Cuba passa a permitir contratação de serviços privados no turismo
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- 09/10/13
Cuba autorizou seu setor de turismo, controlado pelo Estado, a terceirizar serviços de hospedagem, alimentação, excursões e outras atividades para operadores privados, em um estímulo ao crescente setor "não estatal".
Embora o governo venha permitindo certa medida de terceirização pelo Estado junto a prestadores de serviços privados desde 2012, até agora o setor de turismo estava excluído da liberalização.
O turismo é a principal atividade econômica em Cuba, que recebeu 2,8 milhões de visitantes em 2012, com movimento da ordem dos US$ 3 bilhões.
Os novos regulamentos, publicados na quarta-feira no diário oficial cubano autorizam as agências estatais de turismo a usar as mais de cinco mil pousadas e 1,7 mil restaurantes privados agora operando no país governado pelos comunistas, bem como serviços privados de entretenimento e transporte. Além disso, hotéis e outras instalações turísticas podem agora terceirizar junto a empresas privadas serviços como fornecimento de refeições a funcionários, jardinagem e outros.
"O turismo cubano estava empacado no modelo 'o Estado tudo provê' há anos", disse Paul Webster Hare, ex-embaixador britânico em Cuba e hoje professor de relações internacionais na Universidade de Boston.
"Como parte do setor de serviços, no turismo ideias pequenas mas imaginativas muitas vezes atraem mais clientes do que o sistema de 'tamanho único' que vem sendo um traço marcante da forma pela qual as grandes empresas controladas pelo Estado -e pelas forças armadas - em Cuba administram o setor", ele disse.
Tania Rodriguez, que aluga quartos no bairro Colonial, em Havana, aplaudiu a medida como crucial para o crescimento continuado do setor de turismo, e como forma de melhorar sua qualidade e variedade.
"O setor privado oferece qualidade e conforto a turistas que nos visitam já há muitos anos", ela disse. "Creio que seja essencial que Cuba continue a atrair turistas".
O presidente cubano Raúl Castro, que assumiu em substituição ao seu adoentado irmão Fidel, em 2008, abriu o setor de varejo aos pequenos empresários, como parte de esforços mais amplos de reforma cuja meta é modernizar uma economia em estilo de soviético na qual, até 2010, o Estado administrava mais ou menos tudo - até mesmo os serviços de engraxates.
Castro está encorajando o setor privado a criar empregos para o milhão de funcionários públicos que ele espera excluir das inchadas folhas de pagamento do Estado nos próximos anos. O objetivo dele é reforçar o comunismo cubano para garantir seu futuro.
Hoje há mais de 450 mil pessoas trabalhando em ou operando pequenas empresas, ou trabalhando como autônomas nos setores de construção, transporte, entretenimento e outros, além de 200 cooperativas.
As agências estatais de turismo vinham há alguns meses sondando proprietários de restaurantes e pequenas pousadas, e muitos deles, ao menos em Havana, expressaram pouco interesse, de acordo com fontes setoriais. Eles apontaram que os turistas em visita à ilha caribenha já estão autorizados a alugar quartos e a comer em estabelecimentos privados.
Mas economistas cubanos afirmam que a abertura do setor de turismo certamente seria encarada como oportunidade por alguns.
"Durante a temporada turística, os bons restaurantes e pousadas em geral ficam lotados o tempo todo, sem que precisem assinar um contrato com o Estado" , disse um deles, pedindo que seu nome não fosse citado.
"Mas agora, para alguém que esteja pensando em se aventurar no setor privado, essa pode ser a oportunidade de começar", disse.
Fonte: Folha de São Paulo