Procura por carne põe vacas na mira do crime na Índia
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- 30/05/13
Quando a noite cai em Nova Déli, quadrilhas percorrem as ruas escuras à procura de presas fáceis entre uma parcela da enorme população de sem-teto da cidade.
Milhares de suas vítimas já foram arrebanhadas e levadas em caminhões nos últimos anos.
São vacas magras, que estão pouco a pouco perdendo o status sagrado perante parcelas da população indiana.
O roubo de gado é um flagelo crescente na capital, na medida em que os indianos, com poder aquisitivo cada vez maior, desenvolvem o gosto por carne, até mesmo a de vacas, vistas como sagradas no hinduísmo.
Criminosos arrebanham algumas das cerca de 40 mil cabeças de gado que perambulam pelas ruas da cidade e as vendem a matadouros ilegais situados em vilarejos não muito distantes. Policiais perseguem os bandidos, mas eles usam caminhões de lixo "envenenados" para bater propositalmente contra as viaturas e abrir caminho.
Em alguns casos, eles empurram as vacas para o meio da rua, obrigando os policiais, horrorizados, a desviarem para evitar o que, para muitos, ainda é visto como pecado grave.
MUDANÇAS
Por trás do roubo de gado percebem-se mudanças profundas na sociedade indiana. O consumo de carne --principalmente de frango-- está se tornando aceitável mesmo entre os hindus.
Hoje a Índia é o maior produtor mundial de laticínios, maior produtor de gado e maior exportador de carne bovina, tendo superado o Brasil no ano passado, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
Boa parte da carne exportada é de búfalo. Mas as autoridades de Andhra Pradesh estimaram recentemente que existam 3.100 matadouros ilegais no Estado, contra apenas seis licenciados.
Uma investigação recente de um jornal descobriu que dezenas de milhares de cabeças de gado são vendidas anualmente para abate num mercado em apenas um dos 64 distritos do Estado.
O consumo de carne entre a população indiana como um todo subiu 14% entre os anos de 2010 e 2012.
Matar vacas é ilegal em boa parte do país, e alguns Estados proíbem a posse de carne de vaca. É muito provável que boa parte da carne bovina ilegal seja vendida como de búfalo. A troca é uma maneira fácil de ocultar um ato tido como condenável.
Mas, às vezes, ela chega a vendedores de carne em Nova Déli cujos números de celulares são repassados de boca em boca, aos cochichos.
É possível encomendar bifes desses vendedores ilegais, em transações que são realizadas como se fossem tráfico de drogas.
Fonte: New York Times