Brasileiro faz último esforço para salvar rodada de comércio mundial

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O brasileiro Roberto Azevêdo, diretor geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), faz agora um último esforço para tentar salvar a conferência de Bali, na Indonésia. Se for bem sucedido, o resultado será um acordo comercial global modesto, mas o primeiro em 18 anos. Se falhar, será um duro baque na credibilidade da OMC como fórum de negociação.

São mais de 3 horas da madrugada em Bali e as negociações continuam, com indianos saindo e retornando para a sala de reunião. Os protagonistas das negociações são Azevedo, o ministro de Comércio da Índia, Ahmad Sharma, o representante comercial dos Estados Unidos, Michael Froman, e o ministro de Comércio da Indonésia, Gita Wirjawan, o anfitrião da conferência.

Sharma deixou o encontro perto de 1 hora da manhã. "Esses são tempos interessantes, mas permaneço firme no que disse", disse o ministro, referindo-se ao provérbio chinês, também muito usado na Índia de que as coisas não vão nada bem. Meia hora atrás, o embaixador indiano retornou ao centro de conferências apenas para entregar uma mensagem, porque permaneceu na sala por menos de cinco minutos. Ele disse, no entanto, que as negociações continuam. Agora há pouco, o ministro da Indonésia também deixou a reunião, mas afirmou que espera um resultado "ainda hoje".

No início da noite, Azevêdo também tinha se reunido com os países "bolivarianos": Venezuela, Cuba, Bolívia e Nicarágua. Mas agora a negociação está restrita a Índia e Estados Unidos.

Com a ajuda de seus assessores, o diplomata tenta preparar um texto de compromisso que seja aceito por todos os países. Ele só pretende apresentar o papel se houver um "acerto prévio" com os países descontentes.

Nos últimos dias, mais de 30 delegações pediram ao brasileiro que tomasse a iniciativa. Apesar de estar apenas três meses no cargo, ele é admirado e respeitado por países pobres e ricos. Mas é um movimento arriscado: todos os seus antecessores tiveram seus textos rechaçados, incluindo o francês Pascal Lamy.

Azevêdo explora com os países uma saída "criativa" para conciliar as exigências dos dois lados: garantir à Índia que seu programa de segurança alimentar não corre risco e aos americanos que isso não significa um "passe livre" para Nova Deli subsidiar seus agricultores e distorcer os preços do mercado mundial.

Com 600 milhões de pequenos agricultores, a Índia possui um imenso programa de compra de grão e arroz subsidiado para garantir comida barata para sua população. O governo enfrenta eleições em quatro meses e não pode ser visto como "abandonando" os produtores rurais e a população carente.

Esses programas de segurança alimentar estão sujeitos a restrições ao volume de subsídios concedidos. No caso da Índia, esse limite está quase estourando. O país asiático alega que o montante de subsídios é determinado com base nos preços praticados no final da década de 80 e pede para sejam atualizados. Os Estados Unidos dizem que é impossível discutir esse tema agora.

A alternativa encontrada nas negociações prévias em Genebra foi oferecer uma "cláusula de paz", uma espécie de trégua em os programas de segurança alimentar não serão questionados nos tribunais da OMC. O período inicial previsto era de quatro anos, mas a Índia exige que a "trégua" permaneça em vigor enquanto não se encontra uma solução permanente. Na Rodada Uruguai, os países ricos tiveram uma "cláusula de paz" de oito anos.

BRASIL

O Brasil participou ativamente das tentativas de fazer uma "ponte" entre a Índia e os Estados Unidos durante a conferência. Apesar de ser um importante exportador agrícola para a Ásia, o país não tomou uma postura mais agressiva e disse que "compreendia" o pleito da Índia por segurança alimentar.

Mas, nesse esforço final para salvar o encontro, o Brasil não está diretamente envolvido, ao contrário do que aconteceu em negociações anteriores quando o país liderava o G-20, grupo que perdeu relevância nas negociações. Dessa vez, todos os holofotes estão sobre a Índia.

Fonte: Folha de São Paulo

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