Governo Bolsonaro tornará mais difícil acordo entre UE e Mercosul, diz Angela Merkel
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- 13/12/18
O tempo está se esgotando para um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, disse a chanceler alemã, Angela Merkel, ontem (12), afirmando a parlamentares que o novo governo brasileiro do presidente eleito Jair Bolsonaro tornará o tratado mais difícil de ser alcançado. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse nesta quarta que o Mercosul está pronto para fechar um acordo comercial com a União Europeia, que só não foi acertado ainda porque os europeus não querem concordar.
"O Mercosul e a União Europeia só não têm um acordo, não é porque o Mercosul não quis, é porque a União Europeia não quis", disse o ministro.
Os comentários do ministro foram feitos depois do comentário de Angela Merkel.
"O Brasil flexibilizou o que podia flexibilizar... Flexibilizamos até em detrimento do uns setores aqui internamente", disse a jornalistas.
Bolsonaro já disse ser mais favorável a negociações bilaterais do que a engajamentos em grupos multilaterais, como no caso do Mercosul.
Segundo o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, o Brasil está empenhado para que o acordo seja concluído, mas é preciso que os dois lados estejam interessados.
"Nós atribuímos enorme importância (ao acordo UE-Mercosul). O ministro (das Relações Exteriores) Aloysio (Nunes) está pessoalmente empenhado na negociação. Tenho acompanhado todos os temas de maneira muito próxima e estamos dando todos os sinais que Brasil tem vontade e disposição de fechar o acordo, mas os dois lados têm que querer", afirmou Guardia a jornalistas.
UE e Mercosul negociam desde 2000
A UE e o Mercosul negociam desde 2000, com grandes desafios, o acordo com base em três pilares: o diálogo político, a cooperação e o livre-comércio. No entanto, as partes tentam apressar o calendário de negociações para, se não conseguirem fechar o acordo, tê-lo o mais avançado possível antes da chegada de Bolsonaro ao poder.
O Brasil e demais países do Mercosul querem maior abertura do mercado europeu para produtos agrícolas. O bloco europeu oferece um sistema de cotas para produtos como carne bovina, carne de frango, etanol e arroz. Mas o volume dessas cotas, a velocidade de implantação e as alíquotas incidentes sobre esses produtos ainda são pontos sem consenso.
Entre os assuntos sensíveis que ainda impossibilitam o fechamento do acordo estão as indicações geográficas, os setores automotivo e de laticínios e a oferta da UE de "acesso ao mercado de produtos", segundo detalhou em outubro o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, que adiantou na época que o Mercosul levaria novas propostas à UE.
Associações europeias de agricultores temem também perdas com a concorrência do Mercosul.
Segundo informações da agência Efe, durante uma reunião de ministros de comércio dos países da UE em novembro, a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, deixou claro que o seu interlocutor no Brasil continua sendo o atual governo e que os europeus ainda "não sabem nada" do que será a presidência de Bolsonaro.
A presidência rotativa do Conselho da UE, por sua vez, alertou durante a reunião de ministros de comércio do bloco que os planos de Bolsonaro podem incluir "renegociar e reabrir" capítulos do tratado que já eram dados por fechados, a julgar pelos comentários que ele fez durante a campanha eleitoral.
"Do meu ponto de vista, não vamos ceder em nada que rebaixe os padrões da Europa, tanto em agricultura como em produtos industriais", enfatizou a ministra de Economia da Áustria, Margarete Schramböck, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE neste semestre.
Além disso, fontes dos países do Mercosul também consideram complicado um acordo com Bolsonaro no poder. O ministro de Economia e Finanças do Uruguai, Danilo Astori, considerou "difícil" a consecução do tratado comercial por causa das diferenças internas nos blocos e pela "incerteza" sobre a postura do novo governo brasileiro.
O secretário de Estado francês para a Europa e Relações Exteriores, Jean-Baptiste Lemoyne, comentou que seu país que tem especial interesse em proteger sua produção agrícola, quer "um acordo equilibrado" que reconheça as indicações geográficas protegidas europeias e permita melhor acesso ao Mercosul.
Fonte: G1