Resposta dura do Egito leva Jair Bolsonaro a rever posição sobre embaixada em Israel

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Após pronta e contundente reação do governo do Egito, que cancelou em cima da hora visita que o chanceler Aloysio Nunes faria ao Cairo, e somada às manifestações negativas por parte de representantes de outros governos e de setores produtivos brasileiros –os exportadores de carnes em especial- o presidente eleito, Jair Bolsonaro, mudou de ideia e declarou ontem (6) que a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém "não está decidida", admitindo que a ideia inicialmente apresentada poderá ser revista e cancelada. Após ter afirmado que pretende reconhecer Jerusalem como capital de Israel e que irá transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para a cidade, o presidente eleito voltou atrás e deixou transparecer que pode mudar de opinião.

Mas essa provável mudança nos planos revelada de maneira não muito conclusiva pelo sucessor de Michel Temer não foi suficiente para tranquilizar aqueles que se opuseram de imediato às ideias que, se colocadas em prática, implicariam em uma mudança radical na política externa brasileira para o Oriente Médio e com certeza trariam graves consequências para as relações comerciais do Brasil com o conjunto dos países árabes.

O tema deverá ser um dos destaques na próxima reunião do Conselho dos Embaixadores Árabes em Brasília, a ser realizada neste mês de novembro na Embaixada da Palestina, em data a ser ainda definida.

Em seu conjunto os chefes das missões diplomáticas árabes repudiam a possibilidade de o Brasil transferir a embaixada para Jerusalém e, de forma igualmente veemente, rejeitam as declarações do presidente eleito no sentido de cancelar o reconhecimento pelo governo brasileiro da Palestina como Estado soberano. Em agosto, Jair Bolsonaro afirmou que fecharia a embaixada pelo fato de que não considera a Palestina um país, contrariando decisão adotada pelo governo brasileiro em 2010.

Também devem ter pesado nesse novo posicionamento do futuro presidente as manifestações expressas por representantes do agronegócio – exportadores de carnes bovina e de frangos em especial- preocupados com os prejuízos que uma postura flagrantamente pró-Israel por parte do novo governo poderá causar às vendas externas para o mundo árabe.

Segundo a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), 45% da carne de frango e 40% da carne bovina exportada pelo país levam o selo halal, que recomenda o abate segundo princípios islâmicos. Essas vendas externas envolvem valores bastante elevados. Até o mês de setembro, a carne de frango foi o sétimo item da pauta exportadora brasileira e gerou uma receita de US$ 4,3 bilhoes. Arábia Saudita e Emirados Árabes figuram ente os três maiores importadores do produto, ao lado da China.

Cauteloso, Mohamed Hussein el-Zoghbi (presidente da Fambras) disse que "é prematuro fazer qualquer afirmação (sobre a mudança da Embaixada e o cancelamento do reconhecimento da Palestina como Estado soberano). O Itamaraty tem posição formada sobre o status da Palestina desde 1948 e não sabemos se o futuro presidente tomará mesmo essas decisões".

Ainda que bastante prudentes e cautelosos, os representantes diplomáticos árabes em Brasília antecipam que vão aguardar pela posse do novo presidente, pela chegada de um novo ministro das Relações Exteriores e por ações concretas de governo antes de se posicionarem publicamente sobre temas tão delicados.

Mas nem por isso deixam de sublinhar que, caso as declarações do presidente eleito se transformem em realidade, o conjunto dos países do Oriente Médio e suas instituições políticas, diplomáticas e econômicas tomarão as medidas que um momento tão grave pode vir a exigir.

Do cardapio certamte constariam retaliações envolvendo o bloqueio às importações de produtos brasileiros, a realização de investimentos por fundos soberanos de países recheados de petrodólares de países como os Emirados Árabes Unidos e o Qatar, entre outras medidas de grande alance.

Fonte: Comex

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