Aumenta a oferta global de algodão 'sustentável'
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- 17/07/13
Iniciado há apenas três safras, o cultivo mundial de algodão sustentável atingiu a marca de 670 mil toneladas na safra 2011/12, ou 3% da produção mundial da fibra na temporada. Restrito até então a Brasil, Índia, Paquistão e Mali, a Better Cotton Initiative (BCI) ganhou neste ano a adesão de produtores da China, Turquia e Moçambique e até 2015 EUA e Austrália também entrarão no grupo, o que deve elevar a produção sustentável total da fibra para 2,6 milhões de toneladas. O movimento preconiza uma cotonicultura com menor impacto ambiental e mais ganhos financeiros e sociais ao produtor.
"Ter 3% da produção total de algodão sustentável em apenas três anos não é pouco - é mais que a produção mundial de orgânicos e "fair trade", segmentos muito mais consolidados", diz a britânica Lilly Gilbert, gerente da BCI. "A partir de agora teremos os grandes produtores e consumidores conosco". Após os primeiros anos de implementação da BCI, a estratégia de expansão desenhada para o período de 2013 a 2015 ambiciona não só a entrada de mais produtores mas também indústria e varejistas, impulsionando a cadeia como um todo. No Brasil, por exemplo, a única têxtil que aderiu à BCI foi a Vicunha. A ideia, diz Lilly, é fazer da BCI um algodão "mainstream" (de tendência predominante) e não voltado ao nicho de consumidores conscientes. "É ambicioso mas realista", diz ela, que veio a São Paulo na semana passada para atrair novos membros.
Nos próximos dois anos, a expectativa é atingir a meta de 2,6 milhões de toneladas de algodão BCI produzidos por 1 milhão de produtores licenciados. Até 2020, a meta é representar 30% da produção global de algodão, o que envolveria 5 milhões de produtores, com o potencial de beneficiar 20 milhões de pessoas, levando-se em consideração o papel das famílias nesse tipo de atividade agrícola.
Lilly cita os avanços vistos até agora ao dizer que as metas são possíveis de serem atingidas. Em duas safras, o número de produtores licenciados cresceu de 68 mil para 165 mil, sendo que a área plantada pulou de 225 mil hectares para 550 mil. A produção, por sua vez, subiu de 35 mil toneladas em 2010 para 670 mil toneladas colhidas no ano passado.
O Brasil, sozinho, abocanhou metade desses números, seja em área ou em volume. "Ao contrário dos demais países, nossa agricultura é de grandes propriedades rurais", diz Andrea Aragon, coordenadora brasileira da BCI. A implementação do projeto no país conta com a parceria da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Por esse motivo, o Brasil tem sido até agora a mola propulsora da expansão da BCI. Andrea estima que tenha havido a adesão de 140 produtores da Bahia, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul em 2011/12 (os números estão sendo analisados), em cerca de 200 mil hectares de área plantada e que resultaram em 350 mil toneladas da fibra. No mesmo período, o país colheu o total de 1,8 milhão de toneladas de algodão.
A BCI determina, entre outros pontos, a utilização de um menor volume de água e pesticidas no plantio e implementação da rotação de culturas para melhorar a qualidade do solo. Diferentemente de outros selos que aferem sustentabilidade, a BCI se autodeclara "tecnologicamente neutra" - em outras palavras, aceita lavouras de algodão geneticamente modificado.
A decisão de não segregar plantações transgênicas é particularmente importante porque grandes produtores já aderiram à tecnologia, como Brasil, China, Índia e os Estados Unidos. "O que importa são os benefícios gerados. Não entramos no mérito da tecnologia que o produtor preferiu", diz Lilly.
De modo geral, houve uma melhora nos últimos dois anos no gerenciamento da produção. Na Índia, o uso de pesticidas caiu 40%, o de água 20% e a produtividade subiu 20%, segundo a BCI. No Paquistão, as reduções foram de 20% e 38%, respectivamente, com ganho de produtividade de 8%. No caso brasileiro, a seca que assolou alguns Estados produtores e a ocorrência da lagarta do gênero Helicoverpa prejudicaram as lavouras e impediram ganhos similares aos dos outros países. "Foi impossível reduzir a aplicação de defensivos por causa da praga", disse Andrea. "Mas o que importa é saber se o produtor está se esforçando para melhorar o seu desempenho".
Fonte: Valor Econômico