Dezoito milhões de agricultores em 27 países adotam culturas biotecnológicas em 2013
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- 14/02/14
O Serviço Internacional de Aquisição de Aplicações Agro-biotecnológicas (ISAAA) divulgou hoje um relatório indicando que mais de 18 milhões de agricultores em 27 países plantaram culturas biotecnológicas em 2013, um aumento de cinco milhões de hectares, ou 3%, na área global dedicada a culturas biotecnológicas. No ano de 2013 também foram registradas as primeiras plantações comerciais de milho biotecnológico resistente à seca nos Estados Unidos.
A área global dedicada a culturas biotecnológicas aumentou de 1,7 milhões de hectares, em 1996, para mais de 175 milhões de hectares em 2013. Nesse período de 18 anos, houve um aumento de mais de 100 vezes na área dedicada a culturas biotecnológicas comerciais. Os Estados Unidos continuam líderes na plantação global de culturas biotecnológicas, com 70,1 milhões de hectares, ou 40% da área total do mundo.
"A área acumulada de culturas biotecnológicas plantadas no mundo inteiro até esta data é de 1,6 bilhões de hectares, ou 150% do território da China", explicou Clive James, autor do relatório e Fundador e Presidente Emérito do ISAAA. "Todos os dez principais países com culturas biotecnológicas em 2013 plantaram mais de um milhão de hectares, criando uma ampla base para o crescimento futuro." Segundo o relatório, mais de 90%, ou 16,5 milhõesdos agricultores que plantam culturas biotecnológicas são pequenos agricultores com escassez de recursos. Dos países que plantam culturas biotecnológicas, oito são países industrializados e 19 são países em desenvolvimento. Pelo segundo ano consecutivo, países em desenvolvimento plantaram mais hectares de culturas biotecnológicas do que países industrializados, indicando a confiança dosmilhões de agricultores nessa cultura de menor risco e com muitas vantagens. Quase 100% dos agricultores que experimentam culturas biotecnológicas continuam a plantá-las ano após ano, observa o relatório.
Duas novas culturas resistentes à seca
Em vista do impacto das secas na produtividade agrícola, exacerbado pelas mudanças climáticas, a resistência à seca é considerada um avanço importante. Nos Estados Unidos, cerca de 2.000 agricultores no Cinturão do Milho, que apresenta tendência de seca, plantaram aproximadamente 50.000 hectares do primeiro milho biotecnológico com resistência à seca. A Indonésia, quarto país mais populoso do mundo, desenvolveu e aprovou a plantação da primeira cana-de-açúcar resistente à seca do mundo (a primeira cana-de-açúcar biotecnológica aprovada em nível global) e pretende comercializá-la para plantação em 2014.
"Culturas biotecnológicas estão demonstrando seu valor global como ferramenta para agricultores com escassez de recursos e que enfrentam reduções na disponibilidade água e maiores pressões de ervas daninhas e pestes – e os efeitos das mudanças climáticas apenas continuarão a aumentar a necessidade dessa tecnologia", afirmou James.
A tecnologia do milho biotecnológico resistente à seca foi doada à África por meio do projeto Milho com Eficiência Hídrica para a África (WEMA, na sigla em inglês), uma parceria público-privada da Monsanto e da BASF, financiado pelas fundações Gates e Buffet e implementado pelo Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT, na sigla em espanhol) do México e pela Fundação Africana de Tecnologia Agrícola (AATF, na sigla em inglês), com sede no Quênia. A plantação de milho biotecnológico resistente à seca na África deverá começar em 2017. A seca é o maior fator restritivo da produtividade do milho na África, do qual 300 milhões de africanos dependem para sua sobrevivência.
Situação e oportunidades para culturas biotecnológicas na China
A China, com 1,3 bilhão de habitantes, é o país mais populoso do mundo. Entre 1996 e 2012, algodão biotecnológico gerou, na China, benefícios econômicos avaliados em mais de US$ 15 bilhões, sendo que US$ 2,2 bilhões desse valor foram gerados no ano passado. Culturas biotecnológicas também ofereceram importantes benefícios para os agricultores e o meio ambiente na China, reduzindo a aplicação de inseticidas em 50% ou mais das áreas cultivadas com algodão biotecnológico.
"A China já demonstrou as vantagens do algodão biotecnológico como fibra e também poderia beneficiar-se do milho biotecnológico, com uma produção de grãos para ração maior e de melhor qualidade", declarou James. "A China também pode vir a tirar proveito da aprovação dos traços biotecnológicos para o arroz, a principal cultura alimentar da Ásia."
Alguns observadores especulam que a China talvez esteja em vias de aprovar uma importante cultura biotecnológica, como o milho com fitase, que recebeu o aval de biossegurança em 2009, quando também foram aprovados dois traços de arroz biotecnológico. A demanda por ração para sustentar os 500 milhões de suínos e os 13 bilhões de aves da China está forçando o país a depender cada vez mais do milho importado para suplementar os 35 milhões de hectares de milho que o país cultiva.
Aumento da área cultivada em países em desenvolvimento
O crescimento continua a acelerar nos países em desenvolvimento. Agricultores latino-americanos, asiáticos e africanos juntos cultivaram 54% da área global dedicada a culturas biotecnológicas (um aumento de 2% desde 2012), ampliando a defasagem entre países industrializados e países em desenvolvimento de cerca de 7 para 14 milhões de hectares entre 2012 e 2013, respectivamente.
A América do Sul coletivamente plantou 70 milhões de hectares, ou 41%; a Ásia, 20 milhões de hectares, ou 11%; e a África, pouco mais de três milhões de hectares, ou 2%, da área global dedicada a culturas biotecnológicas.
