Brasil tem pauta de exportação com perfil dos anos 40

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O Brasil, em 2014, retrocedeu ao fim dos anos 40, considerando a sua colocação no mercado internacional, informa o especialista e ex-secretário de comércio exterior Welber Barral. Com mais intensidade do que em qualquer período desde 2010, quando os industrializados perderam o posto de primeiro lugar na lista dos produtos mais exportados, neste ano o país aproximou-se ainda mais dos seus vizinhos latinoamericanos.

República das Commodities, classifica Barral, mesmo status ocupado lá nos tempos em que a cantora Marlene se consagrava como Rainha do Rádio, e o Vasco, como primeiro clube campeão da América. Idos tempos em que a economia brasileira era pautada pelo café. Agora, são o minério de ferro e a soja que ditam a colocação do Brasil no exterior — e, por consequência, uma relevante fatia do desempenho da atividade econômica.

De janeiro a abril de 2014, foi acumulada a maior participação de produtos básicos no total exportado desde o início da série histórica divulgada pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), em 1998. Há cinco anos, os produtos primários respondiam por 40,5% e os industrializados, por 44%. De lá para cá, a distância entre um e outro grupo só aumenta. Até que, neste ano, chegou ao ápice — os básicos respondem, atualmente, por 49% do total comercializado, enquanto os manufaturados, por 37%. Na pauta de exportação, básicos e semimanufaturados ocupam as dez primeiras colocações em valores. Combustíveis e automóveis, produtos de mais valor agregado do que as commodities, só aparecem na décima-primeira e décima-segunda colocações, com 1,75% e 1,56% de participação nas vendas, respectivamente, enquanto o minério de ferro, líder na lista, responde por 14,25% do total.

Até mesmo os aviões da Embraer, orgulho nacional, perderam espaço no comércio exterior. Em 2009, respondiam por 2,52% e eram os industrializados mais exportados pelo país, mas, no acumulado de 2014, sua colocação no ranking caiu de sétimo (em 2009) para décimo-oitavo, respondendo por 1,13% do total.

Ter a pauta de exportação baseada em commodities não é um mal em si, diz Barral. Ha países desenvolvidos, como os Estados Unidos e o Canadá, na mesma condição. A diferença, complementa, é que esses países têm um setor de serviços bastante avançado, capaz de contrabalançar quaisquer perdas impostas pelo mercado internacional de commodities. No Brasil, o setor de serviços também vem ganhando importância na economia, tomando posição antes ocupada pela indústria.

No entanto, os serviços brasileiros têm menos produtividades do que os americanos. "O problema é só exportar commodities. O risco é ter uma dependência excessiva dos preços internacionais, porque grandes compradores podem ter influência forte nos preços, como ocorre hoje com a China. Em geral, as commodities têm pouca agregação de valor, por isso geram menos emprego e impostos, e incrementam menos a cadeia produtiva, do que os industrializados", afirma Barral.

Assim como o ex-secretário da Secex, José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), faz uma ressalva sobre a análise da pauta de exportação brasileira. Embora tenhamos retrocedido no tempo, exportar minério de ferro e soja é melhor do que exportar café. Porque a produção de minério e de soja utiliza mais tecnologia e, particularmente no caso do minério, são utilizadas máquinas e equipamentos complexos, cujos custos são incorporados aos preços. Portanto, "exportar minério significa exportar máquinas e equipamentos produzidos no Brasil", diz Castro.

O demérito está no fato de o crescimento das commodities na balança comercial estar ocorrendo em contrapartida a um fenômeno recente no Brasil, que alguns economistas classificam como desindustrialização. A produção de primários cresce à medida que a de industrializados encolhe, assim como a sua exportação. O presidente da AEB atribui boa parte dessa história ao câmbio, que nos últimos anos favoreceu a importação e prejudicou as vendas externas, com a valorização do real em comparação com o dólar. Já Barral, aponta políticas fiscais equivocadas como causa.

Fonte: Brasil Econômico

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