Sindical, afirma que a indústria sente o impacto das importações. "Nos últimos oito anos já estamos sentindo o peso dessa importação", afirma.

Segundo Torres, foram feitas diversas reuniões em busca de modelos novos para administrar a questão da competitividade no Brasil. No entanto, ele reclama que em certo momento, o governo abriu mão de ouvir sua central. "Agora eles estão tomando decisões unilaterais, de desonerações com poucas contrapartidas", lamenta.

Uma das contrapartidas desejadas era a redução da rotatividade no setor. Segundo Torres, 30% da mão de obra é substituída anualmente, por funcionários menos qualificados e mais baratos. O sindicalista teme pela diminuição da produção e redução dos postos de trabalho. "Até maio o mercado deve continuar estável, mas depois se não tivermos outras medidas será difícil manter a produção."

Por ora, ainda não há demissões em massa, segundo Paulo Cayres, presidente do Conselho Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT). "O caminho do Inovar-Auto II é a melhor opção", diz. "Queremos um programa que fortaleça a nossa indústria sem prejudicar a lucratividade das empresas."

Na Proema, fornecedora de autopeças de São Bernardo do Campo (SP), essa sensação de "recheio do sanduíche" é clara. Apertada entre os custos de produção e as pressões das montadoras, representante da fabricante aponta que as margens não poderiam ser mais estreitas. Essa pressão toda acaba recaindo dentro do quadro dos funcionários. Já foram mais de 100 demitidos na empresa.

Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (na Grande São Paulo), concorda quando o assunto é a transferência dos fornecedores para fora do Brasil. "Desde 2009 que estamos vendo essa inversão da pauta. Antes o equilíbrio era melhor", explica.

Ele conta com a evolução do programa Inovar-Auto para garantir uma nova reversão antes que países como México, China, Coreia do Sul, entre outros, abocanhem uma parcela ainda maior do mercado de autopeças nacional. "Não tem condições de competir com eles sem uma mudança nesses acordos."

Fonte: IG

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