Com foco em inteligência artificial, China encosta nos EUA em criação de startups bilionárias

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A China encostou nos Estados Unidos em 2017 na criação de empresas iniciantes avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, os chamados "unicórnios", em um momento em que as novas startups passaram a mirar setores como inteligência artificial, tecnologia para agricultura e robótica enquanto deixaram para trás setores como jogos online, mídia e propaganda digital, já dominados por gigantes como Facebook e Google. As conclusões fazem parte do Relatório Global de Ecossistema de Startup 2018, divulgado nesta terça-feira (17). Elaborado pela Startup Genome e pela Rede de Empreendedorismo Global (GEN), o levantamento foi feito com base em entrevistas de mais de 12 mil participantes, entre fundadores de startups, investidores, bem como líderes de aceleradoras e incubadoras.

EUA x China

O volume de capital investido em startups chegou a US$ 140 bilhões em 2017. O ano foi marcado como o primeiro em que os EUA não foram os líderes em aportes de recursos em empresas de tecnologia. O país dividiu o topo com a região da Ásia e do Pacífico. Juntas, as duas regiões responderam cada uma por 42% do total de dinheiro investido.

Muito do avanço regional foi impulsionado pela China. Tanto é que os chineses responderam por 35% das startups que, após sucessivos aportes, atingiram valor de mercado superior à marca bilionária. Os EUA ainda estão à frente, com 41,3% do total de "unicórnios", mas sua participação nesse segmento vem caindo. Enquanto as startups bilionárias chinesas eram só 13,9% do total em 2014, as norte-americanas somavam 61,1% no mesmo ano.

A aproximação da China coincide com a chegada de um unicórnio chinês ao topo do ranking das startups mais valiosas, não sem antes desbancar no caminho uma norte-americana. Foi o que ocorreu com a empresa de transporte alternativo Didi Chuxing, avaliada em US$ 56 bilhões. Ela foi alçada ao topo após um consórcio liderado pela Softbank, gigante japonesa das telecomunicações, comprar 20% da Uber, em um negócio que reduziu o valor da norte-americana de US$ 68 bilhões para US$ 48 bilhões.

Por outro lado, os Estados Unidos ainda lideram quando o critério são as saídas de investidores de "unicórnios", seja por meio da abertura de capital ou pela venda dessas startups para empresas maiores. Em 2017, 65% dessas saídas ocorreram nos EUA.

Em alta

O relatório aponta ainda que os nichos explorados pelas startups que mais chamaram a atenção de investidores também mudaram, e essa alteração beneficia a China.

As startups que mais fecharam negócios nos últimos cinco anos encerrados em 2017 foram:

  • Produção avançada e robótica: alta de 189%;
  • Tecnologias para agricultura (Agtech) e alimentação: alta de 171%;
  • Blockchain, a tecnologia por trás do bitcoin e outras criptomoedas: 163%;
  • Inteligência artificial e Big Data: 77%.

"Inteligência Artificial é o subsetor com maior crescimento no número de startups criadas, com altas de 24% ano a ano desde 2008", afirmou Bjoern Lasse Herrmann, vice-presidente da Startup Genome.

Segundo uma previsão da consultoria PwC, o PIB mundial poderá crescer até 14% por volta de 2030 com o uso de recursos de inteligência artificial (AI, na sigla em inglês). "Os maiores ganhos com AI devem ocorrer na China", disse Herrmann.

A China está se preparando para colher esses frutos, mostra o relatório. Tanto que não só foi o país a solicitar mais patentes sobre inteligência artificial, como fez quatro vezes o número de pedidos dos EUA.

"A corrida da inteligência artificial tem uma dimensão geopolítica, com países vendo isso como uma área chave de oportunidade econômica e segurança nacional. O governo chinês, por exemplo, declarou que o país deve ser líder global entre AI em 2030", afirmou Herrmann.

Os chineses também foram os mais atuantes em outra área de startups dentre as mais quentes para investidores. Em blockchain, as solicitações chinesas foram cinco vezes superiores às norte-americanas.

Dentre os setores que mais atraem aportes de investimento, o único em que a China não possui um ecossistema forte é o de tecnologias para agricultura e de alimentação. O estudo pontua, no entanto, que o Agtech é um segmento em que o Brasil poderia apostar. O relatório cita como exemplo de colaboração positiva entre universidade, centros de pesquisa e startups o que ocorre em Piracicaba (SP).

"A presença e associação de fortes indústrias locais e universidades como a ESALQ, da USP, ajudaram a cidade a gerar 18% das startups de Agtech de todo o Brasil."

Em baixa

O relatório também aponta que alguns nichos de mercado para startups estão atraindo menos dinheiro de investidores. Todos eles possuem empresas norte-americanas líderes em seus mercados. São áreas como:

  • Adtech: queda de 35%
  • Games: queda de 27%
  • Mídia digital: queda de 27%

"O tipo de companhia que foi o combustível das primeira e segunda gerações de ecossistemas globais de startups –apps de redes sociais, mídia digital e outras companhias puramente de internet –está em declínio", destaca o relatório.

Segundo o documento, empresas como Facebook, Google e Wordpress construíram a infraestrutura corrente para ser usada por uma nova safra de startups. As duas primeiras criaram uma plataforma global de marketing, enquanto a última desenvolveu um publicador de conteúdo, por exemplo.

"As tecnologias proeminentes do futuro viverão no 'mundo real'. Elas transformarão não só o que a gente faz na web, mas também o que nós fazemos fora dela", pontua o relatório.

Os setores afetados incluirão indústrias do mundo real, como:

  • Transporte
  • Cuidados médicos
  • Manufatura pesada
  • Agricultura

Setores maduros para startups

Outras áreas como exploradas por startups como educação, financeira (fintech), saúde e ciência, cibersegurança e biotecnologia já são tratadas como maduras. Segundo o relatório, empresas dessas áras "são grandes em tamanho e algumas das maiores geradores de valor globalmente".

O setor de "fintechs", por exemplo, é o que mais possui unicórnios, 26 do total de 278 no mundo. Ainda nessa área, a China toma a dianteira dos EUA.

"No panorama geral das Fintechs globais, a China continua a dominar, superando os Estados Unidos", diz Susane Chishti, presidente-executiva da Fintech Circle.

Das cinco maiores startups financeiras, três são chinesas e duas são norte-americanas. A maior delas, a Ant Financial está para levantar US$ 9 bilhões em uma nova rodada de investimento. Com isso, será avaliada em US$ 150 bilhões e se tornará o maior "unicórnio" do mundo.

Seu criador é o bilionário Jack Ma. Presidente do conglomerado chinês Alibaba Group, ele tem experiência com grandes números. Em 2014, o Alibaba protagonizou a maior oferta pública de ações do mundo, ao levantar US$ 25 bilhões.

Fonte: G1

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