Estabilização na China eleva otimismo com commodities

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Por boa parte deste ano, os investidores viram o setor de commodities como um caso de evolução natural. O crescimento e a industrialização da China, propulsora do surto de expansão das commodities, que durou uma década, estavam desacelerando, segundo um consenso cada vez maior.

Os efeitos disso sobre as commodities industriais, como o minério de ferro, o cobre ou o níquel, seriam certamente sombrios. Os investidores recuaram, tirando dinheiro das commodities industriais e contribuindo para uma queda de 15% dos preços dos metais no primeiro semestre do ano.

Mas, nas últimas semanas, os sinais vindos da China melhoraram.

Dados de comércio exterior de julho mostram importações mensais recordes de commodities, de minério de ferro e petróleo a cobre e ferrocromo. A produção industrial das grandes empresas, um indicador fortemente ligado ao Produto Interno Bruto (PIB), subiu 9,7% em julho, em relação ao mesmo mês do ano passado, seu ritmo mais acelerado desde fevereiro. Ontem, um dado prévio atentamente monitorado da pesquisa do HSBC apontou para crescimento do setor industrial da China, pela primeira vez em quatro meses.

Os números desencadearam uma reavaliação das perspectivas para a China e para as commodities em geral entre investidores anteriormente pessimistas.

"O sentimento, obviamente, virou", diz Grant Sporre, analista de metais do Deutsche Bank.

Colin Fenton, diretor de pesquisa de commodities do JPMorgan, diz que as commodities "irromperam num novo regime de risco".

De fato, o preço de muitas commodities industriais teve sólida recuperação desde o fim de junho.

O cobre para entrega em três meses subiu 7,8% na Bolsa de Metais de Londres (LME), os preços da platina aumentaram 14% e os do minério de ferro, 18,2%.

Mas, com poucos dados confiáveis sobre demanda de commodities na China, é difícil distinguir entre percepções e realidade.

Uma grande parte da mudança de sentimento se deve a uma reavaliação da economia chinesa pelos investidores, e não a uma mudança drástica das condições vigentes no país, dizem traders.

"Acho que a China não chegou a ficar tão mal quanto as pessoas pensaram. As pessoas andaram pessimistas demais por alguns meses", diz um trader de metais.

Ao apresentar os resultados semestrais esta semana, executivos da mineradora Glencore disseram que a demanda chinesa se manteve acelerada o ano todo. Kenny Ives, diretor de níquel da Glencore, prevê que a demanda chinesa por níquel crescerá 11% este ano.

"Se considerarmos a China como o principal mercado para o crescimento da demanda por níquel nos últimos dez anos, o crescimento que veremos em 2013 é melhor que o que vimos em qualquer momento desde 2007", disse ele.

Banqueiros dizem que boa parte da recuperação das commodities foi puxada pela cobertura de posições vendidas. A posição vendida líquida dos investidores em cobre nos EUA, por exemplo, caiu 75% desde o fim de julho, segundo a Comissão de Negociações com Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês).

Mas houve também alguns sinais de melhora da demanda final da China nos últimos meses.

Mike Henry, diretor de marketing da BHP Billiton, a maior mineradora do mundo, disse a investidores esta semana que a produção chinesa de aço superou sua previsão devido ao "sólido investimento e à sólida construção civil".

Os indicadores do mercado físico também estão revelando solidez, com os ágios sobre o cobre - o preço pago acima dos contratos futuros referenciais - tendo subido para patamares recorde.

Será que a melhora do sentimento chinês - tanto no próprio país quanto no exterior - prenuncia uma nova alvorada para os preços das commodities? Alguns traders estão cautelosamente otimistas, e banqueiros dizem que os investidores começaram a recuperar parte de seu entusiasmo.

"Está um pouco otimista para o restante do ano", disse um destacado trader de metais. Telis Mistakidis, diretor de cobre da Glencore, prevê a intensificação da demanda pelo metal no segundo semestre do ano.

Mas muitos continuam com as barbas de molho. Apesar de a demanda chinesa nunca ter sido fraca o suficiente para atingir as expectativas dos investidores mais pessimistas, poucos discordam de que a China esteja rumando para um crescimento mais lento.

"A China está apenas se normalizando", diz David Wilson, analista de metais do Citigroup. "O país ainda será um importante consumidor. Mas a demanda não terá uma aceleração extraordinária."

De todo modo, o enfraquecimento da demanda chinesa foi apenas uma parte da narrativa pessimista: os investidores também previam aumento da oferta.

"A realidade é que simplesmente temos mais oferta", diz Sporre, do Deutsche Bank. "A demanda está boa, mas não o suficiente para neutralizar os efeitos dessa oferta."

Duncan Hobbs, analista de commodities do Macquarie, observa que, mesmo com a demanda sólida dos últimos meses, o preço de commodities não negociadas em bolsa, como manganês e cromo (às quais os investidores financeiros têm pouco acesso) caiu.

"Os investidores devem estar decepcionados pois os preços não se mostraram mais resistentes em resposta à sólida demanda chinesa. Para conseguir reação dos preços, precisamos de uma demanda ainda maior da parte da China."

Por fim, apesar da sólida demanda chinesa neste momento, ainda há riscos no horizonte. A turbulência que assola os emergentes vizinhos da China na Ásia poderá abalar facilmente a confiança dos traders chineses. Como diz um trader: "Não dá para dizer que as pessoas não vão ficar bem pessimistas de novo".

Fonte: Valor Econômico

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