BRICS pretende criar banco e fundo de reserva em encontro
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- 10/07/14
Durante a sexta cúpula dos Brics, que terá início na próxima segunda-feira, as autoridades do Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, assinarão um acordo para implementar um banco de desenvolvimento e um fundo de reservas que já vêm sendo discutido desde 2012. O anúncio foi feito ontem pelo ministro russo das Finanças, Anton Siluanov.
A Cúpula de Fortaleza, que acontecerá entre os dias 14 e 15 de julho na capital do Ceará, também irá discutir soluções sustentáveis para promover um crescimento inclusivo.
O banco de desenvolvimento a ser criado pelo Brics terá o objetivo de financiar projetos de infraestrutura nos países-membros do agrupamento e, de acordo com o professor do Instituto de Relações Internacionais (IREL) da Universidade de Brasília (UNB), Alcidez Vaz, ainda será decidido se serão apoiadas também iniciativas de outros países em desenvolvimento que não fazem parte da organização. "A iniciativa tem o objetivo de financiar projetos que contribuam para o desenvolvimento dos países-membros dos Brics. É como um banco de reconstrução, no formato do Banco Interamericano de Desenvolvimento, por exemplo", explica Vaz.
Ainda será decidido se o banco terá sede em Xangai, na China, ou em Nova Délhi, na Índia. Já a sua capitalização tem sido um ponto principal de discórdia, mas Siluanov confirmou que o financiamento seria dividido igualmente, com um total inicial de US$ 10 bilhões em dinheiro ao longo de sete anos, e 40 bilhões de dólares em garantias. Os US$ 50 bilhões serão, eventualmente, escalados para US$ 100 bilhões, e o banco será capaz de começar a realizar empréstimos em 2016.
O banco ficará aberto a outros países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), mas a cota do Brics nunca deverá ficar abaixo de 55%, afirmou Siluanov. Já a presidência do Conselho do banco, com um mandato de cinco anos, vai rodar entre os países-membros, e a primeira ainda será decidida.
Fundo de Reserva
Outra iniciativa que será formalizada na próxima cúpula é o Acordo de Reservas de Contingência (CRA), uma espécie de fundo de reservas que tem por objetivo proteger as economias dos Brics das flutuações do mercado. Esse fundo terá um total de US$ 100 bilhões, com US$ 41 bilhões da China, US$ 18 bilhões Índia, Brasil e Rússia e US$ 5 bilhões da África do Sul. A iniciativa do fundo de reservas se tornou mais necessária após um fluxo de dólares baratos ter motivado uma expansão nos Brics por uma década e, então, revertido o caminho e registrado uma grande saída de divisas no último ano.
Opções
O professor da UNB diz que a partir da criação desses instrumentos, os Brics começam a dar concretude a suas propostas e ideias. "Sempre se falou no Brics como um agrupamento com pouca coisa concreta em termos de realização".
Para ele, nesse momento, os Brics começam a dispor de instrumentos próprios. "O que eles estão fazendo, na verdade, é criar opções às instituições internacionais existentes, principalmente àquelas criadas após a Segunda Guerra Mundial. Estamos falando de dois instrumentos alternativos ao Fundo Monetário Internacional, no caso do fundo de reservas dos Brics, e ao Banco Mundial, no caso do banco de fomento. Esses têm o objetivo de atenuar uma eventual dependência", comenta Vaz.
O professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Darlan Moraes, também acredita que a criação dos novos instrumentos pelos Brics é boa e traz independência. Mas que o grupo, agora, tem o desafio da execução, de colocar em prática essas propostas.
"A iniciativa dos BRICS é um passo excelente. No entanto, é importante que não entrave em situações burocráticas ou em falta de entendimentos administrativos", diz o professor se referindo à burocracia brasileira e russa e também ao fato de o Brasil ainda ser "iniciante em seu processo de aprendizado social econômico e financeiro", comenta.
Com essa iniciativa, afirma o professor, é possível "quebrar a dependência" com relação às organizações financeiras dirigidas pelo eixo Estados Unidos-Europa Ocidental. "Ficar independente dessas organizações possibilita uma maior flexibilidade do fluxo de capital" afirma.
Para ele, os Brics têm credenciais para implementar essas medidas, já que, juntos, os países membros representam cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Com China em primeiro lugar, Brasil em segundo, Rússia em terceiro, Índia em quarto e África do Sul em quinto.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria