Deficit no comércio bilateral com os EUA tem queda de 22,40% nos dois primeiros meses do ano

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O deficit comercial do Brasil com os Estados Unidos caiu 22,40% nos dois primeiros meses do ano, comparativamente com igual período de 2013. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), no bimestre a balança é favorável aos americanos em US$ 1.825 bilhão, contra US$ 2,352 bilhões no ano passado.

O resultado é fruto de exportações brasileiras de US$ 3,935 bilhões e vendas americanas no montante de US$ 5,760 bilhões. Ano passado, o Brasil acumulou um saldo negativo de US$ 11,349 bilhões no intercâmbio com os Estados Unidos, o maior deficit na história do comércio entre os dois países.

Os números foram obtidos junto ao MDIC um dia depois de o secretário do Tesouro americano, Jacob Lew, ter estado em Brasília, na primeira visita de uma autoridade do primeiro escalão do governo dos Estados Unidos desde as denúncias de espionagem feitas em meados do ano passado pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden e que levaram a presidente Dilma Rousseff a cancelar visita de Estado programada para Washington, a convite do presidente Barack Obama. Após reunir-se com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o secretário Lew reforçou a importância das relações com o Brasil, que considerou um parceiro "de grande importância" para os Estados Unidos e também falou do interesse do governo americano em aumentar ainda mais as relações comerciais com o Brasil.

Segundo Jacob Lew, "temos uma relação em expansão, rápida e baseada em valores comuns. Os dois países reconhecem os benefícios de trabalharem juntos e vão explorar novos tipos de parcerias bilaterais".

Barreiras comerciais

Ampliar e diversificar o intercâmbio comercial bilateral é também uma pretensão do governo brasileiro, mas esta não é uma tarefa fácil, tantas são as barreiras que impedem a entrada de certos produtos brasileiros no mercado americano. É o que acontece com relação à carne bovina, por exemplo.

A cada ano os Estados Unidos importam mais de um milhão de toneladas do produto in natura. Nenhuma tonelada procede do Brasil. Caso o governo americano decida abrir o mercado para os produtores nacionais, o Brasil entraria numa cota para "outros países", que é limitada em 65 mil toneladas por ano.

Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec), Fernando Sampaio, "é muito pouco se comparado com o que eles importam, mas é um começo. Além disso, não podemos ignorar que o reconhecimento formal americano atestando a qualidade e sanidade do produto brasileiro abre portas em outros importantes mercados, como os do México e Canadá".

A entrada da carne brasileira no mercado americano enfrenta um lobby poderosíssimo no Congresso do país. Recentemente, oito parlamentares de seis Estados (entre eles, grandes produtores de carne bovina como Kansas, Montana e Wyoming) enviaram carta ao secretário de Agricultura, Thomas Vilsack, pedindo o adiamento por mais 60 dias do período de consulta pública que trata da abertura do mercado americano.

Na opinião desses parlamentares contrários à importação, liberar a carne in natura do Brasil "tem graves implicações sobre o comércio, a segurança alimentar e a saúde do rebanho americano".

Reconquista do mercado dos EUA

Os Estados Unidos foram, isoladamente, o principal responsável pelo elevado deficit acumulado pelo Brasil no comércio exterior em 2013 e para tornar esse intercâmbio mais equilibrado é fundamental que o comércio bilateral com os americanos se assente em bases mais igualitárias. A opinião é do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

O presidente da AEB afirma que "o Brasil abandonou o mercado americano como comprador", passando a colocar seu foco principal no Mercosul e em outros países latino-americanos. Porém, além da crise na Argentina, principal destino das exportações brasileiras de produtos industrializados e terceiro maior mercado para os produtos brasileiros em todo o mundo (atrás apenas da China e dos Estados Unidos), os chineses agora ocupam espaços na região que constituíam até recentemente mercados cativos do Brasil.

Segundo José Augusto de Castro, com a melhora da taxa cambial e a volta do crescimento ainda que tímido da economia americana, o Brasil tem chances de conquistar espaços perdidos no comércio internacional. Porém, ele ressalta que os Estados Unidos voltam a ser "um mercado novo que precisa ser conquistado e isso demanda tempo e muito trabalho".

José Augusto de Castro recorda que há cerca e uma década, sete dos dez principais produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos eram manufaturados, como aviões, celulares, calçados e automóveis. Em 2013, apenas dois produtos industrializados, aviões e motores geradores, ocupavam lugar de destaque na pauta exportadora brasileira para o mercado americano.

No primeiro bimestre deste ano, os principais produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos foram petróleo bruto (US$ 221 milhões), partes de turborreatores (US$ 187 milhões), café não torrado (US$ 153 milhões), pasta química de madeira (US$ 131 milhões) e produtos semimanufaturados, de outras ligas de aços (US$ 127 milhões).

Por outro lado, entre as exportações dos Estados Unidos para o Brasil no primeiro bimestre do ano figuraram óleo diesel (US$ 608 milhões), outros propanos liquefeitos (US$ 268 milhões), partes de turborreatores (US$ 226 milhões) e trigo (US$ 164 milhões).

Fonte: Comex

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