Desânimo de cafeicultores desperta apetite do investidor

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Os preços do produto despencaram 54% nos últimos dois anos. A queda vem sendo tão acentuada que produtores de longa data estão considerando plantar outras culturas, uma iniciativa com que os investidores estão contando para que o excesso de oferta diminua e os preços se recuperem.

O preço do café arábica na bolsa de futuros ICE, dos Estados Unidos, caiu na quarta-feira ao nível mais baixo desde setembro de 2009. Esse preço, que reflete o custo das torrefadoras com o café no atacado, fechou a US$ 1,2275 a libra (0,454 quilo) com queda de 3,9%, a maior queda num dia desde 23 de abril. O preço subiu um pouco ontem, para US$ 1,2370. O preço no varejo teve um declínio menor. O preço de referência do café arábica está se aproximando do custo de produção do Brasil, o maior produtor do mundo, e já caiu abaixo desse nível em outros países, inclusive a Colômbia, dizem produtores.

"É impossível continuar", diz Joaquim Libânio Ferreira Leite, superintendente comercial de mercado externo da maior cooperativa de café do Brasil, a Cooxupé, que é sediada em Guaxupé, MG, e responde por cerca de 10% da produção brasileira.

Leite diz que sua família vem plantando café arábica por sete gerações, mas agora está convertendo parte da terra cultivada em pastagens. "Sem dinheiro, não tem café," diz ele, que prevê que outros membros da cooperativa farão o mesmo.

Os produtores estão cancelando a plantação de novos pés de café e racionando fertilizantes.

"Nenhum produtor consegue ganhar dinheiro com os preços atuais", disse Mark Nucera, presidente da M.A. Nucera, uma consultoria de Atlanta, EUA, que assessora investidores em operações com commodities.

Nucera apostou recentemente que o preço do café arábica vai subir. Ele espera que o mercado comece a se aquecer por volta de outubro.

O tombo nos preços é resultado de dois anos de produção crescente de café no Brasil. Os cafeicultores do país investiram pesado no cultivo à medida que o preço subia, até atingir um máximo de 14 anos, em 2011. Eles ampliaram os cafezais e plantaram variedades de alta produtividade do grão.

Quando os preços baixaram, eles seguraram parte da produção na esperança de empurrar os preços para cima. Mas a recuperação nunca aconteceu. Como resultado, os produtores têm um estoque ainda maior para vender agora que começa a colheita desta safra, que segundo o governo deve bater um novo recorde.

Fain Shaffer, presidente da corretora americana Infinity Trading Group, do Estado do Oregon, comprou há pouco tempo futuros de arábica quando o preço beirava um mínimo de três anos. Ele pretende continuar apostando na alta até julho, quando espera que o mercado atinja o seu mínimo sazonal, no ápice da colheita brasileira.

"[Os produtores brasileiros] estão gastando menos no plantio", disse Shaffer. "Acho que veremos um suprimento menor."

Ele projeta que o preço vai cair para até US$ 1,20 a libra no curto prazo, mas que estarão mais altos daqui a dois ou três meses, à medida que o mercado começa a pensar na próxima safra.

É verdade que também há investidores acreditando que o preço continuará a cair. Bill Collard, investidor e presidente da Futures Management Group, uma corretora da Flórida, apostou que os preços se manterão na descendente, citando os imensos estoques no Brasil e a fraqueza da economia mundial, que poderia inibir o crescimento do consumo. "Vem sendo uma aposta bastante lucrativa", disse ele.

Os preços deste mês "serão vistos pelo setor como um mínimo lendário", disse Shawn Hackett, presidente da Hackett Financial Advisors, que negocia café há quase dez anos.

O preço do café robusta, que tem sabor mais amargo, é mais fácil de cultivar e é usado nos cafés instantâneos, também caiu devido à grande produção do Vietnã, o maior produtor desta variedade. O robusta foi cotado a US$ 1.780 a tonelada na quarta-feira na bolsa NYSE Euronex, o nível mais baixo em 17 meses. O preço caiu ainda mais ontem, para US$ 1.731.

Os países que são grandes produtores estão ajudando os cafeicultores a sobreviver à baixa com subsídios diretos e insumos gratuitos, o que no final pode reduzir a volatilidade dos preços.

Pressionado por associações de produtores e governos estaduais, o governo brasileiro aumentou recentemente o preço mínimo para a saca de 60 quilos pela primeira vez em quatro anos, para R$ 307 (US$ 142), equivalente a US$ 1,0794 por libra.

Analistas dizem que mais financiamento também poderia possibilitar aos agricultores a serem mais criteriosos para vender a produção, o que também poderia aumentar os preços. "Alivia um pouco a pressão e evita uma inundação completa do mercado", disse Kona Haque, diretora de pesquisa agrícola do Macquarie Bank.

Fonte: Valor Econômico

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