Para Unicef, não é admissível que 'centros comerciais reabram e escolas não'
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- 10/03/21
América Latina e Caribe as áreas há mais tempo sem aulas presenciais por causa da pandemia. Países como Panamá, Peru e Equador ainda estão sob esse esquema, e o Unicef exige a reabertura dos centros de ensino. "Estima-se que pelo menos 3 milhões de crianças nesta região nunca voltarão à escola. Quanto mais durar esse período de fechamento, menor será a chance de que muitas crianças retornem", explicou Ruth Custode, diretora para Educação em Emergências para a América Latina e Caribe no Unicef.
De seu escritório na Cidade do Panamá, a especialista lamentou que a retomada das aulas presenciais não esteja entre as prioridades de vários países do continente.
"Não pode ser possível abrir restaurantes, abrir centros comerciais, abrir casinos, abrir cinemas e não abrir escolas. O mais importante é priorizar a abertura de escolas", disse.
Alguns países da região que continuam com escolas fechadas - 14 em todo o mundo, até fevereiro de 2021, segundo relatório do Unicef -, planejam reabrir as escolas após terem avançado em seus respectivos programas de vacinação.
- Locais de contágio -
Um relatório do Unicef especifica que a média mundial de fechamento de aulas presenciais por conta da pandemia é de 95 dias, enquanto na América Latina é de 158, quando o calendário escolar é de 190 dias.
No início da pandemia, em 2020, a especialista equatoriana reconheceu que havia incerteza e medo, com pais e professores pensando que a escola poderia ser um local de contágio.
A situação continua em 2021 em países com infraestrutura escolar deteriorada e que não têm água.
No entanto, segundo ela, há outras regiões "com os mesmos e piores problemas" que abriram suas escolas.
"Quando falamos em evidências, já existem vários estudos que nos dizem que as escolas não são o principal foco de contágio (...) Isso não pode ser motivo para as escolas continuarem fechadas", esclareceu.
"É hora de agir, não podemos esperar mais, as escolas têm que abrir. Usando protocolos de segurança, máscaras... as recomendações estão aí", considerou.
- Socialização e proteção -
De acordo com Custode, a escola não é apenas um lugar para aprender, mas também um lugar de proteção.
"Na escola, muitas vezes, as crianças recebem a única refeição nutritiva do dia. Se não vão à escola, não têm acesso a serviços de saúde, de imunização", explicou.
"Há um ano as crianças passam por níveis incríveis de estresse e angústia. Os casos de violência aumentaram, de maus-tratos, abusos sexuais, gravidez na adolescência. Já houve até casos de suicídio de jovens", lamentou Custode.
Além disso, existe a importância da socialização. "As crianças precisam estar com seus professores e colegas. Quanto mais dias isso continuar, mais graves serão as consequências."
- Desigualdade -
As crianças que conseguiram ter aulas virtuais são aquelas com melhor conectividade, nas áreas urbanas. Enquanto as mais afetadas são aquelas com deficiência, migrantes, de áreas remotas ou que se encontram em condições de vulnerabilidade.
"Essa desigualdade vai piorar com a pandemia", explicou Custode.
Isso sem falar na exposição prolongada das crianças às telas, que pode causar "problemas de visão, audição e postura".
As diferenças são mais profundas, disse, porque quem tem possibilidades buscou uma maneira de seus filhos continuarem se educando, por meio do ensino doméstico - contratando um professor em casa. Mas as crianças das camadas mais pobres não têm essa opção.
"Todas essas soluções são remendos, porque a educação presencial não pode ser substituída pela educação a distância. Estamos formando cidadãos do futuro, como vamos formar esses cidadãos se eles não têm a oportunidade de se socializar?!", concluiu.
Fonte: AFP