Em momento de ajustes econômicos, China cresce no menor ritmo em 14 anos
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- 20/01/14
A economia da China cresceu em 2013 no ritmo mais lento registrado nos últimos 14 anos, segundo dados oficiais divulgados nesta segunda-feira.
O crescimento de 7,7% do Produto Interno Bruto no ano passado, em comparação com 2012, foi o mais baixo no país desde 1999. Ainda assim, ficou acima da meta do governo chinês, que era de 7,5%.
A economia chinesa passa por um momento de ajuste – deixando para trás um modelo apoiado em investimentos, sobretudo com empréstimos de bancos estatais ao setor produtivo. Esse modelo fez com que a economia sustentasse por uma década índices com dois dígitos de crescimento. Em 2007, a economia chinesa chegou a crescer 14,7%. Mas muitos no mercado e no governo chinês acreditam que esse modelo baseado em investimentos e empréstimos não era mais sustentável. A China promove agora um ajuste para que o crescimento seja puxado pelo aquecimento do consumo interno, com o aumento de renda da população.
Com isso, a economia deixaria o patamar de dois dígitos, registrando índices mais próximos aos 7,5%. No ano passado, a economia chinesa já havia crescido 7,8% – uma queda brusca em relação aos 9,3% registrados em 2012.
Para alguns analistas, após os ajustes, este será o novo patamar da economia chinesa nos próximos anos.
"Nós esperamos que esta tendência continue em 2014, já que os políticos estão determinados a avançar com as reformas para manter o crescimento econômico estável", diz Li Huiyong, economista da Shenyin & Wanguo Securities.
Para David Wilder, diretor do escritório de Pequim do serviço de notícias financeiras Market News International, a vantagem deste novo patamar é que ele é sustentável no longo prazo.
"[O crescimento de 7,7%] está dentro do que o governo estava querendo atingir. A ideia é que a China não comporta aquele crescimento de dois dígitos que nós estávamos vendo. Esse crescimento mais lento é encorajador, porque sugere que a China está adotando um ritmo mais sustentável", disse David Wilder.
Para Ted Plafker, da revista Economist, o crescimento chinês de dois dígitos é "coisa do passado".
O maior ajuste econômico feito na China é no setor bancário, com redução dos empréstimos e maior regulação do setor.
Nos últimos anos, uma grande expansão nos investimentos – sobretudo os capitaneados pelo governo chinês – puxou o crescimento econômico do país. Mesmo durante a grave crise financeira mundial, os quatro maiores bancos estatais da China continuaram emprestando dinheiro, na tentativa de manter altos índices de crescimento.
Agora há temores de que muitos destes empréstimos foram feitos a investimentos pouco produtivos, e que os bancos correm o risco de não reaver seu dinheiro. Esse problema de crédito pode afetar não só o setor bancário, como também ter impacto no crescimento da economia.
Outra preocupação é com o crescimento do setor bancário "paralelo" ("shadow banking system", em inglês) – empresas que atuam como se fossem bancos, emprestando dinheiro no mercado. Muitos temem que esse sistema pouco regulado pelas autoridades gera muito crédito ruim, o que pode acabar prejudicando a economia chinesa.
Neste mês, a imprensa chinesa noticiou que o governo está criando leis para aumentar a supervisão desse sistema paralelo.
Na medida em que o país deixa para trás o crescimento amparado em investimentos governamentais, novas fontes de crescimento são criadas.
Recentemente foi estabelecida uma zona de livre comércio em Xangai, que testará a liberalização de alguns setores fortemente controlados pelo governo, como telecomunicações e sistema financeiro.
Neste mês, a China anunciou que vai abrir alguns serviços de telecomunicações – como call centers e provedores de acesso – para empresas estrangeiras. As firmas internacionais também poderão fabricar videogames para venda no mercado chinês – colocando fim a uma restrição que existe desde 2000.
Fonte: BBC Brasil