Rússia: agrava-se a já existente evolução econômica negativa

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No decorrer da entrevista coletiva à imprensa que concedeu, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, garantiu que "a economia do país deverá superar os problemas que está enfrentando em um prazo não superior a dois anos".

Embora, Putin não tenha revelado detalhes, certamente dispõe de dados econômicos específicos que garantem esta evolução, embora, com a atual crise globalizada, ninguém pode prever seguramente o tempo que será necessário para sua superação. Assim, torna-se óbvio que, mantidos os atuais parâmetros, a atual crise poderá evoluir em profunda queda sem precedentes.

O Kremlin já havia detectado sinais negativos da evolução econômica do país antes do Ocidente iniciar sua temporada de "castigos", motivados, aparentemente, pelo imbróglio da Ucrânia, quando "alguém" sugeriu aos EUA e à União Européia (UE) que seria mais fácil e discreto abater a economia da Rússia derrubando os preços do petróleo e do gás natural, fontes principais de abastecimento do orçamento estatal do país. Desde os primeiros meses de 2013 a economia da Rússia começou a apresentar sinais de desaceleração, e em abril daquele ano, Genady Ziuganov, presidente do Partido Comunista da Federação da Rússia (KKPO), denunciou que "os ritmos de produção industrial de 8,2% registrados em 2010 despencaram para queda de 2%, evolução que revelava a eclosão de nova crise econômica".

Na ocasião, a nova situação econômica não passou despercebida pelo Kremlin, que a classificou como "preocupante". De fato, no primeiro trimestre de 2012, o Produto Interno Bruto da Rússia aumentou 4,8%, mas já no quarto trimestre do mesmo ano havia desabado 2,1%, enquanto no primeiro trimestre do ano seguinte aumentou para o insignificante índice de 1,1%.

Bumerangue

Indiscutivelmente, as sanções decretadas pelos EUA e pela UE, embora tenham agravado a já negativa situação econômica da Rússia e derrubado a moeda nacional – o rublo, cuja paridade contra o dólar já atingiu 77/1, e 66/1 contra o euro – mas, em algum momento, a UE descobriu que as consequências das sanções que havia decretado contra a Rússia estavam em evolução reversa, atingindo sua própria economia. Assim, decidiu suspender a decretação de novas sanções. Provisoriamente...

Igor Shuvalov, vice-primeiro-ministro da Rússia, declarou-se otimista e acredita que, "conforme o tempo passa, o rublo será valorizado novamente". Já Alexei Kudrin, ex-ministro das Finanças, observou que "a Rússia está em profunda crise econômica", e avaliou que "se o preço do petróleo aumentar em torno de US$ 80 o barril, o PIB será reduzido em duas unidades percentuais no ano seguinte, enquanto, se o preço for mantido em torno de US$ 60 o barril, então a queda do PIB atingirá 4%. Assim, a população da Rússia enfrentará, pela primeira vez desde 1999, um agravamento do nível de vida e queda do rendimento real entre 2% e 5%".

Previsões

A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em seu último relatório, reconhece a evolução negativa da economia russa, e seus dados indicam que neste ano o PIB do país registrará crescimento zero, o desemprego atingirá 5,2%, o déficit do orçamento registrará 0,5%, e a inflação será de 7,7%. Já ano que vem, a OCDE prevê que o PIB russo crescerá 1,6%, o déficit do orçamento será mantido em 0,5%, assim como o desemprego em 5,2%, mas a inflação será reduzida para 6,1%.

Esta situação torna impossível o acesso das empresas russas ao capital ocidental, tanto para investimentos, quanto para empréstimos, isto sem considerar, ainda, que neste ano os bancos comerciais do país deverão pagar US$ 115 bilhões para resgates de empréstimos que contraíram no exterior. Anotem que a dívida externa da Rússia totaliza US$ 377,491 bilhões (35% do PIB), enquanto, a dívida externa do setor privado atinge US$ 353,713 bilhões (dados do Banco Central).

O BC mantém o juro básico em permanente ascensão (agora oscilando em 17%) a fim de apoiar o rublo. Mas o juro alto, embora favoreça o acesso de capital estrangeiro, simultaneamente, inviabiliza o endividamento do setor privado. Contudo, segundo informações oficiais do Kremlin, o país dispõe de reservas cambiais suficientes que poderão financiar o setor privado do país.

Istambul – "O tempo em que um barril de petróleo custava US$ 100 já é passado", declarou mês passado Alí al Naime, ministro de Petróleo da Arábia Saudita e "homem forte" da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Contudo, a probabilidade de confirmação do "oráculo" al Naime, que mantém em agonia os países cuja economia é apoiada sobre as exportações de petróleo, é mínima.

A evolução descendente dos preços do petróleo (e do gás natural) – de US$ 114 o barril para mais ou menos US$ 60 – e, segundo especialistas do mercado spot, neste ano, ainda, (talvez no segundo semestre) o barril de petróleo retomará sua trajetória ascendente pelo aumento de demanda dos Brics, principalmente, a China.

Enquanto o preço do barril de petróleo for mantido baixo, quem faz a festa são os países importadores. Quanto mais volumes de petróleo compram, tanto mais dólares economizam. Quando o barril oscilava em torno de US$ 110, o valor da produção mundial era avaliado em US$ 3,6 trilhões, enquanto, hoje mal atinge US$ 2 trilhões.

Entretanto, segundo avaliações do Fundo Monetário Internacional (FMI), o petróleo barato é um excelente apoio para o desenvolvimento mundial, considerando que, para cada redução de 10% ao seu preço, aumenta o PIB mundial em 0,2%.

Os inimigos do Ocidente

Considera-se que, se o preço do barril de petróleo for mantido baixo por longo tempo, ameaçará a sobrevivência dos países cujo orçamento está apoiado nas arrecadações do petróleo. Os EUA não pertencem a esta categoria de produtores, embora seu próprio petróleo já os liberou das importações. Mas a esta categoria pertencem a Rússia e a Venezuela, ambos atingidos pelas sanções do Ocidente.

O petróleo barato e as sanções – penalidades impostas pelo Ocidente – resultaram no desabamento da moeda russa – o rublo – a qual, a muito custo e muitas vendas de reservas cambiais, consegue, por enquanto, o Kremlin conter, enquanto o presidente Vladimir Putin já preparou a população, alertando-a para "dois anos de crise, da qual, a Rússia vai sair mais forte do que antes".

Enquanto Putin mantém-se otimista, os EUA mostram-se felizes. Bem longe das confusões da UE, na margem oposta do Oceano Atlântico, verificam que a queda de preço do petróleo e as sanções impostas à Rússia pelos empoados líderes europeus trouxeram o resultado desejado. Mas os empoados líderes europeus estão apavorados porque sabem – por experiência própria – o que poderá significar, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de visto político, uma crise russa.

Inicialmente, aquilo que temem os empoados líderes europeus e, principalmente, os alemães – os mais dependentes da Rússia – são as consequências das sanções impostas sobre a própria economia européia. Após o crash da moeda russa, já começaram a temer muito mais: as consequências econômicas de uma derrocada da economia russa, assim como as consequências de uma eventual instabilidade política na Rússia. Tudo é possível, não é?

Fonte: Monitor Mercantil

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