Rússia pretende manter elevadas importações do agronegócio mas quer diversificar exportações

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A Rússia deverá prosseguir aumentando a importação de produtos agrícolas brasileiros, especialmente de carnes, produtos lácteos e frutas como consequência da decisão tomada em agosto pelo governo russo que suspendeu a compra de carne bovina, suína, aves, peixes e também frutas, legumes e leite e derivados de países da União Europeia, Estados Unidos, Canadá, Noruega e Austrália. A medida foi adotada em retaliação às sanções impostas por estes países à Russia em razão da crise com a Ucrânia.

A afirmação é de Anton Pisarenko, Adido Comercial-Adjunto do Escritório Comercial da Rússia no Brasil, para quem as sanções têm a validade de um e dois anos e "constituem uma grande oportunidade para as empresas brasileiras conquistarem espaços no mercado russo. As importações de produtos brasileiros pela Rússia tiveram um aumento bastante expressivo nos meses de agosto e setembro e essa é uma situação que deve persistir por um bom tempo. Em minha opinião, se as empresas brasileiras conseguirem se estabelecer no mercado russo será quase impossível retirá-las de lá".

Anton Pisarenho ressalta que as medidas adotadas pela Rússia tiveram, num primeiro momento, o objetivo de garantir o abastecimento do mercado interno logo após as sanções decretadas pelos países ocidentais, mas lembrou que a busca de fornecedores alternativos é algo que se estenderá ao longo do tempo: "ninguém faz isso por pouco tempo. É para o futuro". O diplomata russo ressaltou que "a Rússia tem planos de tornar-se autosuficiente na produção de carne de frango e suína, mas isso é algo que demandará muito tempo. A situação da indústria do agronegócio na Rússia é ainda precária e vai demorar muito para alcançar o grau de desenvolvimento que lhe permita atender às nececessidades de seu gigantesco mercado interno. O país vai precisar de importar pelo menos por mais dez anos antes de chegar à autossuficiência na produção de frangos e suíknos. Antes desse prazo a Rússia não retornará aos níveis de produção agricola alcançados pela então União Soviética".

O Adido Comercial-Adjunto considera normal a preocupação expressa recentemente pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Neri Geller, para quem "não é o momento para se manifestar com euforia sobre o aumento das exportações para a Rússia", e que, pelo contrário, "é preciso ver o fato com grande cautela".

Na opinião de Anton Pisarenko, "essa preocupação é natural porque fato semelhante aconteceu no passado, quando a Rússia aumentou de forma significativa a importação de produtos agrícolas brasileiros e depois reduziu essas compras. Só que agora é diferente. Existe o embargo, que não será suspenso em curto prazo, e há também o interesse dos dois países em aumentar o intercâmbio comercial bilateral".

A posição defendida por Anton Pisarenko converge mais para a opinião da Confederação Nacional da Indústria CNA), que considera a Rússia, hoje, um dos mercados que geram mais oportunidades para o agronegócio barsileiro. A CNA destaca que no período de janeiro a julho as exportações de produtos agropecuários para a Rússia cresceram 24,9% em relação ao mesmo período de 2013. E os números se tornaram bem mais expressivos no bimestre agosto-setembro, quando a Rússia aumentou consideravelmente a importação desses produtos brasileiros.

A CNA lembra que cerca de um terço de todos os alimentos consumidos na Rússia são importados, mas a participação brasileira nesse imenso mercado é muito pequena. Em 2013, apenas 7% do total de importações agropecuárias da Rússia foram provenientes do Brasil, gerando uma receita de US$ 2,8 bilhões. Ano passado, a Rússia foi o sexto principal destino externo dos produtos do setor. No primeiro semestre deste ano, passou para o quarto lugar, atrás apenas da China, Estados Unidos e Países Baixos. A expectativa é de que deverá fechar o ano de 2014 numa posição ainda melhor.

O raciocínio vigente na CAN é compartilhado pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que vê com entusiasmo o aumento expressivo nas exportações de carne para a Rússia. Segundo o presidente-executivo da ABPA, Francisco Turra, "Partimos de oito mil toneladas em agosto para cerca de 20 mil toneladas em setembro".

Embargo abre mercado também para frutas

A partir de 7 de agosto passado e pelo prazo de um ano, a Rússia embargou os seguintes produtos alimentícios originários dos Estados Unidos, União Europeia, Austrália, Canadá e Noruega: carne bovina fresca, resfriada ou congelada; carne suína fresca, resfriada ou congelada; carne e subprodutos de frango frescos, refrigerados ou congelados; frutas e castanhas; embutidos e preparações alimentícias à base de carnes, miudezas ou sangue; e produtos lácteos à base de gordura animal ou vegetal.

O embargo significou a suspensão do fornecimento, por aquele grupo de países, de produtos lácteos no valor de US$ 1,9 bilhão, além do equivalente a US$ 1 bilhão em carnes, US$ 1,7 bilhão em frutas e US$ 400 milhões em leguminosas.

Muito se fala sobre o aumento expressivo nas exportações de carnes para Rússia. Não menos promissoras são as possibilidades de um aumento exponencial nas vendas de frutas para o mercado russo. Ano passado, a Rússia consumiu 10,8 milhões de toneladas de frutas e 58,5% desse volume foram importados, sendo 14,8% originários dos países hoje alvo do embargo.

