Empresários avaliam desafios do Brasil frente ao mercado externo
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- 01/07/14
A alta tributação sobre os produtos, os encargos sociais sobre a folha salarial e a ineficiência da infraestrutura - essencialmente, de transporte - são postos como os principais entraves aos investimentos no Brasil, em comparação com outros países, como Coreia do Sul - e outros asiáticos - e Estados Unidos.
A avaliação é de empresas gaúchas com atuação internacional.
Por outro lado, o investimento em inovação, o aproveitamento do potencial do mercado interno e a reforma fiscal são algumas das apostas para melhorar a competitividade do País no mercado internacional.
A Belsul, companhia gaúcha de importação e distribuição de matérias-primas no setor químico e petroquímico, atua, desde o ano passado, em Nova Iorque. De acordo com o diretor-presidente, Sérgio Corrêa, os Estados Unidos se tornaram ainda mais atraentes para os investidores após "revolução do shale gas". Trata-se de uma fonte de energia abundante e de baixo custo, apesar de gerar controvérsias quanto ao seu impacto no meio ambiente. "O shale possibilitou matéria-prima muito barata para produção de termoplásticos e outros produtos, o que desencadeou uma série de investimentos que devem começar a maturar a partir de 2016 ou 2017", projeta. Entretanto, além da estabilidade econômica e da oferta energética atraente para seu setor, margens de tributação mais "estáveis" levaram a empresa ao país norte-americano. "Apesar de ser o mercado mais competitivo do mundo, possui um sistema de taxação mais transparente. Os players conhecem os valores dos negócios envolvidos e os preços relativos, com isso há estabilidade maior na margem operacional e possibilidade de planejamento da atuação. Além disso, a demanda por capital de giro lá tende a ser 30% menor do que aqui", explica.
Corrêa destaca, ainda, o crescimento da integração entre Ásia e Pacífico. Chile, México, Peru e Colômbia assinaram, em fevereiro, um acordo para eliminar tarifas comerciais em 92% dos produtos que negociam entre si. Os três primeiros, ao lado dos Estados Unidos, fazem parte da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.
Vislumbrando oportunidades de cooperação entre Coreia do Sul e países da América voltados ao Pacífico, a Belsul abriu um escritório comercial em Seul. "Enquanto o Brasil segue voltado ao Mercosul, todas essas nações têm ou estão em processo de implantação de acordos com a Coreia. Trata-se de um país com sistemas comerciais e trâmites burocráticos facilitados", avalia.
O grupo Randon, por sua vez, possui fábricas na Argentina, Estados Unidos e China, além de um centro de distribuição no país latino-americano. Segundo o vice-presidente das empresas Randon, Daniel Randon, a China tem similaridades com outros países emergentes, como o Brasil: principalmente, altos encargos sociais e inflação do custo da mão de obra. Entretanto, investimentos em infraestrutura e educação têm elevado a produtividade dos asiáticos. "A desoneração da folha tem contribuído para baixar um pouco os encargos no Brasil. Mas continuamos com três ou quatro vezes mais impostos, e o que poderia ser revertido em salário para o colaborador acaba se tornando despesa", reclama.
O mercado externo representa 45% das receitas do Grupo. Para Randon, mudanças na tributação brasileira deveriam deixar o sistema mais transparente, além de impactar em matérias-primas básicas, como aço, alumínio e energia, com o objetivo de deixar o País mais competitivo. "A legislação não é clara e gera uma preocupação que exige ampla estrutura de pessoal na área fiscal, gerando custos e tomando muito tempo. Além disso, o Brasil, como exportador de commotidies agrícolas e minério, precisa de eficiência na matriz de transporte, uma logística melhor de portos, aeroportos e rodovias."
Com presença na América Latina, África e Oriente Médio, a Agrale tem como meta, de acordo com o diretor executivo, Rogério Vacari, vender 25% da sua produção para o mercado externo. O alto custo, entretanto, retira a competitividade do que é produzido no Brasil e faz com que o patamar atual esteja em 15%. "Para levarmos um contêiner de Caxias do Sul até o porto do Rio Grande, custava mais do que levar o mesmo contêiner de Rio Grande via marítima até o porto de Cartagena, na Colômbia. Ou seja, o País tem uma grande ineficiência de custos, e o consumidor do mercado de fora não está disposto a pagar por isso", exemplifica.
Ao comparar o custo da mão de obra local com a externa, Vacari alerta que os elevados encargos sociais inflam a folha salarial da primeira, tornando-a muito mais cara do que a de outros países. "Além disso, no cenário econômico, a capacidade de investimento das empresas é comprometida pelas altas taxas de juros", completa Vacari.
País pode se valer de dois trunfos
Na opinião dos empresários, para retomar a competitividade e atrair, inclusive, os investidores estrangeiros, o Brasil precisa de uma reforma que torne sua legislação fiscal mais transparente, além de incrementar ainda mais o investimento em educação, inovação e infraestrutura. Em consonância, o País pode se valer de dois trunfos especiais: um mercado interno crescente e a visibilidade internacional obtida nos últimos anos.
O vice-presidente das empresas Randon, Daniel Randon, é otimista ao analisar as perspectivas brasileiras de longo prazo. "É um País de grandes oportunidades se houverem os investimentos já citados. Temos quase 200 milhões de habitantes e uma classe emergente demandante por consumo. É normal uma esfriada no mercado devido aos problemas que ainda temos, mas diversos setores têm potencial de crescimento", projeta.
Para Randon, a inovação deve ser um dos pilares da retomada da confiança e da produtividade. "Projetos de pesquisa e inovação já têm sido vistos como alternativas. Temos que trabalhar mais as parcerias entre empresas e universidades para obter desenvolvimento e produtividade. Dessa forma, dando atenção à tecnologia, as empresas conseguirão melhorar sua competitividade. Em relação à infraestrutura, as concessões à iniciativa privada podem ser uma opção para investimentos pesados que aumentem nossa eficiência", completa.
Sérgio Corrêa, presidente da Belsul, não é tão otimista em curto prazo, mas também crê em um futuro melhor. "Notamos uma redução da disponibilidade de financiamento aos nossos clientes. Esperamos, mais uma vez, um crescimento modesto em 2014 e 2015. Houve certo desencanto das empresas estrangeiras que pensavam em empreender aqui. Mas eles acreditam, principalmente, na capacidade do mercado interno, nas reservas naturais e no volume da produção agrícola."
Fonte: Jornal do Comércio