Argentina irá a tribunal contra Uruguai por causa de indústria de celulose

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Diante da decisão "unilateral" do Uruguai de permitir o aumento da produção da fábrica de celulose UPM (antiga Botnia), instalada na fronteira com a Argentina, o governo de Cristina Kirchner decidiu que voltará a acionar o Tribunal Internacional de Haia.

Segundo o chanceler argentino, Héctor Timerman, a medida uruguaia afeta a "soberania ambiental da Argentina, afeta os tratados entre ambas nações e a própria sentença do Tribunal de Haia".

Desde que a fábrica foi instalada, em 2007, às margens do rio Uruguai, há conflitos entre os vizinhos por causa da operação. A administração do rio é compartilhada pelos dois.

A Argentina alegou que a indústria poluía o rio e que sua instalação desobedecia o Tratado do Rio Uruguai. O caso foi levado à Corte de Haia, que admitiu o desrespeito ao pacto, mas não estabeleceu sanção ao Uruguai. Ontem, o presidente uruguaio, José Mujica, anunciou que a UPM, localizada na cidade uruguaia Fray Bentos, poderá aumentar sua produção anual de 1,1 bilhão de toneladas para 1,2 bilhão, mesmo com o país vizinho sendo contra.

"É uma decisão que dói e que trará problemas, mas isso não muda meu carinho pelo povo argentino", declarou Mujica em uma entrevista coletiva em Montevidéu.

Anteontem, os chanceleres dos dois países se reuniram em Buenos Aires, mas não chegaram a um acordo sobre o aumento da produção de celulose, questão importante para a economia uruguaia.

Mujica e Cristina também se encontraram na segunda e falaram sobre o imbróglio.

Segundo o jornal uruguaio "El País", Mujica teria dito que os espaços de negociação se esgotaram porque a Argentina está em período eleitoral --e que é aí que se perde a racionalidade.

"Me sinto federalista e artiguista [referência ao general uruguaio José Gervasio Artigas, herói da independência uruguaia], mas estou no Uruguai e devo cuidar do trabalho dos uruguaios", afirmou o presidente.

As eleições legislativas da Argentina acontecem no próximo dia 27. A presidente Cristina perdeu as primárias obrigatórias no país e na região da cidade de Gualeguaychú, que fica do lado oposto do rio onde está instalada a indústria.

Durante três anos, os ambientalistas de Gualeguaychú mantiveram fechada a ponte General San Martín, que liga um país a outro, em protesto aos danos ambientais que seriam causados pela UPM.

Com a decisão de José Mujica, os militantes pensam em voltar a impedir a circulação de mercadorias entre os dois países.

"Estão nos empurrando para as estradas", afirmou Martín Alazard, da Assembleia Ambiental Cidadã do município argentino.

Fonte: Folha de São Paulo

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