Reino Unido fecha acordo com a China e a EDF para construir uma usina nuclear

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George Osborne, o secretário do Exterior britânico, vai anunciar hoje um acordo para construir o primeiro reator nuclear do país desde 1995, dependendo de investimento chinês e tecnologia francesa para o que ele espera venha a ser um recomeço para o programa nuclear civil britânico.

O China General Nuclear Power Group (CGN) e a companhia de energia francesa EDF devem assinar uma carta de intenção, e os parceiros fecharam acordo para uma nova usina nuclear a ser instalada em Hinkley Point, no sudoeste da Inglaterra. Os principais detalhes comerciais do acordo serão anunciados na próxima segunda-feira (21).

A transição para geração de energia que não dependa de combustível fóssil é vista como crucial se o Reino Unido pretende atingir seus rigorosos objetivos de redução de emissões de carbono e ao mesmo tempo manter acesas as luzes do país. Mas o governo também está correndo o risco de uma reação adversa dos consumidores, ao prometer aos investidores preços altos para a energia gerada por suas novas usinas, a fim de convencê-los a investir.

O Reino Unido vem buscando investimentos em novos reatores nucleares, e o projeto dependerá de conhecimentos especializados franceses e japoneses, e de verbas chinesas.

 

A China também tem muito em jogo no acordo com o Reino Unido. Vê o mercado britânico como uma plataforma de lançamento para uma grande expansão internacional de seu setor nuclear.

"Os chineses têm grandes ambições de comercializar sua tecnologia internacionalmente, e ser parte do projeto nuclear britânico os ajudará a atingir esse objetivo", disse Mamdouh El-Shanawany, diretor de novas oportunidades nucleares no Lloyd's Register.

A companhia posicionada para concretizar as esperanças chinesas de expansão é a CGN, que Osborne provavelmente anunciará hoje como co-investidora com a EDF no projeto de Hinkley Point.

As companhias chinesa e francesa são parceiras há muito tempo. Aliaram-se para construir uma nova usina de energia em Taishan, no delta do rio Pérola, sul da China, que Osborne visitará hoje.

Taishan é importante do ponto de vista britânico porque os reatores pressurizados europeus (EPRs) em construção lá são do mesmo tipo que a EDF planeja construir em Hinkley Point.

O papel da CGN é o de um investidor dotado de amplos recursos e capaz de arcar com parte do considerável ônus financeiro de um projeto cujo preço estimado é de 14 bilhões de libras. Mas para a CGN, esse é apenas o começo. A companhia deseja construir e operar reatores próprios no exterior, no futuro.

"Eles estão usando seu capital como alavanca para ganhar espaço para a sua tecnologia", diz Chris Gadomski, especialista em questões nucleares da Bloomberg New Energy Finance.

A China está construindo usinas de energia nuclear em ritmo que não tem paralelos no resto do mundo. A China continental opera 17 reatores nucleares e tem outros 29 em construção, e o país planeja quadruplicar sua capacidade de geração de energia nuclear até 2020.

Mas as perspectivas de expansão internacional são igualmente importantes para os líderes chineses. A China National Nuclear Corp (CNNC), rival do CGN, já tem uma usina em construção na Paquistão. Participar de um projeto no Reino Unido ajudaria a aumentar a credibilidade das empresas parceiros ao concorrerem por projetos no Oriente Médio, África e América Latina.

O que daria esperança de um estímulo ainda maior a Pequim seria a aprovação da tecnologia nuclear chinesa por uma agência regulatória ocidental. E esse objetivo está um passo mais perto de ser realizado, como resultado da visita de Osborne: o governo britânico prometeu ajudar as companhias chinesas a passar com sucesso pelo complexo processo britânico de aprovação de projetos.

"O regime regulatório britânico é muito rigoroso, e qualquer tecnologia que chegue aqui e seja aprovada teria muita credibilidade", diz o professor Shanawany.

Mas restam muitos obstáculos. Os grupos nucleares chineses inevitavelmente enfrentarão dificuldade para avançar em um ambiente com o qual não têm muita familiaridade. "Ninguém compreende o mercado britânico muito bem", diz um importante funcionário do setor nuclear chinês. "Precisamos compreender as leis de investimento internacionais, os custos trabalhistas, tudo isso, antes que possamos decidir".

Conquistar apoio internacional à expansão nuclear da China é apenas metade da batalha.

A luta mais árdua será travada na China, entre os projetistas de modelos rivais de usinas que querem vê-los designados como o modelo oficial de exportação chinesa.

Fonte: Folha de São Paulo

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