Na África, Dilma pede reforma 'urgente' de organismos internacionais
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- 27/02/13
Fonte: Folha de São Paulo
Data: 22/02/2013
Diante de representantes de governos da África e da América do Sul, a presidente Dilma Rousseff defendeu nesta sexta-feira uma reforma "urgente" para dar mais espaço e voz aos países em desenvolvimento nos organismos como o Conselho de Segurança da ONU, o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Mundial e a OMC (Organização Mundial do Comércio).
"Para o Brasil é urgente a reforma da ONU. Nada justifica que África e América do Sul permaneçam sem representação permanente no Conselho de Segurança. É também urgente reformar o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, para que esses organismos sejam mais sintonizados com as demandas, os pleitos e os anseios do mundo em desenvolvimento", disse, durante discurso na III Cúpula ASA (América do Sul-África) em Malabo, capital da Guiné Equatorial.
A declaração explícita de Dilma é uma tentativa de mobilizar os dois continentes para forçar mudanças há muito pleiteadas pelo governo brasileiro.
Além disso, o Brasil indicou o nome do embaixador Roberto Azevedo para diretor-geral da OMC, candidatura lembrada pela presidente durante o discurso. O evento foi usado também pelo Itamaraty para fazer campanha por Azevedo junto aos representantes de governos africanos.
FUNDO DE FINANCIAMENTO
Nesta sexta, além de oferecer parcerias aos africanos, em especial nas áreas de agricultura, distribuição de medicamentos e formação profissional, a presidente também se colocou favorável à criação do grupo de trabalho para tirar do papel o fundo que financiaria projetos na África e na América do Sul.
A criação do fundo dividiu representantes das duas regiões. Enquanto os africanos pressionam para tirar do papel a proposta idealizada em 2009 e que contaria com doações voluntárias dos 66 países que compõe o bloco ASA, o Brasil resiste à ideia por temer ser o principal colaborador do fundo.
A solução proposta por diplomatas brasileiros e acatada pelos representantes de outros países foi criar um grupo de trabalho que definirá regras e critérios para fazer o fundo funcionar.
Dilma, durante o discurso nesta sexta, adotou um tom mais ameno que o dos diplomatas brasileiros que conduziram a negociação e insistiram em usar mecanismos já existentes.
"Estamos motivados a construir o grupo de trabalho que irá definir de forma muito clara as condições de um fundo de financiamento de projetos em todas as áreas nas nossas regiões. Esse fundo de financiamento terá de ser colocado em pé e ai vão ser definidas as participações e os métodos de liberação de recursos".
A presidente também destacou a necessidade de incrementar ainda mais o comércio entre as duas regiões que, segundo ela, cresceu 447% em 10 anos.
"Olhamos com muito interesse a formação de mecanismos de incentivo para que mais empresas, produtos e serviços cruzem o Atlântico nos dois sentidos", afirmou Dilma, que destacou os feitos de seu governo para a redução da miséria.
OSVALDO ERRADO
Durante a abertura do encontro com chefes Estado, redes de internet e telefone foram bloqueadas, deixando todos os participantes "desconectados" por quase duas horas.
Dilma permaneceu ao lado dos presidentes do Benin, Boni Yay, e do ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, o anfitrião do encontro. A presidente trocou impressões com Yay, que esteve no Brasil no ano passado, por diferentes oportunidades e praticamente não falou com Obiang, desde 1979 no poder.
Durante o discurso, ao falar dos medicamentos produzidos no Brasil contra epidemias tropicais que podem ser exportados para a África, Dilma confundiu o nome do médico sanitarista Osvaldo Cruz com o do advogado e diplomata Osvaldo Aranha.