Esses números indicam que os fruticultores do Brasil podem ter a oportunidade de suprir, nos próxmos doze meses, parte da carência do mercado russo, estimada em 1,6 milhão de toneladas do produto. Para se ter uma ideia da dimensão dessa oportunidade que se abre aos fruticultores nacionais, basta lembrar que em 2013 o volume total das exportações de frutas do Brasil totalizou pouco mais de 743 mil toneladas.

Maior equilíbrio no comércio

Durante anos, autoridades brasileiras e russas alimentaram a expectativa de elevar o comércio bilateral ao patamar de US$ 10 bilhões/ano. O ano de 2008 foi aquele em que os dois países mais se aproximaram dessa meta, quando as trocas bilaterais somaram US$ 7,895 bilhões.

Com a crise que afetou toda a economia mundial a partir daquele ano, o comércio bilateral não parou de cair. Ano passado, Brasil e Rússia trocaram mercadorias no valor de US$ 5,650 bilhões. Este ano, o intercâmbio vem crescendo de forma expressiva: de janeiro a agosto as exportações brasileiras tiveram uma expansão de 22,38% para US$ 2,414 bilhão. No mesmo período, as vendas russas aumentaram 12,33% e somaram US$ 1,959 bilhão.

Segundo Anton Pisarenho, "é natural que tenhamos interesse em expandir o comércio bilateral mas igualmente importante é buscar torná-lo mais equilibrado e, sobretudo, mais diversificado. Queremos aumentar as exportações de produtos com maior valor agregado pois atualmente a pauta exportadora da Rússia para o Brasil é composta principamente por fertilizantes, uréia, etc. Aumentar o leque e a qualidade dos produtos exportados resultará, com certeza, no aumento do valor auferido com as exportações".

O diplomata reconhece que exportar produtos industrializados –e especialmente bens de capital- para o Brasil não é tarefa fácil: "o mercado brasileiro é muito bem abastecido desses produtos. Além disso, trazer máquinas para o Brasil é muito caro devido à carga tributária bastante elevada e ao frete que é muito caro. Trazer essas máquinas de um país distante como a Rússia torna o preço desses produtos muito elevados. Ainda assim, a Rússia pretende aumentar e diversificar a pauta exportadora para o Brasil e deixar de exportar quase que essencialmente produtos primários".

Joint ventures

Para o diplomata russo, uma alternativa na busca da inserção de produtos de maior valor agregado na pauta exportadora pode ser a formação de joint ventures envolvendo empresas russas e brasileiras: "as empresas russas poderiam se associar a empresas brasileiras para fabricar seus produtos no Brasil, utilizando componentes russos e brasileiros nesse processo produtivo. Para tanto, precisamos convencer as empresas russas a investirem no Brasil e produzir aqui através de joint ventures".

Anton Pisarenko destaca também o fato de que as empresas brasileiras não têm interesse em investir em seu país: "o empresário brasileiro tem uma visão equivocada da situação em meu país. Desconhece que a Rússia é um país aberto à atração de investimentos, possui um arcabouço juridico consistente e que oferece todas as garantias ao capital estrangeiro. O empresário brasileiro se preocupa com a situação política na Rússia e receia investor no país. Isto pode e deve ser modificado. É muito importante ter alguns exemplos, ter empresas brasileiras de grande porte como a Vale ou a Embraer, se estabelecendo na Rússia. Certamente seriam excelentes exemplos a serem seguidos".

Negócios promissores

Apesar dessas dificuldades, o Adido Comercial-Adjunto do Escritório Comercial da Rússia admite que essa inércia começa a ser quebrada. Ele lembra, por exemplo, que a empresa russa Power Machine, que tem uma subsidiária no Brasil, a Power Machine Brazil, forneceu as turbinas para três ou quatro usinas hidrelétricas brasileiras e que assinou recentemente um memorando de entendimento com o governo de Santa Catarina, que permitirá a instalação de uma fábrica no município catarinense de Caçador para fabricar equipamentos hidrelétricos como turbinas, tubos, bombas e compressores.

Anton Pisarenko igualmente acena com a possibilidade de negócios no setor ferroviário e especialmente na area de TI, principalmente em material de automação bancária. Ele lembra que "possibilidades interessantes estão sendo avaliadas nas áreas de TI e de e-commerce, onde o mercado brasileiro está crescendo acentuadamente. Empresas russas desses setores já estão aqui no Brasil fazendo negócios e prospectando novos nichos de mercado. Da mesma forma, na área espacial, onde a Rússia desfruta de grande prestígio e competitividade, empresas russas trabalham para entrar no mercado brasileiro de lançamentos de satélites para empresas como a Telebrás".

Na opinião do diplomata russo, em todas essas frentes, a Rússia tem um difícil obstáculo a transpor: "o mercado brasileiro tem muito receio em comprar produtos da Rússia. O Brasil é um cliente tradicional dos Estados Unidos e receia perder as condições privilegiadas que lhe são oferecidas pelos americanos. Essa é uma barreira que sabemos existir e que temos consciência de que devemos enfrentar".

Fonte: Comex

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