EUA querem conter manipulação cambial em acordos bilaterais
- Detalhes
- 17/01/14
Os Estados Unidos estão perto de adotar medidas para conter a "manipulação cambial" em seus acordos de livre comércio. Se isso ocorrer, vai fortalecer proposta do Brasil sobre o tema na Organização Mundial de Comércio (OMC).
O câmbio foi incluído como um dos objetivos dos negociadores americanos no "fast track", autorização que o Congresso avalia conceder ao presidente Obama para fechar os grandes acordos de livre comércio com Ásia e Estados Unidos.
No texto em discussão na Câmara, que já foi alvo de um acordo entre os partidos Democrata e Republicano, os negociadores são instruídos a fechar acordos que "evitem a manipulação cambial para promover ajustes na balança de pagamentos e vantagens competitivas desleais". Para Aluísio de Lima-Campos, professor da American University, "as desvalorizações cambiais predatórias anulam as tarifas de importação e tornam sem efeito todas os parâmetros estabelecidos num acordo de livre comércio".
Não está claro, no entanto, quais seriam os mecanismos para evitar os efeitos do câmbio sobre o comércio. Por enquanto, o texto do "fast track" é vago sobre isso. O Tesouro americano é contra medidas possam comprometer a liberdade da política monetária americana.
Já o setor privado defende a adoção de uma fórmula matemática, que acionaria medidas compensatórias após um certo nível de desvalorização cambial combinado com aumento das reservas.
A principal preocupação dos empresários americanos, capitaneados pela indústria automotiva, é com o TPP, sigla em inglês para Parceria Transpacífica entre 12 países banhados pelo Oceano Pacífico, incluindo Estados Unidos, Japão, vários países asiáticos e alguns latino-americanos.
Dois assuntos preocupam empresas como Ford, Chrysler e General Motors: a desvalorização do iene promovida pelas políticas de estímulo do governo japonês e a ligação informal entre várias moedas na Ásia e o yuan chinês.
BRASIL
Para Vera Thorstensen, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), se a salvaguarda cambial for adotada pelos EUA nos acordos de livre comércio, "a OMC não vai poder ficar calada", o que fortaleceria o pleito do Brasil.
Quando o país levou formalmente a manipulação cambial ao xerife mundial de comércio, a ideia foi rechaçada pela China e pelos próprios Estados Unidos por causa da resistência do Tesouro. Agora o jogo mudaria.
"Essa mudança nos EUA vai na linha do que a indústria brasileira vem defendendo. É importante que o câmbio entre no debate de comércio, mas tem que ser de maneira cautelosa para evitar que o remédio se vire contra nós se houver uma desvalorização cambial no Brasil", diz Diego Bonomo, diretor executivo de comércio internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Fonte: Folha de São Paulo