Número de crianças em fuga no Sudão passa de 1 milhão, diz Unicef
- Detalhes
- 16/06/23
Mais de um milhão de crianças — incluindo 270 mil só em Darfur — foram obrigadas a fugir dos combates entre o exército e os paramilitares no Sudão, informou o Unicef — o Fundo das Nações Unidas para a Infância. De acordo com a agência da ONU, os menores de idade vivem um "pesadelo" em meio ao conflito que começou em abril.
Em um comunicado divulgado nesta sexta-feira, o Unicef informou ainda que 330 crianças morreram em meio aos confrontos e mais de 1.900 ficaram feridas. A representante do Fundo no Sudão, Mandeep O'Brien, denunciou o que chamou de "pesadelo implacável em que as crianças estão presas". Para O'Brien, são os menores que "carregam o fardo mais pesado da crise".
As crianças representam mais da metade da população do Sudão, que é de 45 milhões de habitantes, segundo o Unicef. Entre elas, mais de 13,6 milhões precisam de ajuda humanitária e 620 mil sofrem de desnutrição aguda — sendo que a metade destas pode morrer caso não receba tratamento imediato, alertou o Fundo para a Infância.
Os combates no Sudão começaram em 15 de abril, com o confronto entre o Exército, comandado pelo general Abdel Fatah al Burhan e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), do general Mohamed Hamdan Daglo, dois ex-aliados que agora disputam o poder depois de derrubarem juntos o governo civil, em 2021, em um golpe militar.
Hospitais nas zonas de combates funcionam apenas de forma parcial e muitos estão fechados. Uma trégua de 24 horas, no sábado, permitiu que a população fosse às ruas para se reabastecer, mas, ao fim do cessar-fogo, os combates recomeçaram — principalmente em Darfur, no oeste do país e na capital Cartum. A guerra já deixou mais de 1.800 mortos, segundo a organização ACLED, especializada na coleta de informações em áreas de conflito. A ONU estima que existam dois milhões de deslocados internos.
Representantes de organizações humanitárias alertam para a rápida deterioração da situação humanitária.
— Apenas 20% dos estabelecimentos médicos estão funcionando em Cartum — lamentou na semana passada o chefe da delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Sudão, Alfonso Verdú Pérez.
Pérez relatou que, nas últimas semanas, foi possível entregar material cirúrgico para hospitais na capital, mas disse que as necessidades são imensas e ainda há muito a fazer, especialmente pela falta de água potável e comida.
Memórias do genocídio
O Unicef contabiliza 5,6 milhões de crianças em Darfur, das quais 270 mil já foram forçadas a deixar a região, onde as notícias de violência generalizada contra civis e o assassinato de um governante local trazem de volta lembranças do genocídio, que levou o ex-ditador sudanês Omar al-Bashir a ser condenado pelo Tribunal Penal Internacional.
Na quinta-feira, o governador regional de Darfur Ocidental, Khamis Abakar, foi assassinado horas depois de acusar os rebeldes das Forças de Apoio Rápido de promoverem um genocídio na região. Em uma entrevista na televisão local, Abakar pediu intervenção internacional para conter a violência contra civis. O Exército oficial acusou as FAR de sequestrarem e assassinarem o governador.
A região de Darfur foi palco de um conflito sangrento no início dos anos 2000, quando o enfrentamento brutal entre o governo do então ditador Al-Bashir e rebeldes armados causou a morte de milhares de pessoas e desalojou milhões, provocando uma crise de refugiados. Em 2004, os Estados Unidos classificaram como genocídio os atos do então governo sudanês em Darfur.
Fonte: AFP