Cuba registra maior êxodo desde 1994
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- 01/08/13
Num país onde a população envelhece, a evasão de cidadãos é preocupante - sobretudo se esse país estiver às voltas com medidas para abrir gradualmente a economia e modernizar o socialismo vigente há meio século. Um relatório do Escritório Nacional de Estatística e Informação de Cuba (Onei, na sigla em espanhol) revelou ontem que a ilha vem assistindo à maior taxa de emigração desde a chamada Crise dos Balseiros, em 1994. Os dados mostram que, somente no ano passado, 46.662 cubanos deixaram permanentemente o país de cerca de 11 milhões de habitantes.
Esse número fora superado somente no tenso agosto de 1994, quando o então presidente cubano Fidel Castro abriu as fronteiras marítimas à livre emigração, em resposta aos constantes esforços americanos para coibir barcos e imigração ilegal rumo a seu território.
Com a abertura das fronteiras, 47 mil cubanos aproveitaram para uma fuga em massa e chegaram aos Estados Unidos em embarcações precárias - num episódio que acabou levando Fidel Castro e o ex-presidente Bill Clinton a assinarem secretamente, sob a mediação do escritor colombiano Gabriel García Márquez, um pacto migratório, o único vigente entre ambos países à época. Segundo o relatório da Onei, nos últimos cinco anos, cerca de 39 mil cubanos fogem anualmente da ilha - uma média também maior que qualquer outra registrada desde os primeiros anos pós-Revolução Cubana de 1959. Embora a pesquisa não detalhe a faixa etária dos emigrantes, o perfil tradicional do emigrante cubano é de jovens qualificados que ambicionam uma vida melhor nos EUA, onde rapidamente conseguem receber um visto de permanência, mesmo que a entrada seja ilegal.
As circunstâncias dessa evasão também são majoritariamente distintas. De um lado, o governo cubano flexibilizou as restrições de viagem, tornando menos caro e complicado o acesso de cidadãos comuns a um passaporte e a viagens internacionais. Medidas de intimidação, como o confisco dos bens de emigrantes, também foram cassadas. Segundo as novas regras, os cubanos podem ficar durante 24 meses no exterior, prorrogáveis por mais 24, sem sofrer qualquer sanção - o que, na teoria, permite que os cubanos não somente viajem, mas também trabalhem fora e retornem à ilha quando quiserem.
OBAMA FACILITA E ESTENDE VISTOS
Do lado americano, o governo de Barack Obama também se mostra mais flexível. Depois de dois anos de suspensão, no mês passado a Casa Branca anunciou o restabelecimento do diálogo com o governo de Raúl Castro sobre migração. E ontem, o Departamento de Estado anunciou a extensão da duração dos vistos de turismo para cubanos dos atuais seis meses para cinco anos. A medida vai permitir aos cidadãos da ilha fazer diversas visitas aos EUA em vez de pagar US$ 160 por cada visto.
- A extensão do visto vai melhorar o contato entre as pessoas, reforçar o apoio à sociedade civil em Cuba e permitir a livre circulação de informação de, para e entre o povo cubano - disse um porta-voz do Departamento de Estado.
A legislação americana atual concede 20 mil vistos permanentes a imigrantes cubanos que chegam legalmente ao país, àqueles que buscam unificação familiar e os que chegam à costa americana ilegais, mas com sucesso. Sob essas regras, os EUA deportam quem for pego em alto mar - no ano passado foram 1.300 os cubanos repatriados.
A fuga de cubanos, porém, é um motivo de preocupação a mais na ilha, onde desde 2008 o governo do presidente Raúl Castro tenta empreender um pacote de mais de 300 reformas para abrir gradualmente a economia e modernizar o socialismo vigente há meio século. Segundo dados do Onei, o crescimento populacional em Cuba no ano passado foi de 1,5% negativo. Se em 2002 a população cubana era de 11.177.743 pessoas, dez anos depois, esse número caiu: foram registrados 11.163.934 cidadãos em 2012.
As previsões são de que em 2025 haja menos 203 mil pessoas na ilha - e a média de idade vai subir de 38 para 44 anos de idade. O tema se mostra bastante presente nos últimos discursos do presidente. Na semana passada, Raúl Castro, ele mesmo de 82 anos, afirmou que a geração octogenária e histórica que governa o país continua cedendo o poder aos jovens. Mas, com uma ressalva: manter a unidade e o socialismo são prioridades de sua gestão.
- Está em andamento o processo de transferência paulatina e ordenada para as novas gerações das principais responsabilidades de direção na nação - disse ele numa cerimônia pelo Dia da Rebeldia Nacional na província de Santiago de Cuba, a cerca de 860 quilômetros de Havana. - A geração histórica vai cedendo seu lugar aos novos, com tranquilidade e confiança serena, com base na preparação e capacidade demonstrada de manter no alto as bandeiras da revolução e o socialismo.
Fonte: O Globo