BTG retira a garantia firme de colocação a R$ 10 para a MPX
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- 01/07/13
A forte queda nas ações da MPX nas últimas semanas vai mudar o formato da capitalização da empresa de energia do Grupo EBX, apurou o Valor. O BTG Pactual não vai manter a garantia firme de colocação dos papéis a R$ 10 em uma oferta pública de ações, como estava previsto, mas participará do aporte de recursos na companhia. Isso significa que a garantia para a capitalização da empresa continua, mas não a R$ 10.
O Valor apurou que o banco, a EBX e o grupo alemão E.ON, que em março aumentou sua participação na companhia, discutem alternativas para manter os planos de capitalizar a empresa em R$ 1,2 bilhão. Entre as alternativas que poderiam ser adotadas, estão um aumento de capital privado e uma combinação entre uma oferta pública de menor valor, a preço de mercado, e uma injeção de recursos via dívida. A expectativa é que uma solução seja alcançada até a metade da semana. Em março passado, a alemã E.ON comprou uma fatia de 24,5% de ações da MPX que eram de Eike Batista e passou a ter o controle compartilhado da elétrica com o empresário. Uma segunda etapa da operação, segundo acordado com o grupo alemão, seria a capitalização da empresa, por meio de uma oferta de ações de R$ 1,2 bilhão.
Para essa operação, havia a garantia firme de compra das ações dada pelo banco BTG para 69,44% da distribuição, ou até o limite de R$ 833 milhões, fixando o preço da ação em R$ 10, patamar dos papéis em março. A E.ON colocou uma ordem de compra para os R$ 366,7 milhões restantes.
No entanto, de lá para cá, as ações da MPX se desvalorizaram na bolsa, ao redor de 35%, e, na sexta-feira, fecharam a R$ 7,55, o que colocou a oferta de ações na berlinda. Uma colocação a R$ 10 significaria pagar R$ 2,45 a mais do que o preço na bolsa de valores.
Para o BTG, não faria sentido a colocação nesses termos. Segundo o Valor apurou, uma piora considerável do mercado era uma das condicionantes que permitiriam ao banco recuar da garantia ou mudar a operação. A ideia, agora, é que o BTG ofereça ajuda na forma de capital, crédito ou até por meio de uma garantia de compra das ações da MPX a preço de mercado. O volume dos recursos comprometidos na operação, entretanto, poderá ser mantido. Procurados, BTG, E.ON e MPX não deram entrevista.
A garantia firme de colocação é uma novidade trazida pelo BTG Pactual para as ofertas realizadas neste ano. O banco usou o mecanismo pela primeira vez com a sucroalcooleira Biosev; repetiu a dose em MPX e, semana passada, anunciou também para a CPFL Renováveis.
Com esse mecanismo, a oferta já inicia a rodada de apresentações a investidores "colocada", no jargão de mercado, com recursos do BTG e de outro investidor âncora - como seria a E.ON para a MPX e será a Previ para a Renováveis. A partir daí, a cada pedido de reserva de outros investidores, o pedaço do BTG vai diminuindo até que seja parcial ou totalmente substituído por outros aplicadores. Ou seja, a garantia é dada de saída e não é utilizada para eventualmente fechar o "book" (livro da operação no termo em inglês) se no último momento em caso de não haver demanda suficiente.
Essa estratégia do BTG tem gerado, inclusive, muita insatisfação entre outros bancos de investimento, que até agora optam por não dar garantias desse tipo.
Ao conceder a garantia, o BTG assegura que, se o mercado não tiver interesse nos papéis, o próprio banco ficará com eles. O instrumento pode ser interpretado como uma sinalização dada pelo BTG de que está ao lado do cliente ou de que aposta no negócio.
Porém, a queixa de algumas instituições concorrentes é que, ao participar da coordenação de "ofertas garantidas", eles trabalham, na prática, para "limpar o balanço" do BTG. Isso porque essas operações, em geral, são realizadas por um consórcio de bancos. Cada instituição ajuda a encontrar investidores para viabilizar a oferta. Ao conquistar compradores para os papéis, reduzem a necessidade de o BTG dispor de recursos próprios para honrar a garantia.
Paralelamente, a existência desse mecanismo acaba, na prática, com os riscos da colocação da oferta, o que também reduz as comissões dos bancos do consórcio. Na leitura das instituições que formam as redes de distribuição, significa trabalhar da mesma forma e receber menos. Fontes de alguns bancos também afirmam que, nesse modelo, a oferta não tem, de fato, um processo de formação de preços da ação definido pelo mercado. O BTG também não deu entrevista para esclarecer esse aspecto.
Fontes do banco têm rebatido os argumentos dos concorrentes insatisfeitos alegando que o instrumento não é uma tendência, mas um recurso oferecido caso a caso, válido para um pequeno número de emissores.
O fato de a garantia reduzir consideravelmente o risco de uma oferta não sair também pode ser um trunfo para as companhias em momentos como o atual, de alta volatilidade no mercado de ações.
Por outro lado, o caso da MPX mostra que os riscos desse modelo não são pequenos para a instituição financeira. Com uma queda brusca no mercado, como justificar para os próprios acionistas do BTG a compra dos papéis? No caso da Biosev, a oferta teve demanda e o BTG não precisou honrar o compromisso. Para a CPFL Renováveis, a garantia alcança R$ 500 milhões e, se integralmente exercida, o banco ficará com 12% da empresa.
Fonte: Valor Econômico