China: os desafios do país mais importante para a economia mundial

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O mundo inteiro fica atento ao desempenho da economia chinesa. Na semana passada, quando foi anunciado o crescimento de 7,5% PIB do país no primeiro trimestre, investidores ficaram animados e as principais bolsas de valores apresentaram ganhos. O resultado não era tão bom, mas melhor que o esperado.

As dificuldades que o país enfrenta para continuar crescendo em um ritmo razoável para a economia mundial,todavia, ainda são muitas - principalmente considerando o 1,36 bilhão de chineses que representam grande quantidade de mão de obra mas também uma enorme massa de demandas em saúde, educação e qualidade de vida.

Menos de 54% dos chineses vive em cidades, enquanto os países desenvolvidos têm 80% dos habitantes em áreas urbanas e os em desenvolvimento, 60%, conforme indica matéria publicada pelo Financial Times. Cresce o número de trabalhadores chineses que trocam o campo pelas cidades, mas 20% podem voltar a ser rurais devido ao custo de vida das áreas urbanas, e 270 milhões de trabalhadores migrantes ainda não conseguiram status fixo de classe média nas cidades, alerta o jornal. O diretor do Instituto Brasileiro de Estudos de China e Ásia-Pacífico (Ibecap) e membro da Divisão de Assuntos de Geopolítica e Relações Internacionais da Escola Superior de Guerra, Severino Cabral, lembra que o processo de industrialização da China, atrelado à migração das pessoas do campo para as cidades, é recente.

"A China tem uma particularidade, entre outras, que a define como uma país especial. A maior parte da humanidade está lá e o país entrou tardiamente no processo de industrialização, na metade do século passado era tradicionalmente agrário. Quando foi fundada a Nova República, 80% da população vivia no campo. Fizeram um esforço nestes últimos 30 a 40 anos e tiveram um êxito notável, com uma urbanização crescente", explica Severino Cabral.

Considerando a enorme massa que é a população do país asiático, continua, o processo de urbanização torna-se um "desafio gigantesco", em um processo que acaba sofrendo desequilíbrios e apresentando desigualdades intensas. Houve uma "transformação extraordinária" do ponto de vista social, que deixou para trás um cenário de miseráveis e famintos, visto principalmente durante as guerras.

A China ainda não está totalmente integrada, lembra Severino Cabral, tem problemas de acesso a recursos no campo. "Isso é um desafio para eles e também para a economia mundial. Todos torcemos para que eles continuem crescendo. Isso é uma questão chave para a economia mundial. Eles têm que dar resposta a esses problemas. Eles são o maior laboratório do mundo de experiências sociais e políticas. Em três décadas, a China terá uma classe média equivalente à classe média da Europa e dos Estados Unidos juntos."

Para Severino Cabral, a nova geração que comanda a China, pós-Maoista e pós-revolução, está muito bem preparada para responder a esses desafios, de criar renda e trabalho, mas também aumentar a qualidade de vida da população, em um terreno extenso e com grande número de terras inóspitas.

O economista Roberto Simonard, do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio), também destaca os desafios da China, principalmente na zona rural. "Eles ainda estão em um processo de pobreza, bastante conhecido de todos. Nos últimos 20 a 30 anos fez o maior processo de inclusão que o mundo já viu mas, como a população é muito grande, ainda tem muito a fazer."

Sobre o alto custo de vida nas cidades chinesas, Simonard destaca que economias com alto grau de intervenção estatal tendem a ter problemas com preços e a enfrentar a inflação. O crescimento da China, no início, foi acompanhado de custos muito baixos, sobretudo na mão de obra, o que manteve a inflação "mais ou menos sob controle". Agora, contudo, com maior número de mão de obra qualificada, a tendência é que os preços comecem a subir também.

"A população chinesa é uma benção por um lado, mas um 'problemão' por outro. Tem mão de obra em abundância, que pode ser treinada e que pode ser muito produtiva. Por outro lado, é muita gente para alimentar, vestir, educar, dar moradia, é um problema. A China pode começar a atingir um ponto minimamente aceitável em pelo menos mais uns 20 anos", aposta Simonard.

Fonte: Jornal do Brasil

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