Só em janeiro, 509 mil argentinos caem abaixo da linha de pobreza
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- 03/02/14
Os aumentos de preços em alimentos e transportes em janeiro, a disparada do dólar - negociado a 8 pesos no câmbio oficial e a 12 no paralelo - tiveram causaram um forte reflexo no custo de vida das famílias argentinas.
Levantamento divulgado nesta segunda-feira pelo Observatório Social, da Central Geral do Trabalho (CGT), revela que a cesta básica no país custaria hoje 6.397,73 pesos, embora os salários não tenham acompanhado o aumento. Segundo a pesquisa, o total de pobres no país cresceu em 509 mil pessoas, passando de 11,9 milhões em dezembro para 12,4 milhões no mês passado, o que representa 30,9% da população. O levantamento não chegou a computar, contudo, todo o aumento do impacto do dólar.
Em 23 de abril, o Indec (o IBGE local) vai divulgar os dados oficiais de indigência e pobreza no segundo semestre de 2013. Segundo o instituto, o índice aumentou 4,7%, para menos de 2 milhões de pessoas de janeiro a junho do ano passado. A diferença de quase 11 milhões entre as estatísticas de Indec e CGT se deve ao fato de que, para o organismo oficial, o valor da cesta básica é de 1.783,63 pesos, uma quarta parte do calculado pela central sindical. O informe da CGT identifica como faixa de pobreza a parcela da população que não consegue renda suficiente - seja por salário, aposentadoria ou programas de ajuda governamental - que assegure uma quantidade mínima por mês de alimentos e serviços básicos, como os de saúde, habitação e educação. Baseado nesse levantamento, os sindicalistas propõe ao governo a concessão de um mínimo de 3 mil pesos por mês para todos os argentinos.
O pacto de preços controlados proposto pelo governo, no mês passado, e o apelo para que reajustes não ultrapassem 7,5%, não encontra eco no interior da Argentina, onde em várias cidades os aumentos chegam aos 100%. Levantamento realizado pelo jornal "Clarín" em 10 províncias do interior revela altas generalizadas. Em Bariloche, por exemplo, a saca de cimento passou de 60 a 120 pesos em apenas um dia no final de janeiro, enquanto os financiamentos por cartão em 12, 18 e 24 meses simplesmente desapareceram e se restringem apenas ao crédito pessoal.
Várias lojas têm fechado por dois ou três dias a cada semana por desacordo com fornecedores ou falta de mercadorias. Muitos fornecedores estão exigindo pagamento antecipado ou liquidação da fatura em sete dias. Em Rosário, a Secretaria de Saúde detectou reajustes de 35% em remédios e artigos descartáveis. Em Tucumán, os pneus ficaram de 20 e 25% mais caros em um mês. Em Mendoza, a farinha de trigo teve reajuste de 30%, enquanto nos armazéns de Córdoba 27 listas de produtos chegam com aumentos entre 20% e 30%.
A política de reajustes elevados se espalha por praticamente todos os setores da economia. Em Gualeguaychú, postos das redes Oil, PDVSur e Shell vendem o litro de combustível premium a 17 pesos. Também na cidade, as concessionárias de veículos aplicaram correção mínima de 20% nos modelos, enquanto em Santiago del Estero o mercado está parado e os usados são vendidos pelo prazo máximo de 6 meses e apenas com cheques. Em Mendoza, o mercado imobiliário está paralisado, enquanto os aluguéis foram corrigidos em 35% no mês passado.
A onda de remarcações também atinge os eletrodomésticos. Em Tucumán, a rede Walmart limita o crediário a seis parcelas, enquanto em Santiago del Estero, redes como Musimundo e Garbarino reconhecem que têm corrigido suas tabelas acima de 20%. Um televisor de LED de 42 polegadas passou em janeiro de 7.200 para 10.200 pesos.
Fonte: O Globo