Brasil expande produção de vinho, mas mapeamento ainda é deficiente

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O mapa da produção brasileira de vinhos finos (elaborados a partir de uvas viníferas de origem europeia) se expande atualmente para muito além das fronteiras da Serra Gaúcha, seu terroir mais tradicional e conhecido, e de onde ainda sai mais de 90% do vinho fino nacional consumido no país. No entanto, uma consulta aos dados da produção brasileira de uvas e vinhos do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) revela um perfil bem menos abrangente - limitado basicamente ao Estado do Rio Grande do Sul, sede do órgão que coordena as ações do setor no país. Por que isso? Antes, uma breve panorâmica do que se faz hoje no país em matéria de vitivinicultura.

Atualmente, no Rio Grande do Sul mesmo, novos polos vitivinícolas conquistam espaço com vinhos premiados em concursos nacionais e internacionais, como a Campanha, no extremo Sul do Estado, fronteira do Brasil com o Uruguai e a Argentina, a Serra do Sudeste, o Alto Uruguai e os Campos de Cima da Serra, ao Norte, na divisa com Santa Catarina.

Embora dentro do mesmo Estado, são terroirs completamente diferentes em topografia, solos e microclimas, e seus vinhos já apresentam características distintas, mesmo quando elaborados com as mesmas variedades de uvas. É para essas essas novas regiões, com verões mais secos e terras mais planas (adequadas à mecanização) e baratas, aliás, que muitas cantinas da Serra, como Miolo, Salton, Valduga ou Lídio Carraro estão expandindo seus vinhedos. A verdade é que produção de vinhos finos, no Brasil, há muito deixou de ser monopólio do Rio Grande do Sul. Produtores de outros Estados vem investindo em vitivinicultura com sucesso. Para isso, buscam variedades mais adaptáveis às condições de solo e clima de cada região, e desenvolvem técnicas de manejo adequadas à produção de uvas viníferas (próprias para a elaboração de vinhos) de alta qualidade em suas terras.

Dois exemplos: a irrigação de vinhedos da casta Shiraz (ou Syrah, como é chamada na França, sua terra natal), no Médio Vale do São Francisco (divisa da Bahia com Pernambuco), e a poda invertida (desbaste das videiras no verão e colheita no inverno) no Sul de Minas Gerais.

O Planalto Serrano Catarinense, a mais de 1.300 metros de altitude em relação ao nível médio do mar e com invernos gelados, é hoje um importante pólo vitivinícola especializado na produção dos chamados vinhos de altitude. Em torno de municípios como São Joaquim, Água Doce e Videira, empresários de importantes segmentos da economia catarinense, como a indústria têxtil, a construção civil ou a indústria de plásticos para embalagens, investem pesado em vinhedos e vinícolas modernos, e seus vinhos elegantes e criativos já começam a chamar a atenção de críticos nacionais e estrangeiros.

Destacam-se, nesta região, os vinhos das casas Villa Francioni, Krantz, Villaggio Grando, Pericó e Santa Augusta . A Pericó lançou há alguns anos o primeiro icewine (vinho elaborado com uvas sobremaduras congeladas) e a Santa o primeiro vinho biodinâmico brasileiro (elaborado sem o uso de agroquímicos e em harmonia com as fases da Lua e com os ciclos natureza, conforme a filosofia do pensador alemão Rudolf Steiner), o IMorTali - ambos criações do enólogo e engenheiro agrônomo gaúcho Jefferson Sancineto Nunes.

Mais acima no mapa do Brasil, no Estado do Paraná, há outro polo vitivinícola emergente, localizado no município de Toledo, onde a vinícola Dezem, com seus 11,5 hectares de vinhedos, elabora cerca de 40 mil litros de vinhos finos por ano.

No Estado de São Paulo, em torno de São Roque, onde havia tradicionalmente produção de vinhos coloniais, elaborados com uvas americanas (Niágara, Isabel, etc), a Vinícola Góes produz atualmente vinhos finos com a uva Cabernet Sauvignon. Em Espírito Santo do Pinhal, tradicional polo cafeeiro, outra vinícola, a Guaspari, prepara o lançamento de vinhos elaborados a partir das castas Syrah e Sauvignon Blanc.