"O crescimento nos países industrializados e nos mercados amadurecidos dos países em desenvolvimento continuou a se estabilizar em 2013, com taxas de adoção mantendo-se no patamar de 90% ou mais, o que deixa pouco espaço para expansão", explicou James. "No ano passado, o crescimento foi maior nos países em desenvolvimento, sobretudo no Brasil, onde houve um aumento impressionante de 3,7 milhões de hectare, ou 10%, elevando a área para 40,3 milhões de hectares. No próximo ano, o crescimento deverá continuar nos países em desenvolvimento – e o Brasil continuará a liderar, reduzindo cada vez mais a diferença com os Estados Unidos."
O sucesso nos países em desenvolvimento pode ser atribuído, em muitos casos, a parcerias público-privadas. Por exemplo, o Brasil, em cooperação com a BASF, desenvolveu e aprovou uma soja resistente a herbicidas, que está pronto para comercialização após ter concluído, com êxito, todas as etapas necessárias para o desenvolvimento e a implantação do produto. Tais parcerias geram um senso de orgulho, confiança e o incentivo necessário para o êxito.
A EMBRAPA, no Brasil, utilizando apenas recursos nacionais, também desenvolveu e obteve aprovação para feijões resistentes a vírus, que são uma contribuição importante para a sustentabilidade.
Superando o impasse na aprovação de culturas biotecnológicas
Os países em desenvolvimento continuam a promover a pesquisa, o desenvolvimento e a comercialização de produtos biotecnológicos e têm apresentado determinação política em aprovar novos traços de culturas biotecnológicas, observou o relatório. Aprovações em 2013:
• Bangladesh aprovou sua primeira cultura biotecnológica, a beringela biotecnológica (Brinjal), que foi desenvolvida através de uma parceria público-privada com uma empresa indiana, a Mahyco. Bangladesh serve como modelo para outros países pequenos e pobres – superou o impasse no processo de aprovação para comercializar a beringela biotecnológica na Índia e nas Filipinas. Bangladesh também está solicitando a aprovação do Arroz Dourado e da batata biotecnológica.
• A Indonésia aprovou a cana-de-açúcar resistente à seca para consumo alimentar, com planos de cultivá-la em 2014.
• O Panamá aprovou a plantação do milho biotecnológico.
Outras evoluções na tecnologia de culturas biotecnológicas, combinadas com a adoção mais ampla por agricultores pequenos e pobres, são fatores importantes na adoção futura de culturas biotecnológicas em nível global. Evoluções importantes em 2013:
• Na África, houve um aumento impressionante da área cultivada com algodão biotecnológico no Burkina Faso e no Sudão, de 50% e 300%, respectivamente. Além disso, sete outros países estão realizando estudos de culturas biotecnológicas em campo, como penúltima etapa antes da aprovação da comercialização. Esses países são: Camarões, Egito, Gana, Quênia, Maláui, Nigéria e Uganda.
• As Filipinas estão prestes a concluir seus estudos em campo com o Arroz Dourado.
A falta de sistemas regulatórios calcados na ciência, que sejam adequados, ágeis e econômicos, continua a representar o maior obstáculo à adoção na África (e no mundo inteiro).
Situação das culturas biotecnológicas na União Europeia
A modesta área na União Europeia (UE) aumentou 15% entre 2012 e 2013. Cinco países da UE plantaram 148.013 hectares de milho biotecnológico, um aumento de 18.942 hectares em comparação com 2012. A Espanha liderou a UE com um recorde de 136.962 hectares de milho biotecnológico, um aumento de 18% desde 2012. A Romênia manteve a mesma área de 2012. Portugal, República Tcheca e Eslováquia plantaram menos hectares de milho biotecnológico do que em 2012; de acordo com o relatório, a redução deveu-se à complexidade dos relatórios que a UE exige dos agricultores.
Culturas biotecnológicas são benéficas para a segurança alimentar, a sustentabilidade e o meio ambiente
Entre 1996 e 2012, as culturas biotecnológicas fizeram contribuições positivas: redução dos custos de produção e aumento da produtividade (estimada em 377 milhões de toneladas), avaliadas em US$ 117 bilhões; benefícios ambientais, eliminando a necessidade de 497 milhões de kg (a.i.) de pesticidas; redução de 27 bilhões de kg de emissões de CO2 apenas em 2012 (o equivalente a remover 12 milhões de automóveis das estradas durante um ano); conservação da biodiversidade, evitando a utilização de 123 milhões de hectares de terra para produção agrícola durante o período de 1996 a 2012; e alívio da pobreza para 16,5 milhões de pequenos agricultores e famílias rurais, totalizando mais de 65 milhões de pessoas.
Os dados
• Os Estados Unidos continuaram na liderança, com 70,1 milhões de hectares cultivados e 90% de adoção em todas as culturas.
• Pelo quinto ano consecutivo, o Brasil ocupou a segunda posição, ampliando a área destinada a culturas biotecnológicas mais do que qualquer outro país – um aumento recorde impressionante de 3,7 milhões de hectares, ou 10%, desde 2012.
• A Argentina continuou em terceiro lugar, com 24,4 milhões de hectares.
• A Índia, que ultrapassou o Canadá e passou à quarta posição, teve um recorde de 11 milhões de hectares de algodão biotecnológico, com 95% de adoção.
• O Canadá ficou em quinto lugar, com 10,8 milhões de hectares onde se reduziu o cultivo da canola, mas se manteve a elevada taxa de adoção de 96%.
Fonte: Portal do Agronegócio