'El País': O Panamá que não era conhecido no mundo

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"Quem visita o Panamá se surpreende ao ver que un país pequeno, geograficamente ao lado de uma empobrecida América Central e da impenetrável selva colombiana, tenha se transformado num país com maior crescimento econômico; uma média de 8,5% nos últimos 10 anos. Per capita temos o investimento estrangeiro mais alto da América Latina. No Panamá se respira progresso", relata Guillermo A. Cochez, em matéria publicada no jornal espanhol El País.

Cochez, que foi embaixador do país na OEA (Organização dos Estados Americanos) entre 2009 e 2013 continua sua análise: "O Panamá está na lista de cidades do continente americano com mais arranha-céus. Os turistas ficam impressionados com o distrito de Casco Viejo e se apaixonam pelo Canal do Panamá e toda sua história de 100 anos, sendo uma indispensável via interoceânica. Havia aqueles que pensavam que com a saída dos norte-americanos (no dia 31 de dezembro de 1999) o canal não seria mais bem sucedido sob a administração local. Eles se enganaram, porque foram panamenhos os que têm conduzido a caríssima ampliação do canal praticamente com recursos próprios, aumentando produtividade e segurança nas atividades feitas pelo canal. A Copa (Airlines) nos fez o principal centro aéreo das Américas e nosso aeroporto está a ponto de ser um dos maiores da América Latina", diz o artigo.

Mas como diz o refrão popular: "Nem tudo o que reluz é ouro". O Panamá tem 25% de pobres e 10% de pessoas que se encontram na pobreza absoluta e se concentram em sua maioria nas áreas indígenas. Somos um dos países com maior gasto em educação, mas estamos entre os piores em resultados nessa área. Porém o mais grave ainda é que um país com uma curta experiência democrática que data de 1989, nos últimos cinco anos fez um esforço que parecia planejado para destruir sistematicamente a institucionalização democrática, o que afeta sua segurança jurídica e a estabilidade requerida pelo investidor estrangeiro.

A corrupção generalizada que foi estimulada desde as mais altas esferas do país no governo de Ricardo Martinelli, afeta principalmente as classes mais necessitadas que precisam de melhores oportunidades em saúde, habitação, alimentação e infra-estrutura.

A partir da Presidência da República se orquestrou esse plano sistemático para corroer os órgãos de justiça, comprar os deputados no Órgão Legislativo e desenvolver uma espécie de plano-mestre com o objetivo de servir-se das obras públicas e receber altas comissões, conhecidas no Panamá como coimas, enormes super faturamentos e falta de transparência em muitos contratos onde houve participação de empresas estrangeiras tanto do Brasil, Espanha, Itália, Colômbia e Costa Rica. Já há um Magistrado da Corte Suprema de Justiça que se encontra em prisão domiciliar, separado de seu cargo, um alto ex-funcionário preso e mais de vinte antigos colaboradores de Martinelli sob investigação.

Felizmente, na eleição de maio passado, José Domingo Arias, o fantoche usado por Martinelli para perpetuar-se no poder, não ganhou e, em seu lugar, quem obteve o triunfo foi Juan Carlos Varela, do partido do lendário caudillo Arnulfo Arias Madrid. É um engenheiro industrial ligado à Opus Dei, que nos cinco meses no poder, devolveu a esperança aos panamenhos de que a impunidade siga vagando para os funcionários públicos e aqueles que são descobertos em atos de corrupção. Não seria exagerado estimar que o que se perdeu, se roubou ou se desperdiçou durante os cinco anos de Martinelli tenha alcançado a soma de 4 bilhões de dólares.

"Espero que esse Panamá que não é conhecido no exterior apague a imagem de um país que se sujou nos últimos cinco anos. Apesar de Juan Carlos Varela ter vencido a eleição com menos de 40% dos votos, hoje seu índice de popularidade pode estar chegando a 80%, principalmente devido ao fato de ter imposto a si mesmo a tarefa de devolver a fé aos panamenhos de que as coisas no governo podem ser bem feitas e a certeza de que os culpados de tanta corrupção poderão ser presos.

Esse Panamá que é "Pro Mundi Beneficio" que todos querem ver terá o desafio de apresentar novas oportunidades como produto da expansão do Canal, que será concluída em 2015, o incremento das comunicações internacionais e a consolidação como o centro logístico mais importante da América Latina. Esse é o Panamá que todos queremos ver", conclui Cochez.

Fonte: Jornal do Brasil

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