Haiti produz tablet próprio com sistema Android
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- 17/03/14
Mais conhecido por produzir pobreza e caos político - bem como um rum de qualidade internacional -, um dos países menos desenvolvidos do Hemisfério Ocidental fez uma entrada surpreendente no mundo da alta tecnologia com o seu próprio tablet Android.
Espremido entre fábricas têxteis em um parque industrial de Port-au-Prince ao lado de uma favela, uma empresa fundada por um haitiano começou a fabricar o tablet de baixo custo chamado Sûrtab, um nome muito semelhante à expressão em dialeto crioulo haitiano para "sobre a mesa".
Com US$ 200 mil em fundos de arranque da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), e utilizando componentes importados da Ásia, a pequena fábrica com 40 funcionários produz entre 4.000 a 5.000 tablets por mês, mas planeja dobrar o volume em abril. São três modelos, todos com telas de 7 polegadas (18 cm) que rodam no sistema operacional Android, do Google. Eles variam de um tablet Wi-Fi simples com 512 megabytes de memória RAM de cerca de US$ 100 a um modelo 3G com 2 gigabytes de memória de US$ 285.
Vestida com roupas de trabalho brancas esterilizadas, uma rede de cabelo, e equipada com um ferro de soldar, Sergine Brice se orgulha de seu trabalho.
— Eu nunca imaginei que eu pudesse, um dia, fazer um tablet — disse ela.
Amigos e parentes duvidam
Desempregada por um ano, depois de perder a sua posição em uma empresa de telefonia, Brice, de 22 anos, não tinha certeza se tinha as habilidades necessárias quando assumiu o cargo na Sûrtab, que abriu no ano passado.
— Quando cheguei e percebi que as ofertas de trabalho eram com componentes eletrônicos, eu queria saber se eu seria capaz de fazê-lo. Mas quando eu terminei o meu primeiro tablet... senti um prazer imenso — disse ela.
Sua família e amigos estavam céticos.
— Nenhum deles acreditou em mim — disse ela. — Tablets feitos no Haiti? O que você está falando?, disseram-me. Os haitianos têm na mente a ideia de que nada pode ser feito neste país. Mas isso provou que sim, nós, os haitianos, temos a capacidade de fazer muitas coisas. Não só os americanos ou chineses.
Nos anos 1970 e 1980, o Haiti tinha uma indústria manufatureira próspera, incluindo placas de computador, bem como bolas de beisebol para as equipes profissionais dos EUA. As turbulências políticas e um embargo econômico dos EUA na década de 1990, após um golpe militar os tiraram dos negócios.
— Um produto como Sûrtab mostra que os haitianos não são apenas destinados à baixos salários e empregos pouco qualificados — disse John Groarke, diretor da USAID. — É o tipo de trabalho altamente qualificado que o país precisa desenvolver em seu caminho para sair da pobreza.
Brice, que trabalha um turno de oito horas, não revelou seu salário. Funcionários Sûrtab recebem um bônus para cada tablet que passe o controle de qualidade e a empresa diz que paga duas a três vezes o salário mínimo haitiano de US$ 5 por dia.
— É fácil de usar e realmente tira fotos de boa qualidade, como qualquer outro tablet — disse Lisbeth Plantin, uma cliente satisfeita. — E é ótimo ver "Made in Haiti" na parte de trás — acrescentou.
Individualmente montados
Na fábrica, não há linha de produção. Os trabalhadores montam cada dispositivo do início ao fim. Dependendo do modelo, um empregado demora entre 35 minutos a uma hora para completar o trabalho.
— Poderíamos ter feito como na Ásia, uma tarefa por trabalhador, que é mais rápido, mas queríamos ter um produto de melhor qualidade — disse o gerente de produção da Sûrtab, Diderot Musset.
Fonte: O Globo