A dobradinha vinho-café ganha força também no Sul de Minas Gerais. Descontentes com os preços do grão, e orientados por técnicos da Epamig, a empresa estadual de pesquisa agropecuária, cafeicultores de Diamantina, Caldas, Varginha, Três Corações e Três Pontas investem com entusiasmo na vitivinicultura. O pesquisador da Epamig Murilo Albuquerque Regina é um entusiasta da vitivinicultura regional. Ele mesmo produziu um dos primeiros vinhos finos locais, o Primeira Estrada, um tinto elegante e de bom corpo elaborado com a uva Syrah, casta que tem apresentado os melhores resultados na região, ao lado da também francesa Sauvignon Blanc.

A tradicional fazenda cafeeira Capetinga, de Três Pontas (MG), também já tem o seu Syrah, que recebeu o nome de Maria, Maria - homenagem ao cantor e compositor Milton Nascimento, filho ilustre do município. Como chove muito no verão e faz bastante calor no inverno, os produtores locais inverteram o manejo da videira: podam em março/abril e colhem em agosto/setembro. Os resultados têm sido animadores.

Há, também, produção em pequena escala de vinhos finos em Goiás, no Rio de Janeiro, na Bahia (Chapada Diamantina) e no Maranhão. Mas, fora dos limites do Rio Grande do Sul, nenhuma outra região brasileira possui uma vitivinicultura tão antiga e consistente, em termos de área cultivada e volume de produção, como o ensolarado Médio Vale do São Francisco.

Por lá, desde o início da década de 1980 municípios como Juazeiro e Casa Nova, na Bahia, ou Petrolina e Lagoa Grande, em Pernambuco, grandes projetos vitivinícolas nacionais e estrangeiros, como o da Fazenda Ouro Verde (controlado pelo gaúcho Miolo Wine Group) e o da Dão Sul (grupo português) elaboram vinhos finos de qualidade. Os destaques são as uvas Syrah e Moscato - cultivadas com irrigação, o que permite até 2,5 safras por ano. A região - tradicional produtora de uvas de mesa, manga e outras frutas para exportação - já abriga mais de 800 hectares de vinhedos em plena caatiga nordestina.

Contudo, se o mapa vitivinícola do Brasil é muito mais amplo do que se imagina, por que então os dados de produção de uvas e vinhos no Brasil limitam-se basicamente ao Rio Grande do Sul? Embora esses números ainda sejam significativos, dado que o Estado gaúcho detém mais de 90% da produção de vinhos finos do país, é fato incontestável que as estatísticas atuais não refletem a realidade da moderna vitivinicultura brasileira.

O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), que centraliza os números do setor, culpa o governo pela falta de dados. "O Brasil só não tem dados nacionais de sua vitivinicultura porque o Ministério da Agricultura não faz a sua parte", diz o diretor-executivo Carlos Paviani. Ele esclarece que é o obrigação do Ministério da Agricultura levantar esses dados, mas, segundo ele, isso não tem sido feito.

O dirigente acrescenta que o Ibravin, em conjunto com a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, a Embrapa e a Superintendência do Ministério da Agricultura no RS, já elabora, sistematicamente, o Cadastro Vitícola, com o levantamento da produção de uvas e vinhos do RS, e o Vinícola, com a produção de uvas e vinhos do Estado gaúcho e de vinhos de Santa Catarina. O softwere desse levantamento já foi disponibilizado para o Ministério da Agricultura "há cinco ou seis ministros antes do atual", diz Paviani, mas não houve interesse por ele.

Para resolver o problema da carência de números mais abrangentes, foi assinada, em junho, uma portaria que cria o comitê de implantação do Mordervitis (Programa de Modernização da Vitivinicultura). Esse programa prevê que o Ministério da Agricultura coordene o levantamento de dados em nível nacional - como já faz com outras culturas. A produção de uvas e vinhos - que é regulada pelo Ministério da Agricultura - passaria a contar, assim, com dados de todos os Estados, e teríamos então um retrato de corpo inteiro da pujante vitivinicultura brasileira.

Fonte: Globo Rural

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