Crise fecha tradicional fábrica de porcelana italiana

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Fonte: Folha de São Paulo
Data: 11/03/2013


Durante quase 300 anos, a fábrica Richard Ginori produziu porcelanas artesanais que agraciaram museus e mesas do mundo todo.

Mas isso não serve de consolo para os mais de 300 empregados ameaçados de demissão desde que a fábrica foi declarada falida, em janeiro.

Numa manhã recente, empregados zanzavam perto da entrada, na esperança de que um novo dono salve a empresa e preserve o coração dessa cidade, vizinha a Florença, onde cada família está de alguma forma ligada à fábrica.

"Há leis para salvar os pandas", disse a funcionária Valentina Puggelli. "Queremos salvar algo igualmente raro."

Discute-se muito aqui como uma empresa fundada em 1735, tendo resistido a revoluções na indústria e nos gostos populares, pôde ir à falência.

As respostas dizem muito sobre as forças que fustigam as pequenas e médias indústrias da Itália num momento de crescente competição global e de crise econômica doméstica.

Os jantares formais estão gradualmente acabando. Com eles, também o mercado para a porcelana feita à mão, cuja produção é demorada e cara.

A empresa precisou optar entre tentar preservar seu status como um luxuoso produto com o selo "Made in Italy" ou ceder aos gostos mais baratos do mercado global. Optou pelo segundo caminho e passou a produzir mais produtos para o cotidiano.

Mas os elevados custos trabalhistas e tributários da Itália deixaram a empresa em desvantagem perante a concorrência.

"A Richard Ginori precisa capitalizar em cima da sua alta qualidade", disse o empregado Giovanni Nencini.

"Nós somos a Ferrari da porcelana, mas os planos estratégicos dos últimos anos rebaixaram a qualidade da marca."

Muitas marcas famosas -Wedgwood, Spode, Rosenthal- foram igualmente incapazes de sobreviver num mercado inundado por louças mais baratas.

Os italianos atualmente compram da China cerca de 60% das suas louças, segundo a entidade setorial Confindustria Ceramica, que representa 273 fábricas com 37 mil empregados.

A associação acusou os chineses de fazerem dumping, vendendo no mercado italiano seus produtos a um custo inferior ao de produção, o que levou a Comissão Europeia a impor alíquotas de importação de 59% sobre alguns utensílios de mesa chineses.

Apesar dos esforços de alguns ex-proprietários para dar novos rumos à Richard Ginori e trazer designers de primeiro time, como Paola Navone, atual diretora artística, o investimento foi insuficiente, segundo críticos.

Hoje, os empregados fantasiam que um novo proprietário trará "a mesma iluminação e o mesmo coração", disse a decoradora Letizia Filippini.

O marquês florentino Carlo Ginori inaugurou a fábrica original aqui em 1735, após vasculhar a Toscana atrás de caulim, a argila branca que é o ingrediente essencial da porcelana.

O negócio floresceu e continuou na família até se fundir em 1896 com a Richard Ceramics, de Milão, dando origem à Richard Ginori.

Naquela época, a empresa fazia peças customizadas para transatlânticos, hotéis de luxo e o Vaticano. Na década de 1930, empregava cerca de 2.000 funcionários.

O começo do fim, segundo muitos, foi há 40 anos, quando a fábrica tornou-se só mais um patrimônio nas carteiras de uma sucessão de empresas italianas.

Em maio passado, os acionistas decidiram reduzir seus prejuízos -que perfaziam uma dívida de € 75 milhões- e fechar a fábrica.

Liquidantes judiciais encontraram um comprador, uma joint venture entre a americana Lenox, fábrica de louças e presentes, e a fábrica de cerâmicas romena Apulum. Mas o acordo não foi adiante. Os liquidantes têm agora até meados de maio para encontrar um comprador que reative a marca. A Lenox e a Apulum dizem estar preparando uma nova proposta.

A cidade de Sesto Fiorentino pouco tem a fazer para determinar o que acontecerá com a fábrica, mas seu prefeito, Gianni Gianassi, insiste que a indústria deve continuar lá.

"O capital estrangeiro é bem-vindo, mas as cabeças e mãos da fábrica devem continuar sendo toscanas", afirmou.

Enquanto isso, o empregado Mauro Poggiali, 35, estudava uma escala junto aos portões, para atender a encomendas que chegaram do Japão depois que a fábrica fechou.

Ele estimou que uma equipe levaria cinco dias para produzir 11 mil peças. "Somos bons", disse. "Não é à toa que somos a Ginori."

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