Mercosul se dispõe a aceitar "bigamia" de Bolívia e Equador como membros do bloco

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De olho numa expansão que possa lhe dar fôlego, o Mercosul se dispôs a aceitar a "bigamia" de futuros membros -como Bolívia e Equador, que, prestes a ingressar no bloco, fazem questão de permanecer na CAN (Comunidade Andina de Nações).

Em estágios bem diferentes de adesão como membros plenos do Mercosul, os governos Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador) já disseram que não vão abandonar o bloco andino, que em termos comerciais praticamente implodiu com a assinatura dos tratados de livre-comércio de Colômbia e Peru com EUA e União Europeia.

O golpe político decisivo viria em 2012, com a participação de Bogotá e Lima na criação da Aliança do Pacífico. A avaliação tanto do Equador como da Bolívia é que, apesar das divergências comerciais e políticas, vale a pena fazer parte dos dois blocos.

O embaixador do Equador no Brasil, Horacio Sevilla Borja, diz que Quito e La Paz valorizam "os 30 anos de institucionalidade" do grupo, que abrange políticas comuns para livre circulação de pessoas, saúde e educação.

"A CAN tem posições muito diferentes. Primeiro saiu o Chile, depois a Venezuela. Mas Bolívia e Equador não saímos, nem vamos fazê-lo", disse o embaixador.

Para Alberto Zelada, vice-chanceler da Bolívia no governo Jorge Quiroga (2001-2), La Paz tem razões sobretudo comerciais para ficar na CAN.

"Uma parte importante de suas exportações não tradicionais se dirige aos mercados da CAN e está amparada no regime preferencial, caso das exportações de sementes, como a soja", diz Zelada.

No caso boliviano, os outros países da CAN (Equador, Colômbia e Peru) representam pouco mais de 10% de toda a exportação do país.

Tão ou mais importante do que o fluxo comercial, no entanto, é a questão geográfica. Isolada do mar, a Bolívia tem no Peru uma das suas principais rotas de escoamento de produtos para o Pacífico.

Sevilla Borja diz que o processo de "reengenharia institucional" pelo qual a CAN passa no momento -com assessoria da Cepal e da brasileira FGV- deve retirar obstáculos para a adesão dupla. Um deles é a diferença entre as TECs, o tributo cobrado para importações de fora dos blocos, no Mercosul e na CAN.

Para o Brasil, a CAN já abriu mão de sua tarifa externa comum quando Peru e Colômbia assinaram os tratados com os EUA e a UE. Por isso, não apresentaria resistência à adequação de seus membros ao Mercosul.

Fonte: Folha de São Paulo

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