Cinturão cafeeiro do Brasil luta contra rara ameaça: calor e tempo seco

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No cinturão cafeeiro do Brasil, a geada costumava ser o maior risco para os fazendeiros e negociantes de commodities. Mas depois de anos de migração para regiões mais quentes, os agricultores agora se veem às voltas com a luta para superar um fenômeno raro: o calor escaldante.

Janeiro foi o mês mais quente e seco registrado até hoje em boa parte do Sudeste do Brasil, castigando culturas no coração agrícola do país e empurrando fortemente para cima os preços das commodities nos mercados mundiais.

Com sinais emergindo de que as lavouras do maior produtor global podem estar definhando, os preços no mercado futuro subiram 26 por cento ao longo de sete dias, para seu valor mais alto em nove meses. A onda de calor lançou muitos cafeicultores brasileiros em terreno desconhecido. Janeiro, normalmente o mês mais chuvoso na região cafeeira, pegou os cafeicultores desprevenidos, deixando-os com poucas opções, a não ser contar as perdas.

Alguns poucos, como Marcio Diogo, terceira geração de uma família de produtores de Espírito Santo do Pinhal, em São Paulo, estão se empenhando na instalação de linhas de irrigação para limitar esses prejuízos, que podem ter alcançado 30 por cento da produção em sua propriedade de 75 hectares, de acordo com seu relato.

"Meu avô que começou aqui 80 anos atrás... nunca tinha visto um janeiro como este", disse Diogo, enquanto caminhava pelo cafezal com 25.000 pés plantados há pouco tempo, que ele encomendou seis meses atrás.

"Tive de molhar este campo seis vezes, com trator", prosseguiu, citando algo que normalmente não precisa fazer.

A seca não poderia ter vindo em pior hora para Diogo e outros produtores, que enfrentaram nos últimos dois anos preços baixos no mercado mundial de café. Ainda não está claro se a recente alta nos preços, em parte provocada pela seca no Brasil, vai compensar, no final, a perda de produção causada pelo tempo seco.

Celso Scanavachi, agrônomo de uma cooperativa local de café, disse que as fazendas da região receberam somente de 10 a 12 centímetros de água da chuva em janeiro, menos de metade da média de precipitação no mês.

Espírito Santo do Pinhal, encravada ao longo da divisa entre os dois Estados maiores produtores do tipo arábica no Brasil --Minas Gerais e São Paulo-- não está sozinha.

Duas horas para o norte, no sul de Minas --Estado que produz 25 por cento da safra de café do país--, no mês passado caiu entre 4,5 e 8,6 centímetros de chuva, quando a média é de 26,5-30,1 centímetros. Sem dúvida, 2014 vai ficar marcado como o ano da pior seca na história recente do cinturão cafeeiro no Brasil.

O impacto, porém, ainda é difícil de avaliar. Antes da seca o governo estimou a colheita em até 50 milhões de sacas de 60 quilos, enquanto os cálculos do mercado eram de 60 milhões de sacas. Novas previsões ainda vão levar alguns meses para sair, até analistas e fazendeiros formarem um quadro mais preciso sobre os danos.

"Está claro que haverá perdas, mas ninguém sabe ainda qual a dimensão, porque isto nunca aconteceu. Estamos em território inexplorado", disse Lúcio Dias, produtor e diretor de vendas da maior cooperativa de café do Brasil.

Qualquer que tenha sido o prejuízo, o mundo provavelmente não ficará sem café em nenhum momento no curto prazo, graças aos grandes estoques de grãos acumulados nos últimos anos.

Algum alívio de curto prazo parece estar a caminho. Uma frente fria passava sobre o sul do Brasil nesta quarta-feira e deve trazer um pouco de umidade para a lavouras nos próximos dias, embora não haja previsão de chuva por todo o cinturão cafeeiro antes de 20 de fevereiro.

Ainda assim, é pouco provável que as chuvas sejam pesadas o suficiente para reverter o dano às lavouras ou recuperar a chuva perdida em janeiro e começo de fevereiro.

"Aqueles são os meses de pico para a temporada chuvosa, e ele já está terminando", disse Celso Custódio, meteorologista sênior da Somar Meteorologia.

Fonte: Reuters

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