Imigrantes nos EUA enviam U$ 60 bi para países da América Latina
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- 28/02/14
O impasse em relação às leis de imigração americanas, junto com a política de deportações de indocumentados dos EUA, pesou negativamente nas remessas recebidas no ano passado pelos países latino-americanos, segundo um estudo anual do instituto Interamerican Dialogue.
O envio de dinheiro para o continente caiu 1% em 2013 para pouco mais de US$ 60 bilhões (R$ 139 bilhões), de acordo com o levantamento, apresentado nesta quinta-feira em Washington.
Os especialistas atribuíram a queda ao impasse em relação à reforma migratória nos Estados Unidos, que restringe os imigrantes indocumentados aos empregos mais mal-remunerados do mercado.
Quatro em cada cinco destes imigrantes ganham menos de US$ 25 mil por ano – acima da linha da pobreza, mas pouco para permitir envios de dinheiro em grandes quantias, avaliou o estudo. Tipicamente, imigrantes enviam cerca de 10% de suas receitas para o país de origem. Ao mesmo tempo, a política americana de deportações de estrangeiros indocumentados, uma das mais polêmicas do governo do presidente Barack Obama, estrangula a fonte dos recursos, principalmente para o México, país origem da maior parte dos imigrantes nos EUA.
Mais de 650 mil mexicanos foram deportados ou barrados na fronteira no ano passado, mostrou o estudo. Os que ficaram nos EUA mandaram para casa US$ 21,7 bilhões em 2013 – praticamente o mesmo que no ano anterior, de acordo com a pesquisa.
"Você começa a pensar nos lares e nos bairros mexicanos que vêem nas remessas uma linha de salvação. Seria uma surpresa se o crime e a violência começassem a aumentar nesses lugares?", refletiu o especialista em remessas do Banco Mundial, Dilip Ratha, em uma mesa redonda para discutir o estudo.
"São coisas a se pensar quando discutimos a reforma da imigração."
Obstáculos nos EUA
Os EUA estão na origem de cerca de três em cada cinco dólares enviados para casa por latino-americanos no exterior.
No passado, disse Ratha, os analistas podiam relacionar a chegada de imigrantes mexicanos nos EUA à saúde do mercado imobiliário americano – posto que os primeiros engrossam a mão-de-obra necessária para o segundo.
Nos últimos anos "essa relação se rompeu", afirmou o especialista. "Nós achamos que isso tem a ver com as deportações".
O argumento reforça a posição de organizações pró-imigrante que pressionam o presidente Barack Obama a emitir uma ordem executiva suspendendo as deportações até a aprovação de uma legislação de imigração definitiva.
Calcula-se que em poucas semanas o número de deportados no governo Obama atinja dois milhões. As organizações chamam atenção para o efeito devastador dessas políticas, chamada de Comunidades Seguras, em famílias de imigrantes.
A Casa Branca diz que o presidente não tem poderes para suspender o programa.
A aprovação de uma legislação final de imigração caminha a passos lentos na Câmara dos Deputados, controlada pelo Partido Republicano, avesso a uma reforma que beneficie os imigrantes indocumentados.
Reforçando os efeitos da situação na América do Norte, os especialistas apontaram que a crise financeira na Espanha também pesou na redução das remessas para a América Latina em 2013.
Desde 2007, ano em que se iniciou a crise econômica, cerca de 700 mil latino-americanos retornaram para casa por falta de trabalho no país ibérico, de acordo com o Interamerican Dialogue.
Em alguns casos, a volta dos imigrantes para casa é sinal de prosperidade doméstica. O Paraguai, por exemplo, que recebe em remessas equivalentes a 10% do seu Produto Interno Bruto (PIB), vive um 'boom' alimentado pela alta das commodities agrícolas.
Mas o pesquisador que coordenou esta edição e edições anteriores do estudo, Manuel Orozco, disse que emigração e o envio de remessas continuam a ser fontes importantes de prosperidade econômica no continente.
Um em cada três lares latino-americanos têm um parente morando no exterior e, em 70% deles, as remessas ajudam a complementar o orçamento, enfatizou Orozco.
Em uma tabela com 24 nações, o Brasil aparece como 9º entre os países latino-americanos que mais receberam remessas em 2013 (pouco menos de US$ 2 bilhões).
Entretanto, o estudo afirma que estes números estão "altamente subestimados", porque nem todas as operações são registradas como remessas.
Para o instituto, cerca de um milhão de brasileiros no exterior enviam aualmente em média US$ 7 mil para casa, o que se traduz em um total de US$ 7 bilhões a US$ 8 bilhões em remessas por ano.
Depois do México, os países que mais receberam remessas em 2013 foram Guatemala (US$ 5,1 bilhões), Colômbia (US$ 4,1 bilhões) e El Salvador (US$ 4 bilhões).
Fonte: BBC Brasil