Aumento de biocombustível no diesel estimula pesquisas com oleaginosas
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- 21/07/14
"Uma vitória para o Brasil" é como a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) está considerando o aumento de 5% para 6% na mistura de biodiesel ao diesel. Aguardado há quatro anos pelo setor, o novo porcentual foi anunciado no final de maio e entrou em vigor em 1º de julho. Está previsto mais um aumento em novembro, quando o combustível de veículos pesados passará a conter 7% de biodiesel.
A expectativa de chegar a 20% de adição de biodiesel ao óleo diesel, somada a outros biocombustíveis surgindo no mercado, estimula a busca de novas fontes de óleo. As pesquisas, por sua vez, geram resultados que beneficiam não só a indústria de biodiesel e de rações animais, mas também outras áreas, como a oleoquímica.
De acordo com o Ministério das Minas e Energia, cada ponto porcentual de biodiesel na mistura permite que o Brasil deixe de importar cerca de 600 milhões de litros de óleo diesel por ano. Outros benefícios bastante divulgados pelo setor são a geração de empregos e renda para agricultores familiares, a redução de emissões de gases de efeito estufa e o processamento de maior volume de soja no país. O biodiesel gerou também um novo salto de investimentos em pesquisa, uma vertente menos conhecida do produto. O pesquisador Bruno Galvêas Laviola, da Embrapa Agroenergia explica:
– Desde a implementação do programa de biodiesel, houve todo um incentivo à pesquisa com oleaginosas tradicionais – soja, girassol, algodão –, bem como às espécies potenciais – pinhão-manso, macaúba, dendê.
O biodiesel despertou interesse comercial por espécies nativas como macaúba, babaçu, inajá e tucumã, que até então era inexistente ou muito baixo. São espécies pouco exploradas, na maioria dos casos de forma apenas extrativista. As pesquisas são necessárias para desenvolver cultivares e estabelecer sistemas de produção eficientes em escala comercial. Além disso, abriu caminho para o processamento de óleos não comestíveis, a exemplo do pinhão-manso. Outra planta sobre a qual a expectativa de uso do óleo na indústria de biodiesel impulsionou a pesquisa é o dendê, cujo óleo já tem espaço no mercado nacional – atendido parcialmente por importações.
Também foram impulsionados os estudos com os coprodutos e resíduos gerados pela extração do óleo de várias espécies. A torta do pinhão-manso é um desafio porque é tóxica e precisa de um sistema muito eficiente de destoxificação para ser usada como ração – principal mercado para farelos de oleaginosas. Já as diferentes partes do fruto da macaúba podem ser usadas na alimentação humana ou animal, bem como na produção de cosméticos e carvão ativado. Isso depende, contudo, do desenvolvimento de tecnologias eficientes de colheita e processamento dos frutos.
Esses aspectos estão em estudo na Embrapa e em outros centros de pesquisa e universidades brasileiras, já com alguns resultados promissores. A expectativa é que, com mais oleaginosas no mercado, novas opções de concentrados proteicos favoreçam a produção animal. As tortas também podem ser aproveitadas no próprio campo, como fertilizantes orgânicos. Há ainda os estudos para identificar compostos de importância comercial nos coprodutos e resíduos da cadeia do biodiesel.
– Quanto maior diversidade de oleaginosas, mais moléculas e compostos de interesse podemos encontrar – explica a pesquisadora Simone Mendonça, da Embrapa Agroenergia, que trabalha com o aproveitamento de resíduos de algodão, dendê, crambe, pinhão-manso e microalgas.
Fonte: RuralBr